Onde todos os golpes acabam, por Pedro Augusto Pinho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Onde todos os golpes acabam

por Pedro Augusto Pinho

O General Newton Cruz, que em certo momento foi a expressão midiática do Golpe de 1964, afirmou: “cometemos tantos erros que o Brasil acabou não sendo, nos anos 90, o País que a sociedade brasileira desejava. Saímos desgastados do regime, que durou um tempo demasiado” (Hélio Contreiras, Militares: Confissões, MAUAD, RJ, 1998).

O excelente jornalista Luis Nassif, pelas redes sociais, apresenta algumas  reflexões, a partir da matéria de capa da revista Veja, que circula na última semana de novembro/2017, sobre a imprensa no Brasil de hoje. Uma delas diz respeito à rede em que caíram certos veículos, desenvolvendo o ódio e a absoluta ausência crítica e respeito ao leitor, que os tornam prisioneiros de seus próprios erros. Com sua verve, Nassif chama “conservadorismo inglês” o novo estilo de fazer a defesa do capital e da política burguesa capitalista, estas últimas expressões de minha lavra.

Também recebo  informações da disputa que toma corpo nos Estados Unidos da América (EUA) de parte significativa das forças armadas contra o núcleo “terrorista” da Agência Central de Informações (CIA), pela derrota dos interesses destes últimos na Síria. Mais um passo na luta surda de Trump contra os herdeiros de Obama.

São três exemplos, poderíamos buscar outros, que mostram o alcance das ações contrárias ao processo civilizatório, que, verdadeiramente, é a razão de todos os golpes.

Óbvio que é difícil, poderia dizer impossível, salvo na boca de um psicopata, a confissão de agir contra o progresso humano, contra o avanço da civilização, contra o bem estar de toda sociedade ou da mais numerosa parcela possível.

Vários caminhos podem nos levar à análise dos golpes – não a suas origens, sempre pela disputa do poder para algum grupo demograficamente minoritário ou alienígena – mas na adesão de parcela expressiva da população que, num primeiro momento, por concordância, resignação ou indiferença lhe dá sustentação.

Os golpes são preparados desde a educação pré-escolar com a punição pelo erro, ainda que este seja discutível. É um sentido de compensação que se constrói na mente das pessoas, independentemente de sua eficácia ou validade.

Assim, a mídia passa a atribuir faltas, dolos, desejos aos dirigentes – sejam ou não verdadeiros e quase sempre são falsos – que levam o povo, pouco dado a reflexões, a admitir a sanção. Num segundo momento, muitas vezes há o arrependimento, mas o golpe está consumado e já se apoderou, sem escrúpulo, dos instrumentos que lhe garantirão a manutenção no poder.

É um processo que se repete e até me assombra sua tão longa validade.

A partir daí inicia-se o desgaste. Afinal só houve golpe – qualquer que seja sua posterior designação – porque os objetivos dos golpistas não seriam acolhidos pela ampla maioria da população. E isto é revelado na medida que evolua a  capacidade de discernimento das pessoas. Algumas levam mais de ano para descobrir o verdadeiro intento golpista, outras são compradas para não o admitirem jamais. Compra não significa sempre dinheiro, compra-se com as vaidades, os afagos, as facilidades etc.

Se no âmbito doméstico os golpistas são sempre os saudosos da escravidão, em suas diversas amplitudes, no exterior varia com os impérios e seus interesses geopolíticos. O Golpe de 1964 nos oferece esta variedade dentro de um único movimento.

A liderança do Marechal Castello Branco, no irromper do golpe, deveu-se, fundamentalmente, ao interesse das empresas estadunidenses que dominavam o governo de então nos EUA. Uma consulta aos primeiros atos de Castello Branco e a composição de seu ministério não deixam dúvidas a quem servia, em seu início, aquele golpe.

Mas esta força estrangeira – diga-se que nenhum golpe, com ou sem violação das leis brasileiras, se deu sem a participação alienígena. Antes a Inglaterra, depois os EUA, agora o sistema financeiro internacional – agia com as forças representativas dos interesses de minorias brasileiras, ora os latifundiários, também chamados ruralistas, ora os rentistas, ora os fascistas, sempre derrotados eleitoralmente.

E o golpe vai se modificando. Na citada obra de Contreiras encontramos a queixa do Brigadeiro Cherubim Rosa Filho: “O regime devia ter-se encerrado com seu presidente que assumiu em abril de 1964, mas Castello Branco não conseguiu fazer um sucessor, como pretendia”.

Houve o golpe dentro do golpe e outros golpes até que a mudança no cenário externo, com o sistema financeiro, que denomino “banca”, dominando o capitalismo existente, desse, no Brasil, o golpe no Presidente Geisel, obrigando-o, como ocorrera com Castello Branco, a não poder nomear o sucessor que desejava.

