O que se sabe sobre o cessar-fogo acordado entre Israel e Hamas 

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Neste momento, o cessar-fogo ainda não está em vigor. Nesta quarta-feira (22) os combates continuam na Faixa de Gaza

No dia 27 de outubro, Israel antecipou um ataque massivo, por terra e ar, que inaugurou uma segunda fase de hostilidades contra a Faixa de Gaza. Imagem: Faixa de Gaza / Reprodução Telegram

Um mês e 15 dias depois da escalada da violência no Oriente Médio, onde se contabiliza cerca de 12 mil palestinos mortos, o governo de Israel acordou com o Hamas um cessar-fogo temporário para a troca de parte dos 237 reféns detidos na Faixa de Gaza por 150 palestinos que se encontram nas prisões israelenses.

Neste momento, o cessar-fogo ainda não está em vigor. Nesta quarta-feira (22) os combates continuam na Faixa de Gaza. O governo do Catar, que mediou o acordo, esclareceu que o horário de início da trégua seria declarado em até 24 horas.

A expectativa é que a pausa dure quatro dias, com libertação de 10 ou 12 reféns israelenses por dia de trégua – o que pode envolver de 50 a 60 pessoas. O plano inclui a libertação, pelo Hamas, de trinta crianças, oito mães e mais doze mulheres, segundo um oficial israelense ouvido pelo jornal Haaretz.

A primeira leva de reféns deve ser libertada pelo grupo na próxima quinta-feira (23), de acordo com o Canal 12. A resolução de cessar-fogo temporário foi aprovada por uma “maioria significativa” do gabinete de guerra do governo. 

Conforme o The Times of Israel, apesar de ter expressado anteriormente oposição ao acordo, o partido de extrema direita Sionismo Religioso votou a favor, com apenas membros da facção ultranacionalista Otzma Yehudit, a qual faz parte como integrante o Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, votando contra.

Pressão interna

“O governo israelense está empenhado em trazer todos os sequestrados para casa. Esta noite, o governo aprovou o esboço da primeira fase para atingir este objetivo, segundo o qual pelo menos 50 sequestrados – mulheres e crianças – serão libertados durante um período de quatro dias, durante os quais haverá uma pausa nos combates”, disse o comunicado do governo divulgado pela imprensa de Israel.

A pressão interna para a libertação dos reféns a partir de um cessar-fogo pode ter sido fundamental para a decisão do governo. Familiares de israelenses sequestrados realizam protestos diários na capital Tel Aviv.

Ainda de acordo co o The Times of Israel, o acordo resultará na libertação de 30 crianças e 20 mulheres, incluindo oito que são mães de algumas das crianças, detidas pelo Hamas em Gaza. O grupo disse ter 210 dos cerca de 240 reféns sequestrados no mês passado em cerca de dez kibutz.

O kibutz é uma comunidade agrária coletiva israelense baseada nos princípios do sionismo trabalhista. Nestes locais, dezenas deles abertos em território palestino, integrantes do grupo Hamas realizaram ataques no 7 de outubro e as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) contra-atacaram – hoje se especula que muitos israelenses foram mortos pelo fogo cruzado, não só pelo Hamas.

Há cerca de 40 crianças mantidas como reféns, nem todas detidas pelo Hamas. O grupo terrorista Jihad Islâmica Palestina estaria mantendo muitos dos reféns restantes.

O que acontece após a troca de prisioneiros

Concluída a troca de prisioneiros, os combates serão retomados. Israel afirmou na sua declaração sobre o pacto com o Hamas que as hostilidades na Faixa de Gaza serão retomadas “imediatamente após o fim da pausa nos combates necessária para garantir a libertação dos reféns”.

As forças israelenses enfatizaram que procuram “destruir as capacidades militares e organizacionais do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina em Gaza e criar as condições para o retorno de todos os reféns”.

Conforme o The Times of Israel, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também deve permitir, diariamente, a entrada de 300 caminhões com ajuda humanitária e combustível pelo posto de fronteira de Rafah, entre a Faixa de Gaza e o Egito.

Nesta quarta-feira (22), o Ministério da Justiça israelense publicou uma lista de 300 prisioneiros palestinos que o governo tem a disposição de libertar em duas etapas de várias fases no âmbito deste pacto.

Quatro fases graduais 

Durante a primeira fase, Israel libertará 150 palestinos assim que 50 reféns israelenses regressarem de Gaza. O processo acontecerá em quatro fases e prevê a libertação de pelo menos 10 reféns em cada uma delas. 

“A primeira fase durará quatro dias, durante os quais haverá uma pausa nos combates”, estipula a decisão do governo israelense mostrada pelo The Times of Israel.

Na segunda fase, Tel Aviv concordou em libertar “até” 150 palestinos restantes na sua lista em troca da libertação pelo Hamas de “até” 50 reféns adicionais. 

A troca seria realizada segundo o mesmo esquema que pretendem implementar na primeira fase, com a libertação gradual de pelo menos 10 reféns. “Por cada libertação adicional de 10 reféns haverá uma pausa adicional de 24 horas nos combates”, esclareceu o governo em seu pronunciamento.

Quem são os palestinos presos

Na lista de presos palestinos estão, em sua maioria, homens com idade igual ou inferior a 18 anos, a maioria dos quais foram presos em tumultos ou por atirarem pedras contra as forças israelitas na Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

As outras 13 pessoas que receberam luz verde para deixar as prisões israelenses são mulheres adultas, a maioria das quais foram condenadas por tentativa de esfaqueamento.

Até agora, o Hamas apenas falou na libertação de 50 reféns – mulheres e menores de 19 anos – em troca de 150 mulheres e menores palestinos, o que corresponderia à primeira fase do plano apresentado por Israel. 

Antes da ofensiva do Hamas contra Israel, em 7 de Outubro, cerca de 5.200 palestinos estavam detidos em prisões israelenses. Desde então, pelo menos mais 3 mil palestinos foram presos durante ataques diários das forças israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

De acordo com estatísticas preliminares da Addameer, uma organização palestina que monitora as detenções de palestinos, o número total de prisioneiros detidos pelo Estado Judeu ultrapassa os 7.300. Desde o início das hostilidades, seis prisioneiros palestinos morreram nas prisões israelenses, conforme a Addameer.

Outros pontos do cessar-fogo

No âmbito do cessar-fogo acordado, tanto as forças israelenses como os combatentes do Hamas concordam em cessar todas as atividades militares na Faixa de Gaza. 

Durante a trégua, está previsto facilitar a entrada de mais caminhões com ajuda humanitária, com medicamentos e combustível, para todas as zonas do enclave palestino.

Segundo o Hamas, o acordo estipula a paralisação do tráfego aéreo no sul da Faixa de Gaza durante quatro dias e no norte durante seis horas por dia, entre as 10 e 16 horas, e também garante a livre circulação dos palestinos, especialmente ao longo da rua Salah al Din, para que possam se deslocar do norte para o sul do enclave.

Com informações do The Times of Israel e Haaretz

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Renato Santana

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