Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Lula, Boulos, angústia e esperança, por Aldo Fornazieri

Foto Claudinei Plaza/DGABC

Lula, Boulos, angústia e esperança

por Aldo Fornazieri

O momento é de angústia porque estamos na véspera de ver um dos dois maiores líderes políticos da história do Brasil, somente ombreado por Getúlio Vargas, na iminência de ser preso. Lula foi condenado, provavelmente, pelo processo mais espantoso, kafkiano, absurdo, arbitrário que se tem conhecimento depois das atrocidades da Justiça Nazista e dos Processos de Moscou. Moro e os desembargadores do TRF4 condenaram Lula por um crime atribuído a ele por eles, os julgadores, pois o ex-presidente não é proprietário do triplex, ele não usufruiu do triplex, o triplex não é de um laranja de Lula, mas é atribuído a ele pela vontade arbitrária dos Freisler e dos Wishinski tupiniquins. Se eles fazem isso sob um suposto Estado Democrático de Direito, o que não fariam num Estado totalitário ou ditatorial.

O caráter doentio e demencial desse julgamento expressa a completa degradação do sistema institucional e constitucional brasileiro, pois o seu guardião último, o Judiciário, está corrompido em duplo sentido: 1) no sentido moral, pela quebra do legalismo; 2) no sentido pecuniário, pelos privilégios inescrupulosos e criminosos que se auto-atribui. Moro, os desembargadores do TRF4 e a presidente do STF, Carmen Lucia, são os principais fatores da depravação do Judiciário. Carmen Lucia, que apunhalou o fundamento republicano-democrático da Constituição para salvar Aécio Neves, agora substituiu o conselheiro noturno (Gilmar Mendes) de um presidente acusado de vários crimes, para tornar-se a sua conselheira diurnal. Ao mesmo tempo, viola os direitos constitucional de Lula, discriminando-o, ao não colocar em julgamento uma questão crucial do direito penal, que divide a Corte. Ela não só apequenou o STF, mas o traiu ao entregar ao Senado prerrogativas que eram dele. Se é bem verdade que os pobres nunca tiveram garantias jurídicas na nossa não-democracia, a exceção, com o golpe e com a depravação do Judiciário, chegou à esfera política, com tribunais de exceção, com juízes persecutórios e com um Supremo que viola a Constituição.

O momento é de angústia porque, se Lula for preso, ficará a mercê desse Judiciário corrompido. O PT pouco ou nada fez depois do dia 24 de janeiro para criar linhas de defesa políticas e sociais a Lula. Não mobilizou a sociedade civil, não criou uma rede de solidariedade ativa, limitando-se ao protesto declaratório. Assim, aqueles que disseram que o Brasil não iria tremer se Lula fosse condenado e preso parece que tinham razão.

O momento é de angústia porque vemos o povo pobre indefeso perante as arbitrariedades e violências crescentes cometidas por um governo falido que se socorre da força armada para mostrar que ainda existe. No Rio de Janeiro assiste-se vários tipos de agressão da força armada contra cidadãos pobres. Na Vila Kennedy viu-se uma covarde ação da prefeitura, apoiada pelas forças de intervenção de Temer, destruindo o ganha pão de centenas de trabalhadores, já sacrificados pela baixa renda e ausência de direitos. Lá estava o povo indefeso e solitário, chorando, porque não havia ninguém que o defendesse. La não estavam vereadores e deputados do PT, do PSol, do PC do B e de outros partidos de esquerda. As esquerdas querem os votos do povo, mas não estão junto do povo. Os parlamentares têm, não só o direito, mas o dever de acompanhar as operações militares nas favelas do Rio para coibir abusos.

Lula e Boulos e a esperança

Lula é do povo pobre e sempre esteve com o povo. Guilherme Boulos é da classe média, mas decidiu fazer-se povo e caminhar junto com o povo. Uma das singularidades que mais os distingue de muitos outros políticos e que os assemelha é a coragem, principalmente para enfrentar adversidades, sejam pessoais ou da luta social. Lula procura sobreviver em meio ao mais tormentoso momento de sua vida. Boulos começa uma jornada que poderá ser profícua se souber navegar em mares revoltos, que lhes apresentam vários desafios.

