O descarrego do ódio nos comentários da internet

Jornal GGN – Pesquisadores da área da psicologia afirmam que a caixa de comentários de sites e portais serve como uma válvula de escape, uma espécie de “descarrego do ódio”. “Se a emoção é forte, eu descarrego um caminhão de sentimentos nos comentários”, diz Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisa em Psicologia em Informática da PUC-SP. Para o psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg,  “a lógica binária da internet estimula a visão maniqueísta do mundo”, e não há espaços para sutlizas no mundo online.

Enviado por anarquista sério

Do UOL

Comentários na internet são “descarrego de ódio”, dizem psicólogos

Rodrigo Bertolotto

Se você busca debates sadios, opiniões ponderadas e críticas construtivas, não entre nos comentários de notícias e posts na internet. Os itens acima são coisa rara no meio do mais puro “ódio.com”.

“É um canal de escape emocional 24 horas no ar. Se a emoção é forte, eu descarrego um caminhão de sentimentos nos comentários”, afirma Andréa Jotta, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Psicologia em Informática da PUC-SP. “O problema é que a internet deixa aquilo eterno. Você pode mudar de opinião, mas aquilo fica registrado e pode te prejudicar no futuro”, completa.

Dez anos atrás se popularizou o conceito de “Web 2.0”, e os sites noticiosos abriram espaço para os internautas opinarem sobre as reportagens. A ideia original era tornar os portais de notícia “uma rua de mão dupla”. Na prática, o espaço virou um congestionamento de palavrões, ameaças e preconceitos.   

“A tecnologia da internet fez explodir a demanda social da catarse. As opiniões são sempre radicais, explosivas”, opina o psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg. “A lógica binária da internet estimula a visão maniqueísta do mundo: ou você é contra ou a favor. A sutileza não é o traço essencial da internet”, argumenta.

A interatividade acabou gerando duas crias indesejadas: os “trolls” e os “haters”. O primeiro é um polemista que se diverte com a repercussão de suas “trolladas”, gíria para opiniões descabidas e zombeteiras só publicadas para gerar revolta nos outros internautas.

Já os “haters” são acusadores que distribuem sua fúria contra times, partidos, religiões, raças, gêneros, opções sexuais, gostos musicais e o que tiver em pauta.

 “O internauta gostaria de falar tudo aquilo para o chefe ou para a mulher ou para o vizinho. Mas isso implicaria em reações que ele não suportaria. O botão de comentário é um remédio que dá alívio imediato. Você pode se alterar, desligar o computador e voltar para sua vida. Claro, sem resolver seu problema pessoal”, explica a psicanalista Sônia Pires.

Os comentaristas típicos

Em sites de notícias, menos de 1% dos leitores comentam. Essa estatística, somada à baixa qualidade dos comentários, fizeram sites como o da agência de notícias Reuters e do portal econômico Bloomberg Business decidissem eliminar suas áreas de comentários.

Num primeiro momento, tanta intolerância nos comentários obrigou os portais a criar a função de “moderador de comentários”, profissional que separava as opiniões publicáveis das impublicáveis. Afinal, modos e moderação são o que menos se encontra nessas opiniões.

Por outro lado, vários grupos políticos e econômicos adotaram a estratégia de arregimentar pessoas (pagas ou voluntárias) para multiplicar opiniões favoráveis a seus interesses e contrárias a de seus adversários. Além disso, surgiram softwares (“robôs”, no jargão digital) para multiplicar ainda mais a interatividade a favor dos manipuladores.

Nos vídeos desta reportagem, aparecem vários “tipos psicológicos” que são figurinhas fáceis na área de comentários. Um deles é o adepto da “teoria da conspiração”, sempre vendo complôs e planos secretos por trás dos fatos descritos nas notícias.

Outro perfil constante é leitor “hipercrítico” que reclama do jornalista, do portal, da reportagem, dos entrevistados e dos outros comentários, se lamenta do “tempo perdido” e promete “encerrar sua assinatura” do serviço.

Um estilo muito comum é o “justiceiro”, distribuindo ameaças em seus posts e advogando mais repressão para combater a criminalidade. Eles se multiplicam em reportagens policiais ou quando há alguma mudança nas leis sendo analisada pelo Congresso Nacional.  

Não faltam também os comentaristas portadores do chamado “complexo de vira-lata”, termo criado pelo escritor Nelson Rodrigues para mostrar o sentimento de inferioridade dos brasileiros em relação às outras nações. Muitas opiniões postadas execram o povo e o país para elogiar países mais desenvolvidos, principalmente os EUA.

