Por Alexandre Tambelli
Comentário ao post “O PT e o movimento dos sem partidos“
PT, VELHA MÍDIA, CLASSES SOCIAIS, MANIFESTAÇÕES DE 2013 E ELEIÇÃO.
Toda uma gritaria da velha mídia e forças sócio-políticas conservadoras vai até outubro. Discursam e discursarão sobre o “fabricado caos” do Governo DILMA, sobre o “fabricado caos do Brasil governado pelos petistas”, para chegarmos lá e acontecer o óbvio: DILMA reeleita e sociedade dividida em pró-PT e anti-PT.
É preciso dizer o mais importante.
Vivemos um tempo Político onde a Ideologia no Brasil não é mais ser de esquerda: socialista, comunista, etc. ou ser de direita e seu capitalismo ou a radicalização das desigualdades sociais entre os homens via neoliberalismo.
O tempo de hoje no Brasil é o tempo da defesa de classe social. Quem tem um pouco mais ou muito mais dinheiro não quer dividir e faz de tudo para se livrar do PT; quem não tem ou tem pouco dinheiro vota no PT. Isto de modo mais grosseiro. Existem situações de votos que não confirmam a regra.
Neste espaço de batalha há a velha mídia. Ela faz o jogo de acirrar a disputa, toma partido e fica do lado mais fraco (no sentido do voto). Então, se alimenta um caos midiático para deslegitimar a vitória do PT e conduzir a opinião do grupo mais fraco (com menos votos) que a velha mídia defende.
PT e velha mídia estão em lados opostos, porém, os dois são os favorecidos do resultado desta batalha violenta das notícias caóticas: um fica com o Poder e o outro com o monopólio dos meios de comunicação e as verbas de publicidade governamental, que crescem na velha mídia, conforme o grau de violência jornalística que ela pratica. Quanto mais violência, mais o Governo Federal anuncia nos meios de comunicação hegemônicos para contrapor a informação dada por estes grupos de mídia.
LULA e PT parecem querer sair deste jogo a partir de 2015. Tomara que seja contemplada a Lei de Médios. Seria um avanço para que nossa soberania econômica e nossos avanços sociais dos últimos 12 anos sejam preservados e aumentados, acima de pensar num realocamento das forças de classes sociais distintas, onde a parte mais fraca se caracteriza com mais força por seus interesses particulares acima do coletivo.
Oposição no Brasil que preste, praticamente, não existe. Os dois candidatos com chances que nela se abrigam querem importar um modelo já sepultado por aqui em 2002. Não cabe mais, porque o povo já experimentou a inclusão e ascensão social. Todo Governo eleito no Brasil não tem mais legitimidade se abdicar deste entendimento, se retroceder.
Um aparte sobre as manifestações de junho de 2013.
Não tem durabilidade um Governo que não está preparado e não se coloca como a ponte para a solução dos problemas reais que eclodiram das manifestações de 2013: principalmente, moradia e bairro digno de se morar, Saúde de qualidade, Educação de qualidade, meios de transporte eficientes e Polícia civilizada. Lembrando que a conquista do trabalho e do consumo não foram pautas das manifestações, porque já se incorporaram a estes grupos sociais (advindos da periferia) ou já faziam parte da vida dos universitários das classes sociais médias tradicionais.
Um aparte do aparte.
É interessante separar as manifestações de junho de 2013 pré e pós-interferência da velha mídia. Anterior ao apossamento e cobertura das manifestações pela velha mídia estavam nas ruas manifestantes de alguma maneira organizados e com reivindicações suas. MPL, juventude da periferia (precariado) e juventude universitária estão no tempo pré-interferência midiática. Agitadores profissionais, black blocks e classes médias e altas conservadoras vieram depois, algumas manifestações após, tendo ai importância a mídia, bem como, a extrema-direita em leva-los para as ruas, também, e com pautas mais generalistas como abaixo à Corrupção, fora PT e até pauta que mais interessava as elites naquele momento: a PEC 37.
Continuando.
