O quê “está ai” para sermos contra ou não?

“Qual é o caminho certo da gente? Nem para a frente nem para trás: só para cima. Ou parar curto quieto. Feito os bichos fazem. Os bichos estão só é muito esperando? Mas, quem é que sabe como? Viver…O senhor já sabe: viver é etcétera…”  Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

Eu passei os últimos dias, feito bicho quieto. Curioso que sou, queria assimilar os fatos novos. Mas, como disse Antônio Prata, na Folha, ninguém sabe exatamente o que está acontecendo no país. http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2013/06/1297427-a-passeata.shtml

Arrisco-me, agora, a fazer algumas reflexões. Pessoais, claro. Pois, como Rosa também já dizia “Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa”.

A experiência de “estar nas ruas” é sempre muito rica. Lembro-me das “Diretas-já”, quando pela primeira vez tive oportunidade de ser mais um  na multidão que protestava diante da rampa do Congresso Nacional. Nesta semana, era meu filho que estava lá. Não em cima da marquise, mas observando a uma certa distância, com um picolé na mão. Meu enteado também esteve lá e comentou isso.

O país evoluiu muito nos últimos 10 anos. Tornou-se menos desigual, cresceu, gerou oportunidades para quem antes nunca as teve. Mas….sempre há de ter um mas… está longe de ser o “ideal”.

Percebo que a geração de meu filho, meu enteado e meu sobrinho (todos estudantes, com idades entre 17 e 24 anos) veem estas atuais conquistas como sendo “o que está ai”. Afinal, eram muito pequenos ou nem eram nascidos para saber “como era antes”, na época da “década perdida dos anos 90”, da inflação desenfreada, do desemprego, etc. E querem mais, querem um país melhor.

Eu fiz faculdade na transição do regime militar para a redemocratização do país, nos anos 80. Sou, como dizia meu contemporâneo Renato Russo, da “Geração Coca Cola”. (Ok, podem me chamar de coroa. Estou prestes a me tornar um cinquentão).

Voltando mais, muito mais no tempo, um antigo conto oriental dizia que no Reino tinha um Governante tirano, inescrupuloso e assassino. Um andarilho porém passava os dias a bradar: “-Vida longa ao Rei, vida longa ao Rei”. Até que um jovem perguntou porque ele dizia aquilo, já que o Governante era tão vil. E ele respondeu: falo porque sou um velho. Sei que este Rei é muito pior que o antigo Rei, pai dele. Que por sua vez, foi muito mais cruel que o anterior, avô deste que está ai. Então, só me resta dizer: “vida longa ao Rei”.

A nossa realidade é completamente outra. Ninguém tem saudades de nosso passado. Acredito que FHC possa caminhar tranquilamente nas passeatas, porque não será nem reconhecido por nossos jovens. É página virada. O novo Brasil começou com Lula, em 2002, que, não por acaso, surgiu e cresceu a partir da rua, dos movimentos sociais e de trabalhadores.

Acho que Dilma, com 70% de aprovação popular, fará um segundo mandato melhor, se minimizar a participação dos partidos da atual base aliada, que representam as forças conservadoras (Sarneys e Renans da vida), que freiam as mudanças. Afinal, o recado das ruas é claro: Se os jovens querem um país melhor, quem dúvidará da nossa capacidade em o construir “o novo Brasil”? 

Redação

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