O leilão de Libra e a imprescindível correlação de forças

Por SergioMedeirosR

Comentário ao post “As críticas ao leilão do campo do Libra

O leilão de Libra e a imprescindível correlação de forças

Nesta análise, o autor esquece a mais importante questão a ser apreciada, e que se tornou de tal forma evidente antes do leilão que fica difícil entender tal esquecimento.

Falo da questão básica acerca da correlação de forças necessárias para que um  empreendimento com tal magnitude tenha plenas condições de êxito.

E, não se trata de mera questão conjuntural, e sim estrutural, pois ínsita ao modelo capitalista – quer queiramos ou não -, em que vivemos (este, aliás, o componente que  certos setores mais à esquerda não consideraram em suas manifestações).

Ressalto, a referida correlação de forças, não tem componentes únicos, ou seja, não é somente a mídia, mas também o capital financeiro, as concorrentes, o setor político, com matizes ideológicas extremas etc.

Pois bem, dentro deste espectro, se considerarmos somente o comportamento da mídia, a qual  tem importante participação, inclusive anímica, em relação ao mercado e, tomando-se como exemplo os recentes ataques a Petrobras, que inegavelmente causaram prejuízos não somente a imagem, mas também a força financeira necessária em tempos normais, o que diríamos em tempos de crise mundial, pode, de logo, ver que tipo de adversários teríamos pela frente.

Assim, o acordo, do qual resultou o consórcio noticiado, foi sem dúvida nenhuma excepcional.

A política, diz-se, é a arte do possível

Muitas vezes, a economia, em face de determinadas forças antagonistas, também revela ser a arte do possível, e mais, do recomendável.

A inclusão de multinacionais de capital privado como a SHELL (anglo-holandesa) e da TOTAL (francesa), combinados com o maciço investimento a ser despendido na exploração de Libra, trazem a segurança de que eventuais campanhas midiáticas, terão a devida resposta, não somente do campo governamental, mas também do setor espinhoso que envolve o grande capital internacional.

A aposta das consorciadas, neste ponto, pelo valor investido, é que sem dúvida alguma foi um grande negócio, e, portanto, merece ser protegido do interesse das demais concorrentes. Quanto ao mercado, este tratará de proteger as suas mais nobres integrantes

Neste panorama, uma exploração do Pré-sal somente pela PETROBRAS, teria tal oposição (não somente política, mas midiática, financeira, ideológica, etc), que seria um milagre se o empreendimento tivesse êxito.

Desta forma, a alternativa colocada por muitos analistas, a de exploração de Libra de forma integral pelo Brasil, através da PETROBRAS, não resiste a uma simples análise, pois, não é uma impossibilidade técnica ou meramente financeira, o problema é que estaria em desconformidade com o modelo econômico hegemônico em todo o planeta, e que não mediria esforços em derrotar tal iniciativa.

Prosseguindo.

Falar em privatização na exploração de um campo de petróleo, em que nós damos as cartas (impomos a PETROBRAS como operadora) jogamos de mão(as plataformas e navios serão produzidos aqui e com nacionalização dos equipamentos),  levamos a banca (81,35% do lucro é nosso), e o capital de risco para o negócio é grande parte de terceiros, levaria a um exercício intelectual que, em princípio, revelar-se-ia impossivel e, que só não é, porque temos uma classe politica extremamente criativa em se trataqndo de distorcer a realidade. 

Outro ponto lembrado pelo Nassif, mas infelizmente subestimado, e que considero a questão central, é o fato de que a operação é toda da PETROBRAS. Aliado a isso temos a ênfase legal e contratual dada ao desenvolvimento de tecnologias nacionais e, da prioridade para a atuação de empresas brasileiras, fato este fundamental para o desenvolvimento da nossa economia.

Certamente que o destino e a forma de partição do produto e dos lucros do empreendimento são, sem dúvida alguma, de importância exponencial, mas, e a questão concernente a quem deve explorar, no sentido exato do termo, qual a dimensão da concretização da exploração??

