Indústria do etanol rumo a consolidação

Dayana Aquino

Da Redação ADV

A concentração de empresas indústria de açúcar e álcool, já prevista por analistas e agentes como parte do amadurecimento e da recuperação do setor, tomou fôlego nas primeiras semanas de 2010. As fusões e aquisições na indústria do etanol chamaram atenção por conta da grandiosidade dos negócios. Analistas consideram que a tendência de mega operações deverá se manter ao longo dos próximos anos e ditar novos modelos de atuação das empresas.

Os negócios de incorporações e aquisições, somente neste ano, envolveram a formação da Joint Venture entre a Cosan e a Shell, a compra do Grupo Moema pela Bunge, e união das operações da ETH Bioenergia, empresa do grupo Odebrecht, com a Brenco. Nesta semana, a compra de 50,8% do Grupo Equipav pela indiana Shree Renuka Sugars (SRSL), foi mais uma transação milionária no setor.

A tendência de concentração não é específica da área socroalcooleira, tampouco nova. É a etapa de amadurecimento de uma indústria, onde a consolidação é um movimento normal e esperado após o boom inicial, explica o analista da área de Energia da Ativa Corretora, Ricardo Corrêa.

Corrêa avalia que o movimento está em fase inicial, e foi reforçado pelo problema de caixa que as empresas tiveram no ano no fim de 2008 e no ano passado, por conta da dificuldade de caixa que as usinas encontraram. Com a crise financeira, os bancos fecharam a torneira de empréstimos, levando as empresas a abaixar os seus preços para fazer caixa. Com usinas desvalorizadas, o analista afirma que as aquisições no ano passado poderiam ter sido muito maiores. “Havia usinas a preço de banana”, diz.

A formação de empresas mais fortes e a entrada de grandes grupos vai propiciar uma musculatura financeira mais robusta e o setor mais resistente às oscilações do mercado. Além de mais recursos em caixa, as grandes empresas possuem uma maior estrutura para obter financiamentos mais baixos, reduzindo os seus custos e ampliando a capacidade de investimentos.

Sobre o risco de uma concentração elevada no setor, o diretor executivo da Andrade & Canellas, Silvio Areco, diz que esse movimento é sempre muito vigiado. Com a tendência de mudança do perfil do combustível, se tornando cada vez mais renovável, os órgãos se manterão atentos para evitar monopolização.

De modo geral, o movimento é salutar, na consideração de Areco, e deverá ser muito benéfico. Dentre os pontos positivos, também figura a melhoria da gestão das empresas, com o estabelecimento da governança corporativa e conseqüentes ações socioambientais mais responsáveis.

Por meio de comunicado, o presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (ÚNICA), Marcos Jank, afirmou que está em transito “uma intensificação dessas transações, em função de uma convergência de fatores favoráveis ao etanol brasileiro de cana-de-açúcar”. Somados, esses fatores, na avaliação do executivo, atraem os investiores, pois comprovam a sustentabilidade e o bom desempeno do processo de uso de combustíveis renováveis no Brasil.

Se o apetite dos investidores nacionais e estrangeiros se mantiver, o setor no Brasil deverá receber cifras consideráveis nos próximos anos. Areco concorda que a posição do país no mercado de etanol é privilegiada, e ressalta que dos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é o único que possui uma expressiva extensão de terra agricultável para ampliação da cultura.

Em um primeiro momento, a consolidação deve levar grupos nacionais a adquirir usinas de menor porte, já as empresas internacionais, devem entrar no mercado comprando empresas brasileiras consolidadas, em um movimento contínuo de recuperação e aquisição, prevê Corrêa.

De acordo com a ÚNICA, considerando-se todas as aquisições realizadas em 2010, o percentual do setor sucroenergético brasileiro sob controle de capital externo atinge a marca dos 22%, total ainda muito inferior ao de diversos outros segmentos da economia nacional, inclusive do próprio agronegócio.

Etapas

O movimento de consolidação deverá ir à pegada das majors de energia. “Vai haver uma convergência de setores. Não se falará mais empresa de petróleo, e sim de energia, e o biodiesel também vai fazer parte desse movimento”, considera o analista Ricardo Corrêa.

A associação da Cosan e da Shell é, na avaliação de Corrêa, um exemplo de soma de expertise. Ambas são empresas de energia, sendo uma com tradição em combustíveis fósseis e a outra, na bioenergia. O conhecimento tecnológico deverá ser um dos principais pilares de estruturação da empresa.

Agora é hora das empresas recém formadas se fecharem para organização interna e financeira, avalia Areco. Após essa reestruturação, deve ocorrer um movimento de abertura de capital dessas mega empresas, mas em um segundo momento e com parcimônia. Corrêa considera que por enquanto, além de iniciar o saneamento das contas, as empresas devem aguardar uma maior recuperação das bolsas. A abertura de capital deve ocorrer dentro de dois anos.

Crédito

Níveis maiores de produtividade que devem vir a reboque das associações. Se no ano passado o grande problema das usinas foi conseguir empréstimos, a estrutura financeira mais eficiente das grandes empresas deverá resultar em tomada de crédito mais barato, tanto pelo fato de colher recursos no exterior e de ter mais garantias.

No Brasil, Correa avalia que as linhas de crédito hoje disponíveis aos setor e devem continuar as mesmas, e não há a necessidade de sobrecarregar o setor com linhas de financiamento.

Para não perder espaço, os pequenos grupos, alguns ainda com gestão familiar, devem se profissionalizar. Assim, em termos de crédito e acesso ao mercado, os pequenos não devem ser sufocados pelas futuras majors do etanol, na avaliação de Vinícius de Almeida, especialista em bioenergia da Andrade & Canellas.

O movimento que foi acelerado com a crise financeira, também deixou claro um modelo de atuação das empresas do setor. Segundo Almeida, os grupos firmaram seus negócios com uma alavancagem muito grande, o que se mostrou demasiado com a crise e deixou claro que o processo havia sido concebido com o recurso de terceiros.

Crescimento das expectativas de um mercado externo de etanol, onde o Brasil detém a tecnologia mais eficaz e área apropriada ao cultivo da cana de açúcar, e com o recente aval da Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês), abre-se uma nova oportunidade ao mercado, diz Vinícius de Almeida.

Redação

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