Os jovens das manifestações pré-interferência midiática têm uma visão meio nublada da realidade brasileira, ficam entre a ideia da necessidade e cobrança de mudanças estruturais urbanas profundas e que são legítimas e a ausência de maior noção de quem pode realizar tal intento. É uma geração nascida e criada dentro do radicalismo midiático, que associa Política, partido político, governos à corrupção, cobrança de altos impostos e má-gestão dos recursos públicos. Eles tinham 5, 6, 8, 12 anos de idade no máximo quando o PT chegou ao poder. Mal sabem dos tempos de neoliberalismo de FHC. Sabem do hoje, do aqui agora.
Eles têm boas intenções, mas não sabem, precisamente, qual a importância da luta via Política e partidos políticos em arregimentar forças para alcançar seus objetivos e reinvindicações. Talvez, e com grande chance de acerto, a velha mídia os colocou no campo de batalha hierarquizando os inimigos das suas reinvindicações, apesar de todos os partidos políticos serem, o PT, por ser demonizado diariamente pela velha mídia, se tornou o inimigo número 1.
É a juventude nascida do processo continuado de negação da Política por parte da mídia hegemônica a mando do Sistema. Podem estar ai grupos inteiros de jovens apolíticos. O MPL e assemelhados são a manifestação concreta deste modelo de noticiário, onde a Política, os políticos e os partidos políticos são associados, como disse: à corrupção, cobrança de altos impostos e má-gestão dos recursos públicos acima de tudo. Estes jovens descontentes com a Política e o Brasil de hoje foram sendo produzidos no decorrer, principalmente, da Era PT e se materializaram. O quadro desta juventude apartidária é resultado de uma ação intencional do Sistema e da mídia que o representa, não vamos nos esquecer disto.
Repassando a ideia inicial.
Vivemos uma situação de enfrentamento que pode ser bem delineada, indo pelo caminho da justificação do caos como remédio para a derrota que está se configurando nas últimas eleições e nesta se configurará de novo para as classes média e média alta urbana das grandes e médias cidades, que se informam, majoritariamente, pela velha mídia.
O que isto significa?
Perdem a eleição, mas acreditam que a culpa é do povão que não sabe votar, dos programas de transferência de renda e voto de “cabresto”, etc. e se mantêm o poder da velha mídia de influenciar essas classes sociais. Os votantes destas classes sociais perdem a eleição, mas acreditam que a culpa é da ignorância do povão, não da desinformação cotidiana praticada pela velha mídia, nem da alienação diária a que estão submetidos no desfile das futilidades e etiquetas sociais.
A velha mídia se sustenta ai. Se for pelo lado da informação precisa seu cacife pode ser menor, pode ser que o Governo nem precise dar sua contribuição financeira via propaganda governamental e pode até alertar muita gente do que o Governo faz de bom para o Brasil. E, até gerar consciência política maior. O que pode romper a sua defesa do neoliberalismo e até criar um descaso (diminuição de credibilidade) para com ela, de boa parte de seus seguidores. E, não por uma questão de afinidade no modelo de economia ideal para o Brasil, mas, pela falta de uma visão soberana e de inserção do Brasil como potência, mesmo que fosse imperialista.
A compreensão de um Governo Petista, Capitalismo desenvolvimentista com inclusão social seria a pá de cal do Sistema financeiro e do neoliberalismo e de seus representantes aqui dentro de nossas fronteiras. O caos propagandeado pela velha mídia é o engessamento das nossas pernas e o impedimento delas caminharem por si. É embaralhar o meio de campo, para a gente não progredir, mesmo que seja ainda utópica a chegada de um de seus representantes ao Governo central. Pode ser um sonho demorado, mas não pode mudar por completo o conhecimento do novo País, do Governo do PT, para que a utopia neoliberal esteja viva, sempre e possa pôr suas garras hoje e no futuro, mesmo que se avance em sentido oposto.
Tudo está dentro deste pacote de evitar ao máximo uma Lei de Médios, uma Reforma Política, uma luta pela defesa de nossa soberania econômica, o que enfraqueceria a sanha neoliberal, a sanha dos mercados de nos colonizar outra vez.