Cito inicialmente apenas a manchete de alguns dias atrás, em que o superávit primário somente resultou positivo em razão da comercialização de plataformas de petróleo. Outra, a previsão de investimentos no Porto de Rio Grande (RS), na construção de plataformas de petróleo na ordem de vários bilhões. O desenvolvimento do pólo naval do Rio de Janeiro, etc..

Tais previsões com a entrada em exploração do pré-sal deve ser  reestimada em centenas de bilhões.

Desta forma, sendo a PETROBRAS o operador, ou seja, quem explora, e estando legal e contratualmente previstas as contrapartidas de nacionalização dos produtos e materiais necessários a exploração, qual será a real participação dos lucros da referida estatal e por via indireta, do governo.

A mudança de paradigma da PETROBRAS não se resumiu a determinação governamental de que se fizessem plataformas no Brasil, mas, fundamentalmente porque a partir daí se desenvolveu um know-how nacional  na produção de tais instrumentos.

O desenvolvimento da indústria naval e petrolífera no Brasil, somente com este direcionamento para a produção nacional, já foi excepcional, o que comprovaria que,  tanto quanto a definição de para quem vão os lucros ao final apurados, é o fato que indubitavelmente, o maior lucro é do PAÍS que desenvolve tecnologias, cria um inteligência – cada vez mais reconhecida no setor, dá empregos e, ainda, até mesmo, no campo dos lucros, em razão de ser quem operacionaliza a produção, é quem obterá, efetivamente, a maior parte dos lucros monetários.

Por fim, a PETROBRAS é uma empresa de economia mista que compete em um mercado extremamente competitivo e cartelizado, fato este que impede o governo de direcioná-la tão somente para os fins de beneficiamento do Estado, uma vez presente os interesses dos demais acionistas e, é claro, da própria saúde financeira da própria.

Considera-se Sociedade de Economia Mista a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a entidade da Administração Indireta.

Redação

5 Comentários

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  1. Bravo

    Vou repetir o comentário que fiz lá no Post original:

    Bravo, Medeiros.

    E ainda se fala que não existe planejamento, visão e estratégia.

  2. Não é bem assim!

    Sou contra o leilão de Libra.

    Para mim a 1a. questão é que o Governo, preso a uma lógica econômica de manter sob controle o defict primário, viu nesse leilão a sua salvação para, com o 15 bilhões que adentram já no seu caixa, equilibrar suas contas e assim se render ao deus mercado que grita contra os gastos públicos, a inflação, e por aí gritam… e salvar a reeleição, tentar minimizar as críticas oposicionistas que fazem sobre o alegado baixo crescimento, “aumento” da inflação e etc.

    O governo vem, para manter a política econômica de combate a inflação, descapitalizando sensivelmente a Petrobrás que, na verdade, subsidia os combustíveis para o consumidor brasileiro. 

    As Cias como Shell e Total não dispõem do valor imediato de R$ 3 bilhões, cada uma, para o pagamento do bônus vão fazer empréstimos para tanto, a Petrobrás não possui hoje os R$ 6 bilhões que lhe cabe na cota dos bônus e já se diz que as Chinesas a ajudarão no pagamento, cabe dizer a que custo?

    A descoberta do pré-sal foi feita pela Petrobrás e isso prova sua competência tecnologica para tanto. 

    Uma questão relevante para mim é que, segundo os especialistas engenheiros e geólogos, já se sabe que o campo de Libra possui por volta de 15 bilhões de barris, mas que esse não é o mapeamento final, ou seja, não foi feito um mapeamento total da área do pré-sal e portanto, a “provincia” de Libra e do pré-sal pode ser muito maior. Por que antes do leilão não se faz o mapeamento de toda a região? Poderemos estar falando de uma reserva que segundo técnicos pode chegar a 50 bilhões de barris. Por que essa presa? Por que não adiar por mais um ano que fosse, e durante esse ano debater com toda a sociedade brasileira a respeito dos caminhos a seguir. Por que não debater com as Centrais Sindicais, a FUP, os Petroleiros, o MST e outros movimentis pospulares.