Há poucas semelhanças entre ambos e muitas diferenças na comparação dos caminhos percorridos por Lula e dos caminhos a percorrer por Boulos. Lula construiu sua liderança no movimento sindical, um movimento massivo e de dimensões nacionais e fundou um partido, uma força política própria, onde foi e é o líder inconteste. Boulos construiu sua liderança num movimento social de base mais restrita – os sem teto – e ingressou num partido já formado que não o comanda incontestavelmente e que não pode contar com sua plena fidelidade. Boulos terá que solucionar esse problema, pois somente os líderes que têm força própria – militar, social, popular, partidária ou congressual – têm chances maiores de triunfarem e de realizar programas reformadores.

Boulos jamais poderá esquecer-se da lição de Maquiavel que escreveu o seguinte, ao tratar desse tema: “… pois, querendo analisar esse assunto, veremos se esses inovadores dependem firmemente de si mesmos ou se dependem de outros; isto é, se para conduzir a sua obra eles precisam de orações ou se têm força. No primeiro caso, os inovadores sempre se dão mal e não conseguem nada; mas, quando dependem de si mesmos e podem forçar, raramente deixam de alcançar êxito”.

De seguida, Maquiavel lembra que os profetas armados venceram e os desarmados fracassaram. Neste mister, Lula fez vários acertos e cometeu  dois erros, quais sejam: 1) não usou de forma suficiente sua imensa força popular quando presidente para forçar um reformismo mais robusto; 2) se aliou a uma força mercenária – o PMDB – equipontente ou maior que a sua – o PT – e isto é um erro, pois, essa força, buscará o poder para si na primeira oportunidade que aparecer. No processo de construção da força própria, muitas vezes é necessário fazer alianças, mas forças aliadas devem ser menores a aquelas que o líder dispõe como forças fiéis suas.  

Quando Lula foi candidato a presidente em 1989  já era um líder nacional e popular. Boulos ainda não o é e terá um árduo trabalho para alcançar este ponto e não poderá cometer erros. O surgimento de líderes como Lula são eventos de difícil ocorrência e dependem de uma série de singularidades históricas. Mas dependem também do seguinte: que a fortuna ofereça a ocasião, o momentum, e que haja alguém com virtù suficiente para percebê-lo a agir para se tornar o líder.

Os momentos críticos, como este que vive o Brasil, são propícios ao aparecimento de novos líderes. O campo progressista tem uma enorme carência de líderes nacionais efetivos ou potenciais. Excetuando Lula, dá para citar três: Ciro Gomes, Fernando Haddad e Boulos. Se Ciro precisa corrigir uma série de defeitos, em boa medida, Haddad tem os mesmos desafios de Boulos, pois o PT não lhe é uma força fiel e própria. Ao resistir a Haddad, em parte, o PT aposta também contra o seu próprio futuro. E se Haddad percebe que o momentum lhe é favorável, precisa entrar em campo e agir.

Em que pese o momento de angústia, há também esperança, num duplo sentido. No sentido de que Boulos possa renovar as esquerdas e construir sua liderança nacional e popular, inclusive, com o incentivo de Lula. E no sentido de que Lula decida resistir até o fim com a sua candidatura, levando ao impasse político se for o caso. Manter a candidatura até as últimas consequências significa confrontar a injustiça que o persegue, significa confrontar o golpe que minou os débeis fundamentos democráticos, significa manter a cabeça do povo erguida contra as elites predatórias que querem perpetuar o estatuto da pobreza e da desigualdade. Manter a candidatura até as últimas consequências é uma demanda da coragem e da dignidade política que o campo progressista precisa afirmar para fazer-se respeitado e temido. Este é o critério elementar da esperança de um futuro melhor.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

 
Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

13 Comentários

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  1. Sem Lula, a eleição na vale!

    A justiça (no caso o STF) deve mostrar as provas e resumir claramente a culpabilidade do Lula. Sem isso, é partir para rua mesmo.

    Lula, o PT, a esquerda e o povo têm seguido as normas jurídicas vigentes, mesmo conscientes de que a sentença é injusta, sem provas e sem crime. Isso é próprio de um povo honesto e ordeiro.

    Mas, quando acabem as instâncias da justiça (STF) aí sim haverá um impasse, o povo não acredita na culpa do Lula e as ruas deverão exigir as “provas” e um resumo consistente da sentencia, caso contrário deverá haver ruptura e desobediência civil. Sem Lula a eleição é fraude e ponto, até eles não demonstrarem a culpabilidade. O judiciário deve ser chamado (exigido) a esclarecer essa sentencia.