As paixões clubísticas, partidárias e religiosas também invadem os comentários, com provocações, xingamentos, boatos e difamações. Ultimamente, a crise econômica e política faz o PT ser o alvo preferido. Mas evangélicos, umbandistas, tucanos, peemedebistas, corintianos e flamenguistas costumam ser frequentadores desse posto.

O problema principal é que o debate fora da internet segue também essas regras. As discussões logo descambam para a ofensa pessoal, o descrédito do interlocutor e o rebaixamento do conteúdo. Hoje em dia, há mais polemistas que debatedores, e dar opinião virou parte da indústria do entretenimento.

Redação

14 Comentários

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  1. Estou tão feliz…

    !gente, estou taõ feliz! olha a vida!

    Olha a vida!Ele representa a nossa juventude http://josecarloslima.blogspot.com.br/2015/08/olha-vida_50.html P.S.- a corrente transmisssora do ódio é quem tem o poder de verbalizar ou colocar palavras na tua boca ou seja: Folhas, globos, vejas e estadões….no entanto vencemos o Reino da Deação que, é claro, pode até cantar vitória por um breve momento mas, no final da história que, pode ser logo, podem ser todos enfiados num lago de enxofre… Estou tão feliz.. Gente, estou tão feliz…

  2. O espaço da covardia

    A internet virou o reino dos frustados, dos egomaníacos, fracassados, mal amados e principalmente covardes, pois nunca falariam tais coisas em público. Muita gente precisava mais de um psicológo do que de um teclado. Tenho abandonado muitas comunidades por conta dessa total falta de temperança, educação, respeito e urbanidade.

  3. A “sinceridade” dos hipócritas

    Quem são os fundadores do UOL? Por acaso os que controlam esse portal têm alguma ligação com os grupos Abril e Folhas? E qual é o jornal paulista, de circulação nacional, que mantém na capa uma chamada constante incentivando o golpe de Estado (o impedimento do mandato da presidente Dilma) e comentários agressivos contra o governo federal, a presidente da república e o PT? Qual o jornal paulista tem como colunista um “jornalista” conhecido por pitbull ou hotweiler amoroso? Qual jornal oferece palanque ao candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais?

    Ante os fatos expostos acima, o que o “anarquista sério”, que postou este artigo, o autor e os leitores atentos têm a dizer sobre a sinceridade da crítica feita aos comentadores que destilam ódio e preconceito na internet?

  4. Minha percepção é que o ódio

    Minha percepção é que o ódio descarregado na internet foi carregado na mesma internet, antes de ser descarregado em outro ponto da web.

     

  5. O problema do descarrego é o

    O problema do descarrego é o complexo. No caso dos coxinhas, o complexo dual vitorioso/vira-lata (vitorioso no Brasil e vira-lata na Europa/EUA) se manifesta de maneira extremamente virulenta neste momento. Eles perderam a eleição e o complexo de vitorioso murchou, mas não poderia murchar sem afetar sua auto-imagem e reduzir sua auto-estima.

    A derrota é é um fato da vida política, mas para o coxinha ela é inaceitável porque o obriga a descartar aquilo que ele julga ser a porção mais feliz do seu complexo. Em razão da derrota eles não conseguem mais se olhar no espelho. Quebrar a imagem do “outro”, feliz por causa da vitória justa obtida nas urnas, é uma maneira paradoxal de destruir o espelho e a derrota.

    Neste caso, a agressão voltada para fora é apenas um sintoma. O verdadeiro mal é a agressão introjetada pela predominância avassaladora do complexo de vira-lata. 

    No dia que um coxinha finalmente conseguir dizer “sou um bem sucedido caso de derrotas” ele se tornará mais feliz e, inclusive, apto para ganhar uma eleição. Duvido muito que muitos deles consigam realizar esta imensa revolução interior. É bem mais fácil destruir o país em nome do falso moralismo. 

  6. Descarrego do ódio eu não

    Descarrego do ódio eu não sei, mas que serve para desabafo frente a situações que nós, que não temos poder nenhum de intervir, lá isso serve. É Dilma inerte, é Lava Jato que só prende petista e preserva psdebista, é o infame Cunha. Vamos desabafar.

