Lula Fora – do golpe puro ao golpe mesmo.

Sentindo que a violência não dobraria o operário, um dia tentou o patrão dobrá-lo de modo vário.

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Algumas reflexões e muita elucubração sobre os desdobramento do 4 de março de 2016.

Aos poucos vai se consolidando a conclusão de que Moro tentou um golpe de mão contra Lula. Pretendia realmente transferi-lo preso para Curitiba com direito a toda pompa e circunstância que o evento exigia, inclusive com comunicação antecipada a convidados especiais.

Se não obteve sucesso em seu intento, é porque teria sido desautorizado por agente de força maior. Imagino que somente o STF teria essa força. E um indicativo disso são as manifestações do Ministro Marco Aurélio de Mello – duras admoestações públicas.

Temia o STF conflitos de rua, ou somente Moro agiu voluntariosamente sem obter o “nihil obstat”, arrotando uma autonomia que não tinha? Talvez nunca saibamos, mas Moro, neste instante, é menor que Lula.

“delenda est Lula” não acabou, essa é outra conclusão bastante consolidada. Porém, a estratégia muito provavelmente será outra que uma ação policialesca.

Começa-se a desenhar um movimento para inabilitar Lula através de uma ação por improbidade administrativa. Abre-se mão momentaneamente de camburão, das algemas e do “Japonês”, mas se cassa os direitos políticos de Lula utilizando-se a Lei da Ficha Limpa.

Julgamento burocrático em apenas duas instâncias, como já era antes, sem interferências, inclusive, das novas decisões do STF. Com tudo segundo as regras e sem pirotecnia haveria menos possibilidade de botar povo na rua.

Não é em outro sentido o artigo do professor Luis Nassif – ”Os foguetes políticos que faltam ser disparados”.

Basicamente, pondera Nassif:

“Se conseguirem anular Lula, a oposição não leva. Sem o risco de Lula em 2018, a tendência será uma dose de bom senso amparando o governo Dilma Rousseff, do mesmo modo que aconteceu com Itamar Franco no impeachment de Fernando Collor”.

O professor Luis Nassif é um analista político arguto e muito bem informado, deve estar certo, embora não eu possa avaliar quanto há de “wishful thinking” na sua análise. Isso porque vejo alguns complicadores em relação ao tempo político dessa solução.

Claro está que o que se imagina neste texto, deste ponto em diante, pressupõe que a decisão de cassar Lula já tenha o aval do STF. Como sendo o custo de pacificar-se o país. Sem esse aval, depois de 04 de março, pouco adiantaria qualquer ação de Moro ou outra ação qualquer.

Cassado Lula, daí para frente tudo teria de ocorrer muito rapidamente e não para 2018.

Isso porque Lula é Lula e ele reagirá. Como Dilma conviverá com o PT e seus aliados sem apoiar Lula na sua luta? Como conviverá com os 37% de brasileiros que consideram Lula o melhor presidente do Brasil de todos os tempos? Como conviverá com a intelectualidade e parte da classe média que não se idiotiza acreditando que Lula é a encarnação do mal, responsável pelas frustrações do país dos últimos 500 anos? O fantasma Lula rondando o país até 2018.

Dois anos e meio é tempo demais.

Tudo deverá ocorrer até outubro deste ano. Para criar-se um fato consumado.

Como ensina Maquiavel, o mal deve ser feito de uma única vez. E durar o menor tempo possível.

Há, porém, uma questão “sine qua non”.

Cunha fora da presidência da Câmara de modo a sair da linha sucessória.  Se o plano prevê desenlace até outubro, Cunha poderá até manter o mandato, mas não poderá estar na presidência da Câmara dos Deputados.

Eleição de um “ético” para presidir a Câmara.

TSE cassa a chapa Dilma-Temer.

O “ético” assume por 90 dias e são convocadas eleições coincidentes para todos os cargos, de vereador a presidente em outubro de 2016. Voto popular, o país pacificado, novo presidente eleito. Lula fora sem apelação.