  2. Bom panfleto.

    Mas é só isso mesmo, um bom panflteto por quem domina boa parte das variáveis conceituais da narrativa.

    Resta combinar com os russos para emplacar Boulos como “ungido” por Lula.

    Esse é o entrave, esse é o dilema que alguém ontem escreveu aqui nesse blog do Nassif (me perdoe a memória curta).

    Para onde quer que se olhe, o início, o fim e o meio ainda é Lula (tomando por empréstimo os versos de Raulzito), e ainda será por muito tempo.

    Todo o “panfleto” do Aldo se resume a isso: se Lula vai “tocar” um dos três.

    O apetite político de Lula e sua enorme genialidade, associadas a um óbvio instinto de sobreviência (em todos os sentidos), fez com que em 1980 ele reificasse a própria noção de luta pela restauração democrática.

    Se ele foi ou não, mais ou menos, uma aposta dos setores militares para conter outras opções que se colocavam de forma mais radical naquela transição controlada que desejavam é outra História.

    O fato é que o sapo barbudo entendeu o jogo melhor que ninguém.

    Que ele foi muito mais que esse arquétipo (como o articulista cujo nome não me recordo) disse é óbvio:

    Tanto é que a caçada que sofre desde que se tornou uma opção viável de poder é prova inconteste disso.

    Lula é a completa personificação do povo para além da noção esquerdista que temos de “povo”.

    Ele é a heterogeneidade em pessoa, uma polifonia de sons e cores ideológicas, em suma, uma baita confusão, uma “metamorfose ambulante” (outra vez, à benção Raulzito).

    Lula é o povo que não foi às ruas em 2013, nem em 2016, mas insiste em votar no sapo barbudo, até preso!

    É o povo que vota no Lula, e vota no deputado evengélico conservador, que quer Estado-saúde, Estado-educação, Estado-segurança, mas quer pagar pouco imposto, acha que polícia tem que matar vagabundo e que lugar de mulher não é na cozinha, é no trabalho e na cozinha.

    Lula é o povo que fala nas benesses do transporte público, mas sonha e baba pela possibilidade de sentir o cheiro de carro novo!

    É o passeio no Shopping, mas que odeia o pessoal do “rolezinho”.

    É o povo que não é racista, mas assente a matança de 40 a 50 mil pretos por projetis de arma de fogo/ano.

    Lula é a ciência de que a justiça só funciona para rico, mas ainda assim, recorre a ela como instância de luta política ou de defesa de “direitos”, expressa na tão ingênua frase conhecida do jargão policial: “pera aí meu chefe, sou trabalhador”.

    Lula e sua relação com a justiça expressa nossa ambiguidade essencial de nos acharmos previamente inocentes por um lugar que ocupamos.

    Os ricos falam: “sabe com quem está falando?”, enquanto os pobres recorrem à “carteira de trabbalho”.

    Os ricos sabem, mas os pobres ignoram que o alcance dessas (auto)narrativas legitimadoras já estão determinados por questões anteriores de classe!

    O “processo” de Lula é a prova inconteste do que digo: Pobre será culpado ainda que tenha sido presidente! É uma questão de classe, senhores e senhoras!!!!!

    O texto do Aldo tem sérios problemas:

    O primeiro e mais grave: Trata as questões do judiciário como depravações, como exceções ou desvios. Seus vastos instrumentos analíticos não poderiam levá-lo a esse equívoco.

    O judiciário brasileiro funciona (e bem) como deveria funcionar em uma estrutura sócio-econômica como a nossa: Elitista, vertical e seletivo.

    O outro erro é comparar com Kafka o drama de Lula.

    Não é nem drama, porque ele escolheu esse caminho.

    No Processo (de Kafka) o acusado foi jogado dentro dele (do processo), não teve escolhas.

    Lula teve, desde 2006 quando alimentou as bestas-feras com as carcaças políticas de Zé Dirceu e Genoíno (e tantos outros).

    Assim com Getúlio, o pior inimigo de Lula é ele mesmo!

  3. Spoilers de filmes velhos: No

    Spoilers de filmes velhos: No final do filme “Brazil”, dos anos 80, o protagonista entra num delírio quando está sob tortura e sonha com um final feliz. A realidade é outra. No final do filme “Dançando no escuro”, a protagonista  quase cega(Bjork) tem um delíro no momento de sua execução e sonha um final feliz. A realidade é outra.