  7. Geralmente quando, por

    Geralmente quando, por exemplo, leio um post sobre o Gilmar, xingo tudo que tenho que xingar sem escrever. As vezes em voz alta até, porque o dito cujo é dose, e ninguém tem sangue de barata. Depois já “desgarregado” até nem comento, pois a figura em questão é sem comentários.

    Agora, justiça seja feita, aqui nos comentários do Nassif não é assim como descrito pelo artigo não. Claro que tem troll e hater. Mas são minoria, tem muitos comentários cujo enfoque é a argumentação embasada, claro que sempre tomando um partido. E nem sempre a crítica contundente é desqualificar o opositor.

    PS: O comentarista que sugeriu o post com certeza veste a carupça. Embora seja bem humorado, infelzimente não contribui nas discussões. Só manda clichês que eles pesca no pig, descambando para a trollagem pura e simples. Mas não é nada pessoal, o sujeito deve ser super gente boa

  8. Anarquista,

    não esqueça que existem os provocadores gratuitos, que o fazem pelo simples prazer de ver o circo pegar fogo. Temos diariamente vários exemplos por aqui no Blog do Nassif. Sou da ala dos que pensam que devemos nos policiar constantemente para não cairmos nesta tentação de responder ao ódio com ódio. Mesmo que às vezes a tentação seja muito grande.

    1. por isso, já sugeri mil vezes Regulamentação desta Mídia

      mas nunca foi aceita, ou entendem como censura. A autoregulamentação bate de frente com as limitações humanas, com os muitas vezes inconscientes simancóis, agressividades. Apostar na autoregulamentação é uma crendice. E não quero me policiar, quero regras claras e eventuais punições (em escala) a quem não as seguir. Mesmo que eu seja dos primeiros. Todos temos o médico e o monstro. Até (como eu??…) apóia o texto e se passa por bonzinho, mas noutras ocasiões se revela, se manifesta com altíssima agressividade e preconceitos.

    2. Se

      O cadastro fosse obrigatório, incluindo no cadastro, pelo menos nome COMPLETO, melhoraria muito. Que se use nome fantasia na publicação. Mas no cadastro, como o que tem aqui no blog, conste o nome completo. Vou usar como exemplo o seu caso: Quem é Roberto Monteiro? A conversa fica desigual, você clica no meu nome, e é direcionado para a minha página no blog, onde consta meu nome, cidade e todos os meus comentários, dos mais de dez anos que estou aqui. Certo? O anonimato que é vedado pela constituição deveria valer também para a internet. Já melhoraria em muito o nível do ambiente virtual.

      1. Galvão, não há anominato pro GGN e Equipe.

        E qq criança esperta pode descobrir até nosso telefone. Uso nickname, mas pensei em Login ou Username. E, também, não se pode saber, do jeito que vc fala, se o nome compelto é verdadeiro ou um outro nick, se é homem, mulher, etc. (Eu mesmo já pus por aqui publicamente meus dados completos). Pra mim os melhores comentaristas são os que … jamais comentam, ou os vários que encherram o saco e foram embora porque há muita bobagem (e esta pode ser uma bobagem minha).

  9. Essa reportagem é fajuta,

    Essa reportagem é fajuta, assim como os psicólogos e tudo mais nela. A mídia está criando esses monstros, simplesmente porque é beneficiada com o aumento dos cliques que eles recebem. Os indivíduos desequilibrados ou profissionais estão apenas ecoando um aspecto que é a amplitude enormemente maior de um comentário negativo do que de um positivo. Os próprios meios de comunicação já descobriram isso e criam manchetes apelativas o tempo todo para atraírem cliques e polemismos vazios.  Ou seja, se alguém fala mal vem um monte de baba-ovo explicar que não é bem assim, xingar, etc. Melhor seria ser ignorado. Se alguém elogia passa em brancas nuvens.    Outro aspecto da reportagem, a caricaturização dos comentaristas, em especial do crítico, tira do primeiro plano a má qualidade do conteúdo, pois com a fragilização financeira das mídias  e agilização da publicação  vem cada barbaridade chamada de reportagem, num dialeto parecido com a língua portuguesa que é impossível não criticar.

  10. Por acaso este Blog nao faz parte da web? Todos os sites sao =s?

    Há trolls aqui, claro, mas há muita crítica argumentada, desenvolvimento de pensamento, etc. Esse texto busca reduzir a web a um aspecto dela só, qual o interesse disso? Fazer as pessoas voltarem ao PIG? Ora, ora…

     

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