    Para mim houve uma precipitação que pode causar feridas profundas entre essas organizações e o Governo Dilma.

     

     

     

     

     

    1. Libra, a arte do possível

      Prezado João,

      Vi suas manifestações em outros comentários, e verifiquei que, em nenhuma delas é discutida a temática delineada em linhas gerais neste post.

      Anoto que as premissas levantadas por você e vários outros que eram contra o leilão, se baseiam, notadamente em questões técnicas, as quais, diga-se de passagem, em tese não há discordância entre os debatedores, ou seja, todos concordam que o campo de Libra, teoricamente é maior que o anunciado e que a Petrobras tem plenas condições de explorá-lo.

      Entretanto, todos concordam que a Petrobras também não tem dinheiro para isso.

      Sugerem que bastaria a Petrobrás pegar dinheiro emprestado junto ao mercado internacional, neste caso, junto ao mercado financeiro, sabidamente o maior predador que existe e que, em hipótese alguma sairia barato.

      Ao invés disso, o governo escolheu buscar o dinheiro para a exploração junto ao capital das empresas petrolíferas.

      Esta opção tanto no que se refere a opção pelo dito capital produtivo em oposição ao capital especulativo, tem duas vertentes, uma, o fortalecimento das empresas frente o rentismo e outra, a proteção da Petrobras frente a este capital especulativo que via de regra tenta a todo momento inviabilizar a empresa.

      A busca de capital não é tão fácil como foi apregoado, vide a questão da capitalização da Petrobras que resultou, ao final, na compra da própria União de grande parte das ações colocadas a venda. Esquecem que o retorno do investimento do pré-sal virá a longo prazo e que no Brasil ninguém que aplica na Bolsa, quer ficar com capital investido durante mais de dez anos para só então começar a ter suas expectativas de retorno se concretizando.

      Por fim, a questão da correlação de forças, ínsita em tais embates, não pode ser desconhecida de nenhum dirigente sindical que se preze, e sabe que estava em jogo algo mais que a simples decisão de quem tem condições de explorar, mas sim, a de a quem será dado condições de explorar.

      O governo fez a escolha pela opção viável. Neste ponto, não esqueço o grande Senador Paulo Paim, rasgando a Constituição quando no primeiro ano do mandato do Presidente Lula, o salário mínimo não  alcançou 100 dólares.

      Hoje, o engano é facilmente percebido, mas, na época, a mídia em peso, e os setores mais a  esquerda, foram unânimes em considerar o não aumento como um ato de traição.

       

  3. Medeiros, concordo com você

    Medeiros, concordo com você nos pontos que assinalou. Eu só acrescentaria aspectos geo-políticos e militares aos seus argumentos. Ninguém analisou que implicações teria uma ou duas empresas americanas ganhando a concorrência, pois estas poderiam burlar as regras brasileiras e contar com a armada dos EUA para defende-las. Ao Brasil só restaria lamentar em cortes internacionais a quebra do contrato. Agora, nossos parceiros são potências nucleares com assento permanente no Conselho de Segurança e maior poder nas cortes internacionais. Todos necessitam do petróleo aqui no Atlântico Sul (a China planeja investir U$ 20 bilhões em um canal paralelo ao do Panamá, passando pela Nicarágua) para seu suprimento interno. Os interêsses políticos são diferentes: um é nosso maior parceiro comercial (China), outro é parceiro estratégico na área militar (França) e o terceiro é o melhor aliado dos EUA no mundo. É sabido e notório que os EUA não reconhecem o regime de propriedade das 200 milhas e que reativaram, recentemente, a 4ª frota (que existiu até o final da 2ª grande guerra). Porque? Além disso afastou-se o argumento do novo colonialismo chinês na América do Sul. Adicinando-se os argumentos da quinta coluna interna que você assinalou e o fato de que poderemos fazer a besteira de votar no PSDB ou na dupla Tucarina/Eduardo, temos um contrato assinado…

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