    Spoiler do nosso futuro: Estamos sonhando com um final feliz para o brazil. A realidade será nos tornaermos um Paraguai, Haiti, ou aum daqueles infelizes países africanos que vivem na miséria. Nossa realidade é nos tornarmos uma espécie de colônia dos EUA como qualquer república de bananas da América Central das primeiras décadas do século 21.

    1. Somos um daqueles países africanos que vivem na miséria

      Ou você acha que a maioria esmagadora dos brasileiros vive num mar de rosas, como os Marinhos, Civitas e Abílios Dinizes da vida, por exemplo?

  4. Numa aula de Administração de

    Numa aula de Administração de Empresas, ouvi de um professor uma informção aparentemente sigela, mas de muito significado para um empresário. O de que a cadeira dele sempre deve estar num nível mais alto do que a dos subordinados.

    Boulos está sendo, por ora, o homem capaz de substituir Lula junto às massas, porque, embora ambos tenham histórias e antecedentes distintos, em comum está a vontade de ampliar os programas sociais, ou de governar para os mais desassistidos. Como homem do povo, que vai aonde ele está, vai fazer a diferença. 

    Ciro Gomes é um político experiente, inteligente, culto, ficha limpa, e teria tudo pra nos governar a contento, não fosse seu modo desastrado de se autodestruir por incoerências, contradições, e deselegâncias, quando atinge pessoas de forma inconsequente. Não precisa ser Paz e Amor, mas fica mal na fita quando agredide por agredir. Deixei de segui-lo ao vê-lo ora dizer que não suportaria ver Lula preso, etc, e depois, numa entrevista, chamar Lula de ladrão, e definir os filhos dele como ladrões. Morre pela boca igual aos peixes.

    Quanto ao PT, tô de acordo, que ele se movia por força de Lula. Sem o esforço, a voz e os conselhos do Líder, quase todos estão como que num barco em naufrágio. A bem da verdade, um tipo como Requião tem sido mil vezes mais eloquente em defesa de Lula que qualquer petista de carteirinha.

    Apesar de tudo, não será mal vermos Ciro Gomes nos palanques, ou frente às televisões, debatendo com Bolsonaro, Alkmin, etc. Ele é bom de debate, e será uma peça importante.

    Mas, ainda há chance de não haver eleições? 

  5. Chapa unica como fator de denuncia

    Professor Aldo o senhor esta correto. O caminho deve ser esse: neste momento todos os partidos ditos de esquerda e progressistas manteriam uma unica chapa: Lula presidente. Eh isso que Ciro, Boulos com PSOL, Requião com o centro, PC do B, PSB e outros deveriam fazer. Essa é a unica atitude digna de todos esses partidos face a tal descalabro do Judiciario, da imprensa e do governo atual no poder. Mas nem isso são capazes. Preferem arrastarem-se aos pés de Moros e afins, do que levantarem a cabeça e levarem à toda a socieadade brasilera o apoio a Lula e a denuncia de o estado de exceção que tomou contra do Brasil. 

  6. Narrativas e simbologias da condenação de Lula

    Narrativas e simbologias da condenação de Lula

     

    Publicado na página do Le Monde Diplomatique 

    I

    O acórdão do TRF-4 que condenou Lula reúne duas narrativas fortes e complementares. De um lado, o retrospecto de eventos criminosos imputados ao réu, tecendo as delações e os indícios materiais em função de um raciocínio preestabelecido. De outro, o programa ético que permitiu à corte ignorar os desvios morais e legais usados na construção dessa retórica e na busca do objetivo prático de impedir a candidatura do petista.

    Os desembargadores ofereceram diversas pistas de que houve uma articulação prévia dos seus votos. Essa sintonia serviu para amarrar a miscelânea de elementos da peça condenatória, harmonizando a denúncia do Ministério Público e a sentença de Sérgio Moro. A ideia era criar uma história coesa, que se afirmasse a partir do efeito de verossimilhança, dando-lhe o maior didatismo possível.

    A obstinação em asseverar a veracidade dos indícios, sem exibir os instrumentos que permitiram atestá-la empiricamente, mostra que a corte estava cônscia dos pontos frágeis do enredo. Por isso lançou mão da teoria do domínio do fato, que, descaracterizada, serviu de equivalente jurídico para as convicções dos promotores.

