Ocupação Vladimir Herzog: Memória Viva, por Bruno Fedri

A Ocupação Vladimir Herzog, aberta desde o dia 14 de Agosto de 2019 no Espaço Itaú Cultural apresenta algumas das dimensões pessoais e profissionais do jornalista Vladimir Herzog

do Psicanalistas pela Democracia 

Ocupação Vladimir Herzog: Memória Viva

por Bruno Fedri*

Logo na entrada, telas superfinas que refletem fotos do cotidiano do Rio de Janeiro se interpõem diante dos olhos do (a) visitante. Uma mãe beijando seu filho, uma avó com sua neta sobre seu colo, um sorriso de uma mulher cuja atenção compete com o perfil de um cavalo de ferro alardeado numa praça. Imagens que carregam junto com o granulado característico das lentes de uma Asahi Pentax o olhar de um homem que parecia se surpreender com as trivialidades do cotidiano.

Ocupação Vladimir Herzog, aberta desde o dia 14 de Agosto de 2019 no Espaço Itaú Cultural apresenta algumas das dimensões pessoais e profissionais do jornalista Vladimir Herzog o qual, segundo uma das declarações expostas na ocupação, teve no imaginário do brasileiro sua morte como ponto de partida para sua vida, marcada por dificuldades e desafios.

Migrante judeu e apaixonado por fotografia, a exposição conta a trajetória do jornalista desde a chegada de sua família no Rio de Janeiro, em 1946, advertida pelo seu pai, Sigmund, como produto da destruição impetrada pela segunda guerra mundial e consequente procura por liberdade, que se presentifica ao longo de toda a ocupação, por meio de suas fotos, suas cartas e também por meio de seu documentário “Marimbás”, que narra a vida de um grupo de pescadores de Copacabana.

Ressalta-se que dentre os registros fotográficos presentes na Ocupação, a foto do jornalista, morto em uma cela do DOI-CODI, não está presente, passando a impressão para o visitante de que o intuito da ocupação é apresentar a imagem de Herzog vivo, producente e provocador como suas matérias jornalísticas.

Iniciativa que encontra familiaridade na atualidade, por meio da luta de muitas famílias cujos parentes são vitimas da violência do Estado.  É neste ponto que a ocupação se apresenta para a visitante sua temporalidade mais marcante.

Juntamente com a pergunta “Quem matou Herzog?” impressa nas paredes e até em notas de um cruzeiro da época, se caracterizam como o ponto de encontro entre o passado e o presente, ou melhor, um passado peculiar, que teima em não passar.

Por meio de placas de madeira que se confundem com painéis que repetindo o nome de Herzog em diversas linhas, ladeando colagens de pôsteres de vários lugares do mundo reafirmando a luta da família de Herzog pela legitimação da violência que pôs fim a sua vida, a exposição apresenta como uma de suas mais importantes mostras as certidões de óbito do jornalista.

A primeira, tendo como causa da morte asfixia mecânica por enforcamento. A segunda, como lesões e maus-tratos. Duas certidões que embora coexistam por conta de sua retificação, coexistirão permanentemente para a família do jornalista e para todas as famílias que lutam pela justiça e pela memória de seus familiares.

Ocupação Vladimir Herzog

Visitação até domingo, 20 de Outubro de 2019

Terça a sexta das 9h às 20h (permanência até às 20h30)

Sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h

Entrada gratuita, livre para todos os públicos

(exceto a seção caso Herzog, indicada para maiores de 12 anos)

Segundo subsolo do Espaço Itaú Cultural

Avenida Paulista, n. 149, São Paulo

Próximo à estação Brigadeiro do metrô


*Bruno Cervilieri Fedri é psicanalista. Formado em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo, especialista e mestre em Psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com aperfeiçoamento em psicanálise pelo Sedes Sapientiae. É doutorando no núcleo de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo e autor do livro “Dor de Mãe: Lutos da Violência Urbana”. Editora Zagodoni, 2017.

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Redação

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