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Lembre-se do interesse dos EUA
O quadro desta juventude apartidária é resultado de uma ação intencional do Sistema e da mídia que o representa, não vamos nos esquecer disto.
Dentro desta sua afirmação que eu concordo tenho de reforçar que esta ação do sistema e da mídia é financiada, defendida, e propagada com o apoio incondicional dos EUA. Hoje fica cada vez mais claro que esta nação (EUA) com seu projeto de domínio do mundo foi responsável pela INVASÃO de 64 (alguns dizem revolução, outros golpe, mas a realidade é que foi uma invasão estrangeira dos EUA). E a mídia e suas redes sociais (facebook, google e twitter são todas grandes corporações com sede nos EUA e colaboradores diretos da direita americana) impõe ao Brasil e América Latina um “american way of life” que é estranho as nossas tradições e se baseia principalmente em uma negação a nossa cultura, nosso idioma e nosso país. Ou será que ninguém percebe que já estamos nos expressando em um dialeto deturpado do português onde expressões como shooping center, bike, outdoor, sale não só são admitidas como são tidas como símbolos de sabedoria e luxo!!
A música popular brasileira é massacrada na mídia como morta e substituída pelo lixo do sertanejo universitário (que é somente uma cópia do country e pop americanos) e por esta estúpida hegemonia do futebol que fecha os bares com música ao vivo (MPB) para substituir por televisores barulhentos passando futebol (Ambev e Rede Globo junto com a bandidagem dos cartolas e de FIFA).
Realmente sem uma lei de meios que introduza a variedade e o multiculturalismo, que são uma tradição na cultura brasileira, existem poucas esperanças em uma evolução real do Brasil daqui para frente, por mais seja aumentada a inclusão social. Impossível ficar otimista enquanto a Rede Globo for o que é no país atualmente.
Certamente, o processo de
Certamente, o processo de alienação de todos os povos da terra para sua dominação pelo Sistema vem de fora, do centro do capitalismo e o topo da pirâmide é os EUA e sua Política imperialista.
Abraço,
Alexandre!
É lamentável que ocorra essa dicotomia. . .
É lamentável que ocorra essa dicotomia, entre 1) os que querem uma maior participação dos mais pobres na riquezas produzidas pelo país, e 2) os que acham que a maioria dos pobres são “vagabundos” e que só vivem na pobreza porque não gostam de trabalhar, de estudar.
Infelizmente é dessa maneira que a maioria dos anti-petistas enxergam os pobres e por isso são contra os principais programas sociais do governo, como o Bolsa Família e o de Valorização do Salário Mínimo acima da inflação. Não conseguem ver uma coisa tão simples que é por causa desses projetos sociais que levaram a um aumento da classe média e do consumo interno que o Brasil vem tendo crescimento econômico num momento de crise da economia mundial.
Jofran!Não sei se você
Jofran!
Não sei se você concorda. A discussão que se abre hoje é a da mudança da polarização entre PT X PSDB passando para a polarização PT X anti-PT. Explico a minha constatação.
Se adentrarmos nas redes sociais vemos que os votantes anti-PT, uma parte deles, há a migração do voto no PSDB para o voto nulo ou branco, porém, não há a migração da crítica para o PSDB, também, continuam, apenas, as postagens de Fora PT e contra os políticos do PT por parte deste pessoal do voto nulo ou branco.
É um fenômeno parecido com a eleição do Collor: ninguém confessa que votou nele.
A criminalização da Política via PT trouxe um resultado adverso para quem pensava ser uma forma de migrar os votos para a oposição. Parcela significatica de votos migrou mais para o voto nulo ou branco, mas a sangria foi bem maior para a oposição, porque ela arregimenta a grande maioria da população que crê em reducionismos como: todo político é ladrão.
As redes sociais trouxeram uma nova realidade à batalha pela informação. Desnudaram que os políticos que a velha mídia desenhava como honestos não o são e a barreira da não notícia via velha mídia se quebrou. As redes sociais, para os anti-Petistas acabou colocando todos os políticos no mesmo barco. Como todos os políticos viraram corruptos na lógica do reducionismo destes votantes, o maior beneficiário em 2014 tenderá a ser o PT.