    Assim nasceu o infame “ato de ofício indeterminado”, excrescência jurídica usada para encaixar o tríplex nas falcatruas da Petrobras. É como se os desembargadores dissessem “não sabemos por que estamos condenando Lula, mas ele sabe que merece”. O raciocínio soando plausível, a conclusão do público vira “nós sabemos que merece”.

    Não deixa de ser curioso que a própria viabilidade prática da trama condenatória tenha exigido uma estripulia malvada. Em mais uma evidência indisfarçável de arranjo no acórdão, as penas coincidiram, todas aumentadas para impedir que o “ato de ofício indeterminado” prescrevesse e para reduzir as chances recursais de Lula.

    Aí entra o imaginário punitivista. “Ninguém está acima da lei”, o jargão repetido pelas cortes, blinda a narrativa do TRF-4 com outra narrativa inquestionável, endossada pelo uso proverbial comum. Direitos viram privilégios. Quem rejeita a condenação de Lula se compromete com a sua inocência e com a impunidade em geral.

    Ambos os enredos compartilham a premissa ética: os respectivos fiadores institucionais conciliam a autoridade enunciativa de um e o espírito punitivista do outro. O rigor naturaliza os arbítrios que legitimam a condenação, que por sua vez reafirma a premissa inflexível do “novo paradigma” da excepcionalidade.

    Na época das mentiras transformadas em “pós-verdades”, era previsível que a condenação de Lula tivesse caráter mais narrativo do que propriamente jurídico. O regime da versão dos fatos é fechado na subjetividade, basta por si, enquanto o regime do factual é aberto ao escrutínio público e à contestação.

    II

    A mencionada articulação dos votos foi uma demonstração de força do TRF-4. Exibindo sua união com o Ministério Público e com Sérgio Moro, aumentando a pena para não perder o controle dos recursos que envolvem provas e fazendo comentários valorativos sobre a administração Lula, os desembargadores assumem postura magnificente, para não dizer confrontativa, diante dos adversários da Lava Jato.

    Esse gesto incorpora uma espécie de mensagem exemplar de superioridade corporativa, não apenas sobre a esfera política, mas principalmente sobre Lula. De tão escancarado, o viés ilegítimo da condenação acaba servindo como sinal de menosprezo, uma descompostura para colocar o réu “no seu lugar”.

    Aqui a injustiça também desempenha papel educativo. O lugar imaginário de Lula e do PT é o daquela plebe vulgar do mundo político que alimenta as estatísticas seletivas da Cruzada Anticorrupção. Algo como o “ato de ofício indeterminado” jamais seria usado contra políticos do PSDB paulista, por exemplo, mas é exatamente essa certeza que realça a insignificância jurídica das vítimas.

    A narrativa já conota vexame: ex-presidente da República condenado por um esquema de corrupção bilionário que lhe rendeu… reformas num apartamento no Guarujá e num sítio em Atibaia. Só pode soar, se não ridículo, indigno para os padrões nacionais de malfeitoria. Nem roubar direito essa gente sabe.

    Confronto, humilhação e rigor confluem no recolhimento do passaporte de Lula e na ameaça da prisão imediata. Atos de provocação, mas também de alerta, que mantêm o petista e sua militância na defensiva, “na linha”, para não serem castigados. Longe da atenção internacional, fora da campanha, baixando o tom das críticas. Sem contestar a narrativa hegemônica da Instituição.

    A arrogância é o tempero dessa performance agressiva: silencia os modestos e puxa os atrevidos para uma briga que eles não conseguiriam vencer. Quanto maior a reação, melhor, mais enfática será a afirmação de poder que a reprimirá. E, caso necessário, aperta-se um pouco mais o torniquete, jogando a culpa nos radicais.

    A mensagem que os jovens assoberbados da Lava Jato transmitem ao país é assustadora. E há um pouco de estratégia na perplexidade que ela provoca, em plena disputa eleitoral, num cenário de polarização e ressentimento. Nesse contexto, a frase “Ninguém está acima da lei” ganha o aspecto de uma premonição macabra.

     

    http://guilhermescalzilli.blogspot.com.br/2018/03/narrativas-e-simbologias-da-condenacao.html

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  7. Decifra-me ou te devoro

    Cada região no mundo vive de acordo com suas peculiaridades. E não existe meio de mudar o passado. O presente é a realidade onde os fatos acontecem.