A solução do impeachment não faz sentido. Temer na presidência podendo se reeleger não interessa a ninguém com pretensões a 2018. E eles são muitos e poderosos. Um acordo com Temer para aceitar um mandato do tipo “Itamar Franco” é impensável. Uma vez empossado, seu grupo no poder o impeliria a reeleger-se. Temer é um fraco, não teria forças para manter um acordo e é também um vaidoso. Simples assim: Temer não é confiável.

Agora veremos se querem pacificar o país com um “golpe puro” ou se é só golpe mesmo.

O golpe puro.

No golpe puro, Aécio também seria inabilitado. Motivos justos não faltam. Falta é tempo.

Ou seja, ninguém levaria vantagem. Lula fora, Dilma fora, Temer fora e Aécio fora.

Ódios arrefecidos e o país pacificado.

No golpe puro, deverá ser eleito um “presidente tampão”. Ou seja, o “presidente tampão” não poderá se reeleger. O TSE terá de inovar e o STF concordar. Nada difícil, de há muito que a letra da Constituição diz o que o momento político quer que ela diga.

Sem a possibilidade de reeleição, os planos de Alckmin são mais fáceis de serem acomodados.

Caberá a Marina e Serra decidirem se querem um mandato de dois anos concorrendo um contra o outro, ou um com possibilidade de oito anos, mas concorrendo com Alckmin e com todos os demais. Se bem que quem acredita que, uma vez eleitos, não tentariam mudar as decisões acredita em qualquer coisa. Porém, não existem soluções perfeitas.

Golpe, golpe mesmo.

No golpe mesmo há duas variáveis para se conflagrar o país.

O TSE cassa Dilma e Temer e empossa Aécio, o segundo colocado das eleições de 2014.

Imediatamente o país entra em convulsão. Aécio tem um passado que o inviabiliza. Aeroportos nas terras de parentes, lista de Furnas e por aí vai. A Lava Jato apenas mudaria de alvo.

O TSE cassa Dilma e Temer, mas não empossa Aécio.

Convocadas novas eleições sem Lula, mas com Aécio o PSDB racha. O que estamos assistindo em São Paulo será café pequeno.

Inviabilizados PT e PSDB, Marina se elege. Com direito à reeleição e sem partido para dar apoio, começa a ser derrubada no dia seguinte da eleição, não aguardam nem a posse.

Há uma terceira possibilidade de altos custo e risco.

Janot abre a caixa de ferramentas e dispara denúncias seletivas inviabilizando figurinhas carimbadas do Congresso, Renan e Jucá, por exemplo. O STF os torna réus. No início de 2017, cassam Dilma e Temer e o Congresso elege um dos seus integrantes para ser o presidente tampão.

O custo é a economia destroçada em 2016.

Os riscos.

No Congresso restarão ainda os “300 picaretas com anel de doutor”. Um deles será presidente da república até 2018. E nas ruas estará Lula buscando seus direitos políticos.

Talvez, por fim, aprendamos que a democracia é o pior regime de governo, tirando todos os outros.

Tivessem deixado Dilma governar, Lula não se candidataria em 2018 porque nada teria a ganhar e muito a perder. O PT teria cumprido seu ciclo de governo e o povo decidiria quem seria o novo presidente.

Eis o custo da aventura golpista.

E a Lava Jato?

Tivesse a Lava Jato se encerrado quando deu os nomes aos bois, quando prendeu os que, na Petrobras, receberam, os que pagaram e os que intermediaram. Quando entregou ao PGR, uma lista com nome de mais de cinquenta políticos envolvido, para que este daí prosseguisse. Teria cumprido sua missão heroica e saneadora.

Mas, não, tornaram-se os purgadores gerais da República com a missão de prender quinhentos para ao fim prender Lula.  E Janot foi segurar aquela cartolina – “Aécio, você é a esperança do Brasil”, deu no que deu: do golpe puro ao golpe mesmo.

E, entre o golpe puro e o golpe mesmo não há nada que preste.

 

PS1: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”. Mateus 5.11-12

“Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”. Palavras do Senhor Jesus Cristo

Deixo para que Dom Darci escolha qualquer uma das bem-aventuranças acima para sua próxima homilia ou ato de contrição.

PS2: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia apoia o Movimento Golpe Nunca Mais.

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Redação

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