Giba e o caso da pensão alimentícia, por Matê da Luz

 

Giba e o caso da pensão alimentícia, por Matê da Luz

“O famoso jogador de vôlei Giba, conhecido dos brasileiros há anos pelas vitórias dentro da quadra, foi alvo de um linchamento virtual acerca do não pagamento da pensão alimentícia para seus filhos com a ex-mulher, a romena Pirv.”

Esta foi a chamada que a enorme maioria da imprensa usou como entrada para um assunto tão sério e recorrente na vida de centenas de milhares de mulheres separadas com filhos. Respirei, pesquisei e, então, concluí que, quase sempre, somos pautadas pelo machismo rotineiro e diário, já que as matérias todas apontam Giba como um super-herói maravilhoso do esporte “sofreu” sendo exposto nas redes sociais e, em segundo plano, noticiam a questão relevante, que deveria ser o não pagamento da pensão.

“Feminismo é chato, as pessoas devem resolver seus problemas particularmente, não precisava tê-lo exposto a tal ponto, ele cometeu apenas um erro, quem nunca?” – sob este holofote, seguimos, nós, as mulheres e mães, nos sentindo impelidas ao silêncio, testando, a cada passo que nos é sabido como direito, os limites da loucura e da razão. Pirv foi questionada sobre o porquê de ter deixado a dívida se acumular e chegar a este ponto; sobre o porquê não entrou somente com o pedido de prisão do jogador, que lhe é de direito mediante as faltas de pagamento e, ainda, chamada de barraqueira por expor o ex companheiro nas redes. Giba também foi pressionado pela opinião pública em seus perfis nas redes, sendo cobrado para que pagasse a pensão ao invés de exibir imagens desfrutando a vida em praias, nas quadras e por aí vai…

O desfecho foi positivo: ele quitou a dívida integralmente, o que levanta a bola para questionamentos mais profundos, repito, vividos rotineira e diariamente por mulheres que têm filhos do ex companheiro: por que não estava pagando em dia? Que direitos têm os homens que se sentem confortáveis em seguir vivendo plenamente sem arcar com custos emocionais, materiais e estruturais aos filhos, exibindo a vida tranquila e próspera em fotos soberanas, enquanto a mulher, ao expor um problema real e consistente, vira a vilã da história?

Acho que o principal questionamento que fica desta passagem gira em torno dos papéis que, subconscientemente, são reforçados para todos e cada um de nós e que, com o feminismo e suas movimentações coletivas, vem tomando corpo. A mulher, ainda que em seu total direito, ainda fica reservada às críticas que consideram que ela “poderia ter feito melhor” (exposto menos, cobrado em silêncio, batalhado somente na justiça) e ao homem fica a liberdade do erro (não sabemos o que realmente aconteceu, vai ver ele está com problemas financeiros, coitado quase foi preso). Esta divisão de categorias é notória na história das sociedades, onde o empoderamento feminino é batalha diária.

É uma luta difícil e que ocorre em diversos aspectos, alguns mais violentos que outros. Denunciar um crime de abuso, por exemplo, pressupõe basicamente que a mulher vai sofrer outros abusos durante o processo: na delegacia, no exame de corpo de delito, no julgamento social, inclusive feito por outras mulheres. Não a toa, muitas vezes escolhemos nos calar e explodir o tema quando já estamos desconectadas de nossa alma internamente, colocando ainda o “perdão pelo desabafo” como assinatura de nossas declarações de dor.

O dia oito está chegando aí e vale lembrar que muito mais do que flores e chocolate em celebração, desejamos que todos e todas coloquem as mãos na consciência e repensem estes modelos padronizados de adjetivar sempre pejorativamente a mulher e enaltecer  o homem, de forma a, se preciso for, analisar indivíduos e suas atitudes, e não mais apenas o gênero. Porque o jogo da vida já não está fácil, já sair perdendo é mais uma desvantagem que enfraquece, entristece e desanima.

 

Mariana A. Nassif

6 Comentários

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  1. A sociedade patriarcal/machista abusa da regra três

    A nossa sociedade patriarcal/machista abusa da regra 3, onde menos vale mais.

    O menos da ex-esposa, exigir do pai o que é devido aos filhos, vale mais do que o abandono dos filhos pelo macho patricarca.

    Valeu, Vinicius, valeu, Toquinho!

  2. Um erro não conserta outro. Dois erros apenas quitam os errantes

    “Feminismo é chato, as pessoas devem resolver seus problemas particularmente, não precisava tê-lo exposto a tal ponto, ele cometeu apenas um erro, quem nunca?”

    Machismo é mais chato ainda. As pessoas erram e devem buscar consertar seus erros e não errar mais. A ex-esposa do Giba cometeu apenas um erro. Quem nunca? Porque a condenamos em vez de perdoá-la, enquanto absolvemos o pai ,em vez de exigir que ele arque com suas responsabilidades paternas?

    1. Fique claro que essa aspa do

      Fique claro que essa aspa do texto é carregada de ironia e réplica do ue anda pela boca do povo, e não minha opinião. Machismo é absurdo, não somente mais chato. 

      1. Já estava tudo claro, Sra. Matê da Luz

        Já estava tudo claro como o sol meridiano, Sra. Matê da Luz.

        E concordo com você: machismo é absurdo.

        Viva as pessoas, independentemente do sexo, da orientação sexual, etc!

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