    Assim por alto podemos ver o mundo em quatro regiões distinta. O Ocidente o Oriente Médio a China e a Russia. Cada região com sua política, fruto dos acontecimentos históricos. Até hoje depois da segunda guerra tentou-se uma hegemonia política que se provou impossível de acontecer, a guerra fria continua e o que importa é a estabilidade da economia em cada região, única maneira dos governantes manterem o Poder.

    A estabilidade econômica em cada região é muito particular e impossível de se contaminar as demais. Daí surgiu a globalização. O sistema político continua regional a economia globalizada. Este é o mundo atual.

    A região mais explosiva politicamente no planeta hoje é o Oriente médio. E porque é assim? Todo o choque ideológico de política ocorrido no mundo, e que de certa maneira foi acentuado pelos movimentos sociais e se encontra em um nível mais elevado de aperfeiçoamento, continua travado no Oriente Médio, os conflitos continuam sendo resolvidos pela violência e a democracia muito pouco conseguiu se estabelecer na região. E pior, os grupos radicais fundamentalistas pretendem universalizar os princípios que os distinguem, no mundo e regionalmente através desta violência, com o conseqüente  crescimento do terrorismo.

    O que predomina na região separando a incipiente democracia e a presença da Arabia Saudita que é uma monarquia absolutista àLuis XIV é um regime político teista que considera quem pensa diferente herege ou infiel.

    A maioria do povo no Oriente Médio não é violento, como não é violento a maioria dos povos no mundo, são os grupos organizados politicamente que impõe a violência na luta fratricida pelo poder. Todo conflito é a tentativa de imposição da ideologia particular de grupos no restante da população, geralmente através da violência e não do debate como no resto do mundo.

    O que vem predominando no mundo ocidental é a democracia ou a democracia capitalista e quem não segue o curso da historia inevitavelmente vai ficando para trás. E nem sempre quem fica para trás aceita isto sem violência, é da natureza humana. Este é o motivo fundamental da região ser tão explosiva e de difícil assimilação de regimes democráticos.

    O que predomina na região são regimes absolutistas, que excluem definitivamente quem não pensa igual retirando todos e quaisquer direitos individuais, muito longe da exclusão social das sociedades democráticas, que existem e se aperfeiçoam baseadas em instituições que auto se fiscalizam e dividem o poder.

    O resultado amiúde no mundo na luta pelo poder, e particularmente no Oriente Médio é o winnertakesall: o ganhador leva tudo. E o que vem equilibrando isto de certa forma no mundo ocidental são as instituições da democracia. No Brasil em particular, antes da lava-a-jato este comportamento estava encracalado nas mais diversas instancias do poder. Mas felizmente para o Brasil, diferentemente no Oriente Médio a adoção da filosofia democrática é muito mais viva e predominante. A desgraça que se abate sobre os indiciados pela lava-a-jato é terem incorporado literalmente que o ganhador leva tudo, procurando levar a máxima vantagem enquanto no poder. E temos hoje a patética cena de ex-governador esperneando para não ser levado para a cadeia.

    No Oriente Médio e em países como Siria e Libano as populações são divididas em grupos e seitas de cunho religioso que tem  medo um do outro, grupos que tem contas históricas a acertar uns com os outros, e muitos casos o ditador de plantão joga um grupo contra os demais e o combustível das lutas étnicas e religiosas não acaba. A desgraça do Oriente Médio vai muito nesta direção, os ânimos, os preconceitos, as violações dos direitos humanos, normalmente controlados pelas instituições no mundo democrático, são sistematicamente violados, de acordo com o ditador de plantão e seus interesses.

    China e as mudanças nos padrões de competitividade

    O processo de desindustrialização agrava-se num momento em que importantes transformações estruturais ocorrem na indústria global. Uma mudança estrutural importante é o deslocamento e fortalecimento da indústria na Ásia e, em especial, na China, que impôs um novo patamar de competitividade advinda das escalas internas e externas de produção e comercialização, dos custos reduzidos de mão-de-obra e do crescente desenvolvimento tecnológico. O resultado tem sido o acirramento da competição internacional com uma expressiva redução dos preços industriais, o que coloca desafios importantes para o desenvolvimento industrial de economias como o Brasil.

    A competitividade advinda das escalas internas e externas de produção e comercialização da China apostou em um primeiro momento em ganhar território e isto aconteceu de forma avassaladora, inundando o mundo com tudo que é bugiganga e levando para o território chinês altos índices de poluição, consequência de uma indústria arcaica e colocada a produzir a toque de caixa.

