O ponto de não retorno

Na linguagem dos pilotos de aeronaves, a expressão ponto de não retorno refere-se ao local do trajeto em que o combustível restante na aeronave é suficiente para alcançar o destino e insuficiente para retornar em segurança ao local de partida ou de reabastecimento. Em política, este conceito pode designar o ponto em que o rompimento da legalidade é inevitável cabendo aos principais atores políticos fazer o que deve ser feito olhando apenas para o futuro.

Durante o período da República romana, o Rio Rubicão (nordeste da península itálica) representava um limite geográfico, religioso e político, além do qual as legiões romanas não podiam ultrapassar armadas sem cometer sacrilégio e afrontar a autoridade do Senado de Roma. Os soldados que voltavam das campanhas na Germânia, Gália, Nórica, Panônia, Récia, etc.. deviam acampar do outro lado do Rubicão e só podiam retornar a Roma depois que fossem desmobilizados e desarmados.

A República brasileira instituída pela CF/88 já está arruinada. O Congresso Nacional é povoado por políticos corruptos que respondem centenas de processos criminais. A Câmara dos Deputados é comandada por um bandido, o Senado é comandado por outro. Ambos tem contas a ajustar com o Judiciário e tem usado seus cargos para ficar impunes. Eduardo Cunha é ousado o suficiente para ameaçar o MPF e uma Ministra do STF. Em São Paulo a roubalheira no Metrô não acarretou processo contra nenhum tucano graúdo.

No Paraná, Sérgio Moro segue perseguindo apenas os petistas envolvidos na corrupção da Petrobras. A prisão de tucanos como Anastasia, Aécio Neves, Aloysio Nunes nem chega a ser cogitada. A PF faz o que quer contra petistas e não faz o que os tucanos não querem que seja feito. O Ministro da Justiça dorme em berço esplendido.

Luiz Fux condenou José Dirceu porque o réu não provou sua inocência como se o princípio constitucional da presunção de inocência não estivesse em vigor. O Ministério da Defesa e a Marinha se rebelaram, com justiça, contra a prisão de um vice-almirante que colocou em risco segredos militares do Brasil.

José Serra tenta entregar a riqueza do Pré-sal aos gringos alegando que isto é patriotismo. A imprensa protege criminosos tucanos, fustiga petistas suspeitos e inocentes e abusa da liberdade de imprensa instigando a violência policial, os linchamentos populares e o golpe de estado. Dilma Rousseff ganhou as eleições e está sendo impedida de governar. Os donos das maiores empresas jornalísticas brasileiras estão entre os correntistas do HSBC da Suíça (Banco que prestava serviços a mafiosos, traficantes internacionais de drogas, órgãos e pessoas, tiranos dos quatro cantos do planeta, senhores da guerra que estraçalham o Oriente Médio e a África, artistas e celebridades que não querem pagar impostos, etc…) e devem ser processados por evasão de divisas e outros crimes tributários. Ao invés de reconhecer seus crimes eles usam seu poder simbólico para destruir o Estado de Direito que os sustentou com verbas de propaganda e que eles se recusam a sustentar com impostos.

Todos os dias PMs matam suspeitos e inocentes como se pudessem proferir sentenças de morte proibidas pela CF/88. Pastores enriqueceram explorando a credulidade popular e adquiriram imenso poder político. Nos últimos meses os deputados do Templo apresentaram várias propostas que transformarão o Brasil numa teocracia evangélica (a sujeição do STF à um Conselho de Pastores é apenas uma delas). O ódio prolifera na internet e explode na porta do Instituto Lula sem que o terrorismo provoque qualquer reação dos jornalistas. A degradação da República é um fato. Só não vê quem não quer.

A corrupção inerente ao sistema político agravou a crise institucional. Curiosamente, aqueles que mais empregam o discurso moralista (os tucanos) são justamente os que rejeitam peremptoriamente o financiamento público de campanhas eleitorais. O Congresso Nacional não quer fazer a Reforma Política que deve ser feita. A maioria dos deputados e senadores são arquitetos e beneficiários deste sistema político corrompido em que os candidatos pedem dinheiro aos empresários e votos aos cidadãos. Eleitos e empossados eles se esquecem dos cidadãos e cuidam apenas dos interesses daqueles que financiaram suas campanhas.

O golpe de estado tramado pela oposição desde a derrota já assumiu várias formas. Primeiro os derrotados tentaram impedir a diplomação e posse de Dilma Rousseff. Depois organizaram violentas manifestações de rua em que a escória do país exigiu o retorno dos militares ao poder. O Impedimento se transformou em opção plausível assim que Eduardo Cunha se aliou a Aécio Neves em razão de ser perseguido pela Justiça. O motivo do Impedimento seria a pedalada fiscal, manobra que nunca resultou em qualquer consequencia grave quando foi praticada por FHC e por diversos governadores de Estados.

A fragmentação do país é um risco? A unidade territorial e a defesa da riqueza no litoral são imperativos categóricos? O futuro do Brasil depende da distribuição de Justiça contra os tucanos? A minoria evangélica fará com a maioria católica o que os sunitas fizeram com os xiitas no Iraque de Saddan Husein? O Judiciário é incapaz de tratar igualmente tucanos e petistas? Os segredos militares do país estão em risco? Neste contexto caótico quem está em condições de dinamitar as pontes com o passado e fazer o que é necessário.

Dilma Rousseff se mostrou capaz de ganhar as eleições contra tudo e contra todos. Já demonstrou que é governar. Mas neste momento de crise ela se mostra cautelosa de mais. O que ela precisa fazer é evidente: garantir o apoio dos militares da ativa e se livrar dos escrúpulos constitucionais. O golpe de estado é inexorável, melhor que o mesmo seja dado por quem já demonstrou compromisso com o futuro do Brasil, com a defesa da unidade territorial e com a exploração do Pré-sal em benefício do povo brasileiro. Nenhum dos líderes tucanos está em condições de cuidar do nosso país. Alguns deles querem apenas usar o Brasil para enriquecer granjeando prestígio nos EUA. O patriotismo “azul e vermelho” de José Serra é evidente e repugnante.

Em 11 de janeiro de 49 aC  Julio César atravessou o Rubicão comandando suas legiões. Aquele foi um ponto de não retorno político. Ao invadir o território da urbe com suas legiões armadas, César sabia que não poderia voltar atrás: ou ele morreria ou colocaria fim na tumultuada República romana. Dilma Rousseff está diante de um novo Rubicão, mas não se decide a ultrapassar o ponto de não retorno. Coragem presidenta. Neste momento crucial, para garantir o futuro do país e o bem-estar do povo brasileiro, você precisa ser mais canalha e truculenta do que todos os canalhas truculentos que a querem derrubar para poder cuidar apenas dos interesses deles.

Fábio de Oliveira Ribeiro

1 Comentário

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  1. Seria um sonho se isto de

    Seria um sonho se isto de fato ocorresse, mas dificilmente ocorrera em virtude do excesso de republicanismo da presidente

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