O que há em comum entre o juiz Sergio Moro e o famoso caso Dreyfus?

Para Jessé de Souza, é o apoio popular à injustiça e ao racismo. No caso francês, Dreyfus foi inocentado e reintegrado ao exército

Da Rede Brasil Atual

Sem provas, o capitão Alfred Dreyfus foi condenado por traição ao exército francês em 1894. Quando o processo fraudulento chegou ao conhecimento geral e da alta patente, houve uma tentativa de ocultar toda a farsa acobertada por manifestações nacionalistas e xenófobas – o militar era judeu.

O apoio recebido por personalidades estrangeiras e pressões externas levaram à anulação do julgamento em 1899, e à reabertura do processo, que condenou o militar a dez anos. No entanto, houve anistia um ano depois. Mesmo livre, continuava sendo considerado traidor. Só em 1906 seria inocentado e reintegrado. Seu principal acusador, o tenente-coronel Max von Schwarzkoppen, confessou no leito de morte a inocência do capitão.

Em vídeo divulgado ontem (13) em seu canal, o sociólogo Jessé Souza traça um paralelo entre o famoso Caso Dreyfus e a trajetória do ex-juiz federal e atual ministro da Justiça Sergio Moro.

“Com a conivência da opinião pública é praticado um crime que se sabe que foi injusto, que foi perseguido injustamente e ainda assim uma parte considerável da opinião pública apoia. Obviamente a população compartilha dos mesmos sentimentos antissemitas do estado maior francês da época”, diz Jessé sobre o caso francês.

Para ele, é exatamente o caso do Sergio Moro. “Tem a popularidade de um juiz, um anti-juiz, que está disposto a qualquer coisa para perseguir inimigos políticos, principalmente inimigos que sejam de partidos populares. O que faz essas pessoas apoiarem Moro apesar de saber que ele é injusto, apesar de saber que ele é mentiroso, vigarista? As pessoas sabem que ele é assim e mesmo assim concordam com o que ele fez”.

Na avaliação do sociólogo, é principalmente o racismo que leva uma população a “apoiar um juiz perseguidor”. Estamos em uma sociedade racista que não se vê, não se critica como tal. Esse é o principal desafio da sociedade brasileira hoje e para o seu futuro: criticar o seu racismo. Pessoas que estão a favor da injustiça, do ódio, da perseguição, a favor da própria destruição do patrimônio nacional que vai fazê-las perder oportunidades, a apoiar um governo que não investe em ciência. É esse racismo, essa necessidade de se sentir superior a alguém”.

 

Redação

2 Comentários

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  1. no you tube tem um filme sobre o caso dreyfus em 14 partes com tradutor em portugues – tem um completo mas só em frances – e outro sobre o assassinato do escritor emile zola depois de escrever a magistral texto eu acuso que defendia dreyfus e acusava o conselho militar que montou o complõ contra ele…o assassino era de uma liga antissemita…
    a semelhança com o nosso famigerado law fare é assustador porque o conluio da grande mídia contra dreyfus fez com que a população quisesse jnclusive linchar zola etc e tal.
    só que apareceu um intercept lá tb – lá decisivamente, pois o jornal aurore – o amanhecer -publicou 300 mil exemplares do texto eu acuso de zola (tb tem na internet)….

  2. O que difere as pessoas que têm mentes brilhantes e corações sublimes dos ratos formadores da opinião pública pode ser visto num trecho da biografia do Socialista Francês Jean Jaurès:

    “Fiho de um negociante frustrado, Jaurès nasceu no departamento do Tarn, e foi educado no liceu Louis-le-Grand e na École Normale Supérieure (ENS), em Paris. Ingressou nesta última em 1876 (como segundo classificado no concurso de admissão) e obteve sua agrégation em filosofia no ano de 1881. Depois de ensinar filosofia por dois anos no liceu de Albi(também no Tarn), tornou-se conferencista na Universidade de Toulouse. Foi eleito deputado republicano pelo departamento de Tarn em 1885. Seguiu para Toulouse em 1889, onde tomou interesse ativo nos negócios públicos, e ajudou a fundar a faculdade de medicinanaquela universidade. Ele também preparou duas teses de doutorado em filosofia: De primis socialismi germanici lineamentis apud Lutherum, Kant, Fichte et Hegel (1891), e De la réalité du monde sensible.

    Em 1902 deu apoio enérgico aos mineiros de Carmaux, que entraram em greve como consequência da demissão de um operário socialista, Calvignac; e no ano seguinte ele foi reeleito para a cadeira de deputado por Albi. Apesar de ter sido derrotado na eleição de 1898 e ter ficado quatro anos sem mandato, seus discursos eloquentes fizeram dele a força na política e Jaurès se tornou quase a figura humana simbólica do socialismo. Editou então a Petite Republique. Passa, nesse mesmo ano, a defender energicamente Alfred Dreyfus (veja caso Dreyfus) – parte do motivo para sua derrota eleitoral talvez tenha sido a impopularidade do caso na opinião pública francesa de então.

    Opõe-se, nessa época, aos marxistas ortodoxos, cujo líder, Jules Guesde, entendia que defender Dreyfus não era prioritário, por se tratar de um oficial burguês. Mas para Jaurès, não importava se Dreyfus era um burguês ou não. Ele era vítima de uma injustiça e os socialistas deviam opor-se a qualquer injustiça”. Wikipedia

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