    Foram bem sucedidos e os tentáculos amarelos cobriram o mundo, estava estabelecido a presença em novos e numerosos territórios, inimaginável até então pela economia ocidental. O resultado tem sido o acirramento da competição internacional com uma expressiva redução dos preços industriais.

     Acontece que tudo o que a China ofereceu em um primeiro momento foi abundância de oferta e preço barato e nenhuma qualidade. Toda ação gera uma reação igual e contraria. O consumidor das bugigangas e dos produtos piratas originados da China, eufóricos inicialmente, passaram a pensar melhor em adquirir estes produtos. Foi ai que a estratégia chinesa deu um novo passo, como o novo território estava conquistado, bastava agora investir maciçamente em inovação e tecnologia, é o que vem sendo feito na busca de perpetuar o avanço conseguido.

     O grau de industrialização da China é o mais elevado entre as principais economias industrializadas. A relação entre o valor agregado manufatureiro (VAM) e o PIB foi de 32% em 2015 contra 23% em 1990. Assim como a Coreia do Sul, a China apresentou um indicador de grau de industrialização (IGI) crescente no período 1990–2015. Isto significa que o produto industrial tem apresentado um maior dinamismo que o restante da economia.

    A China esta em um momento crucial para seu propalado desenvolvimento. Daqui pra frente é que estará realmente situada em uma economia dependente da competitividade, o que fizeram até aqui foi inundar o mundo com bugigangas, muito diferente da Coreia do Sul que tem em sua prosperidade a consequência da inclusão de sua população num cenário de alta qualificação educacional e uma indústria de alta competitividade e tecnologia internacional.

    A China para manter o território conquistado tem que provar para o consumidor que seus produtos tem qualidade, a China ainda não tem credibilidade ou marca de qualidade. Este sera seu desafio.

    Enfim, a China é uma cultura milenar, com mais de 1bilhão e 300milhões de pessoas. A bem da verdade a China é como se fosse outro planeta Terra, com suas particularidades e distinção muito própria.

    A Russia atual é a herança da revolução bolchevique que destituiu a monarquia e aniquilou a família imperial.  Os revolucionários aboliram a monarquia e implantaram um regime de governo baseado em ideias socialistas. Na Rússia, durante o século XIX, a falta de liberdade era quase absoluta. No meio rural, os camponeses viviam submetidos à nobreza latifundiária, classe social teoricamente livre, porém que vivia subjugada pelo czar (imperador).

    No campo reinava uma forte tensão social com a permanência de um sistema de produção feudal, que retardava a modernidade do país.

    As reformas promovidas pelo czar Alexandre II (1855-1881) com a abolição da servidão em 1861, e a reforma agrária, pouco adiantaram para aliviar as tensões.

    O regime czarista reprimia todo tipo de oposição. A Ochrama, polícia política, controlava o ensino secundário, as universidades, a imprensa e os tribunais.

    Milhares de pessoas eram enviadas ao exílio na Sibéria condenadas por crimes políticos. Capitalistas e latifundiários mantinham o domínio sobre os trabalhadores urbanos e rurais.

    No governo do czar Nicolau II (1894-1917), a Rússia acelerou seu processo de industrialização aliada ao capital estrangeiro. Os operários concentraram-se em grandes centros industriais como Moscou e Petrogrado.

    Apesar disso, as condições de vida pioraram, com a fome, o desemprego e a diminuição dos salários. A burguesia também não era beneficiada, pois o capital estava concentrado nas mãos de banqueiros e grandes empresários. (Interessante coincidência com o Brasil)

    A oposição ao governo crescia. Os partidos perseguidos iam para a clandestinidade, como o Partido Social Democrata. Seus líderes, Plekhanov e Lênin, tinham que viver fora da Rússia para fugir das perseguições políticas.

    Hoje, Vladimir Vladimirovitch Putin  (Leningrado, 7 de outubro de 1952), é o atual presidente da Rússia, além de ex-agente do KGB no departamento exterior e chefe dos serviços secretos soviético e russo, KGB e FSB, respectivamente. Putin exerceu a presidência entre 2000 e 2008, além de ter sido primeiro-ministro em duas oportunidades, a primeira entre 1999 e 2000, e a segunda entre 2008 e 2012.