Os eleitores mais informados e os que votam no PT sofrem menos deste mal reducionista, votam mais convictos em programas, propostas e ações concretas, e os simpatizantes do PT partidarizam o voto pela ideologia de esquerda e preocupação social do voto; já o votante de Aécio e Eduardo são mais fragilizados, menos consciência Política possuem, e são os que mais sofrem influência dos meios de comunicação tradicionais e sua propaganda apolítica. Estes mais susceptíveis a anular o voto ou votar em branco.
Um Ministro do STF e páginas de direita do Facebook estarem tentando diminuir a sangria do voto na direita tendendo a tornar-se nulo ou branco, não é por acaso.
Abraço,
Alexandre!
Consciência política é não
Consciência política é não ter consciência moral? Por mais nobre que seja um projeto político, por mais nobres que sejam suas intenções, se ele se baseia em uma estrutura imoral, devo continuar votando nele? Justiça social é essencial, mas não vivemos num Estado da Justiça Social, pelo que me lembro o nome é outro, e esse outro nome pressupõe a existência de diversos outros princípios que devemos tomar em consideração, pressupõe que não vale tudo. Costumamos esquecer que os constituintes também colocaram a moralidade na nossa Constituição.
Boa análise. Algumas
Boa análise. Algumas reflexões:
1) o desencanto dos jovens com a política é fenômeno também na Europa. Desencantaram com o Partido Verde na Alemanha, e por aí vai. E fundaram os partidos Piratas (Suécia, Alemanha) com alta votação, mas com muita dificuldade de se firmarem, porque são fluidos e acabam dando excessivo palanque para líderes individuais mais carismáticos.
2) Entre aqueles que tem algum dinheiro e aderem ao coro “Fora Dilma” está quem fez dinheiro nos ultimos dez anos. É um contingente grande e o dinheiro não é pouco. Levam um padrão de vida de classe média, moram em condomínios fechados e pensam com cabeça de “elite branca”. São agressivos porque enriqueceram muito rápido e temem empobrecer na mesma velocidade.São inseguros e despolitizados. Muitos votaram em Lula e Dilma nas ultimas eleições, mas tem medo do que vem pela frente.
3) Ao analisar a velha mídia, velha mesmo, porque está alinhada na mesma posição desde o início do século XX, tem que levar em conta a ofensiva do serviço de inteligência norte-americano, ingles, australiano, como denunciado por Snowden. Está em jogo um sistema mundial, na verdade, socialmente e ambientalmente insustentável. O Brasil com seus governos petistas é uma grande pedra no sapato. O PT não é um partido dócil, nem é bobo e tem um líder talentoso. Não devemos subestimar o poderio desses esquemas internacionais, certamente atuam na mídia e sustentam financeiramente veículos e jornalistas.
Com certeza Margot, o PT é
Com certeza Margot, o PT é uma pedra no sapato do Sistema. Estamos nos desenvolvendo com aumento real do salário, crescimento do consumo e emprego.
Este modelo é que se quer derrubar, a mídia brasileira, aliada do capitalismo neoliberal internacional faz o que pode para desestabilizar o Brasil, criando uma realidade paralela, como maneira de influenciar no pleito eleitoral. Este burulho todo irá a outubro ou próximo de novembro, se houver segundo turno.
Abraço, Alexandre!
Inspiração
hoje é o dia em que notei grande inspiração nos comentaristas, e esse texto do Tambelli é supimpa por demais, assim como outros que li, especialmente uma resposta do Diogo Costa em outro post. É por essas e outras que adoro esse blog do Nassif.
Abraço Homero!
Fico feliz que
Abraço Homero!
Fico feliz que gostou e como você estou lendo os comentários no blog e as pessoas estão demais mesmo nas suas argumentações.
Excelente análise, Alexandre
Excelente análise, Alexandre !
Você tem razão!
Excelente texto, amigo… não tenho o seu poder de argumentação, mas concordo com tudo o que vc disse!
A minha esperança é de que a classe apolítica acabe fazendo com que o PT se reeleja, uma vez que pregam tanto o voto nulo…
Abração.
lisieux