    Putin tem governado a Rússia desde a renúncia de Boris Iéltsin, em 1999. Seu primeiro governo foi marcado por profundas reformas políticas e econômicas, pelo estadismo, por novas tensões com os Estados Unidos e Europa Ocidental, pela rigidez com os rebeldes chechenos e pelo resgate do nacionalismo russo, atitudes que lembram em parte o regime soviético e o czarismo.

    Entre os eventos mais notáveis de seu governo, estão o decreto que permite a indicação dos governadores dos distritos russos pelo próprio presidente, a restauração do controle russo sobre a república separatista da Chechênia, os assassinatos não esclarecidos de seus opositores políticos Anna Politkovskaia e Alexander Litvinenko, o fim do colapso econômico russo, a estatização de setores estratégicos que até então estavam nas mãos dos oligarcas russos e as consequentes prisões de muitos deles e vários desacordos diplomáticos com a OTAN, sendo os mais memoráveis deles a discussão quanto ao estabelecimento de mísseis no Leste Europeu, que levou Putin a criticar publicamente a política internacional norte-americana,[11] e o apoio russo aos separatistas na Ucrânia, após este país ter se alinhado à Aliança Atlântica.

    O Ocidente vem conseguindo certa hegemonia depois da revolução industrial, da 1ª e 2º grande guerra. O maior PIB do mundo concentra-se nesta região. A Democracia Capitalista desta região constitui o regime político que dita a norma de vida das populações. Nesta e nas demais regiões é vital para os governantes conseguirem a estabilidade econômica que gera prosperidade e acesso aos bens de consumo. O que importa as pessoas no mundo contemporâneo é a capacidade de permanecerem com acesso aos produtos produzidos pela industria, disponibilidade aos serviços e conectados a tecnologia. Conseqüentemente uma nova ideologia vem sendo implantada na mente das pessoas.

    Aqui no Brasil ventos tempestuosos vem estabelecendo novo comportamento dos governantes com os governados. A forma de governar da elite distanciada da população vem sucumbido gradativamente, desde que a tecnologia da comunicação estabeleceu novo paradigma de comportamento nas massas. Não existe volta. E pretender que isto ocorra inevitavelmente levara de roldão e para o fracasso aquele que tentar.

    Tentar reverter a atual posição do que foi estabelecido pelo STF em relação ao cumprimento das penas é temerário para quem tentar e forte fator de instabilidade para a sociedade brasileira. O mundo procura e necessita de estabilidade econômica e o Brasil se insistir em reverter tal situação, mais uma vez estará caminhando na contra mão da história mundial.

    Quando os ventos se mostram desfavoráveis o mais adequado é esquecer o passado e rapidamente adotar nova estratégia. Este negocio de imputar aos ventos desfavoraveis a culpa por todos infortúnios não levara a lugar algum, não resolvera com a dramática situação.

    O melhor caminho para a presa é a fuga eficaz.

    1. O presente é a realidade onde o passado se reproduz

      E eu, tal qual os Barões Vermelhos, vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades.

      1. .

        o que passou passou… querer defender o lula com a mesma tatica do passado pouca chance tem de sucesso. hoje a sociedade esta muito mais participativa e conectada com os fatos do presente.

        Cada região do mundo possui caracteristicas proprias o putin manda matar os inimigos a china proibe a livre expressão do pensamento o Brasil vive um presente eterno…

  8. O presente é a realidade onde os fatos acontecem?

    Como assim, Libertino?

    Não sabias que:

    “Na sociedade burguesa o trabalho vivo é apenas um meio para multiplicar o trabalho acumulado. Na sociedade comunista o trabalho acumulado é apenas um meio para ampliar, enriquecer, promover o processo da vida dos operários.

    Na sociedade burguesa, portanto, o passado domina o presente, na comunista o presente dominará o passado. Na sociedade burguesa o capital é autónomo e pessoal, ao passo que o indivíduo activo não é autónomo nem pessoal”?

     

    Marx e Engels escreveram o trecho acima transcrito no Manifesto Comunista

  9. Desculpe,Aldo Fornazieri mas
    Desculpe,Aldo Fornazieri mas dizer que Ciro é um líder, é um pouco demais para um sociólogo. Ciro não tem nada de líder, não passa segurança, nem sabe se comunicar, ao contrário quando fala parece um falastrão. Ciro transmite instabilidade, insegurança, falsidade, oportunismo e grosseria. Ciro é um político que não tem nada de carismático, está distante do povo e nem pensa no povo. Vai entender, como pessoas informadas e politizadas podem acreditar no político com Ciro Gomes.

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