A banca nos daria ainda outros golpes com a eleição de Fernando Collor, a de Fernando Cardoso, da reeleição presidencial, e de maio de 2016. Seus parceiros no Brasil foram a velha oligarquia rural, a mídia oligopolista e as classes médias emburrecidas pela didática colonial que lhes é ministrada deste a pré-escola.

Os golpes terminam por engolir seus autores. Ainda em Contreiras temos as palavras do Coronel Dickson Graell: “Não participei de um Movimento para permitir a prática da tortura, da escuta telefônica, a delação ou a omissão que houve no caso Riocentro. No Riocentro, aquela gente que tolerou o atentado passou a ser cúmplice”.

O que está ocorrendo nestes despreparados golpistas nacionais de 2016?

Papel importante neste último golpe foi do “Poder Judiciário”, o poder sem voto. Leiamos em Jessé Souza, este grande sociólogo e analista da sociedade brasileira: “o golpe não teria acontecido sem a politização do judiciário. Foi, na realidade, em grande medida, um golpe jurídico – um golpe que articula capitalismo selvagem de rapina e enfraquecimento das garantias democráticas” (A Radiografia do Golpe, Leya, SP, 2016).

Estamos vendo, nas entrelinhas da imprensa golpista, nas mais democráticas imprensas virtuais e pelos sites de relacionamento que, apenas o interesse da banca, amplamente satisfeito, une os golpistas. É a goma que acabará por se desfazer pela gula e vaidade da “elite do atraso” (obrigado Jessé Souza).

A Igreja Católica participou do golpe de 1964, mas, no de 2016, o proselitismo religioso ficou por conta dos neopentecostais. Aos poucos, até pela perseguição a sacerdotes e bispos, a Igreja Católica se afastou dos golpistas de 1964. É difícil, neste momento, saber para onde irão as igrejas do cofrinho (obrigado Gregório Duvivier) quando surgir o conflito argentário com a banca.

O Supremo Tribunal Federal (STF), importante ator no golpe de 2016, vai sendo, pelas vaidades, pelos benefícios não alcançados, pela dificuldade de elaborar saídas inteligentes para as contradições da lei com os interesses a defender, se desacreditando aos olhos da mesma classe média que pediu o golpe. E causando dificuldades – como na decisão de Lewandowiski, não acatando a Lei 12.850/2013 (Justiça negociada) – para o Ministério Público Federal (MPF). Os promotores, por sua vez, estão desconstruindo, no mínimo debilitando, a economia brasileira, jogando no colo dos deputados milhares de desempregados.

E as eleições de 2018 ameaçando todo arsenal parlamentar golpista. Resultado: um novo golpe se aproxima. Quais forças conseguirão aglutinar apoio suficiente para este golpe? Qual será a ação da banca? E dos EUA, sob nova direção? Haverá uma Passeata dos 100 Mil para justificar o AI 5 desta nova ditadura?

Uma situação está clara para este modesto articulista: o golpe se desmantela. Mas isto também aconteceu no de 1964 e se renovou com novos golpes até que a economia permitiu sua estabilização.

E agora com a crise financeira ameaçando um novo 2008? Os bancos privados europeus tem declarado “dificuldades” e pedem intervenção do BCE (Banco Central Europeu) para salvá-los. Teria a Europa em crise, com milhões de refugiados obrigando Merkel a mudar sua política, recursos semelhantes aos ‘Quantitative Easings’ de Obama? Lembrar que oficialmente foram despendidos USD 12 trilhões pela economia mais forte do planeta.

Os golpistas Temer e Maia tentam salvar os bancos com o fim da previdência pública no Brasil. Mas os parlamentares sabem que votar a “Reforma da Previdência” significa perder milhões de votos. E eles vivem dos votos ……

Um golpe que feche o Parlamento só com intervenção estrangeira. Será por isso que já está com os EUA a Base de Alcântara? E as “operações” na Amazônia?

Enfim, os que acreditaram na corrupção de Lula estão vendo o que é corrupção de verdade, com provas e com convicções.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado 

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. O golpe ja deu frutos…

    Base de Alcântara, Petrobras, Amazônia, Energia, Banco do Brasil, Caixa, tudo que resta aos brasileiros e que so não vão dar cabo até o fim porque não conseguiram fazer tudo o que pensavam em dois anos. Nesse ponto, da até para agradecer a corrida da ex-Lola da PGR contra o tempo e contra Temer. Não sei como serão as eleições de 2018, mas por mais que tente ser otimista não vejo como Lula, com o povo que somos, sempre a espera que o milagre se realize pelo divino Espirito Santo, possa ser candidato. Esta claro que Lula sera impedido pelo Judiciario de ser candidato. Sem que saiamos às ruas, muito provavelmente pelo que se desenha na atualidade, Geraldo Alckmin sera o proximo presidente e sabemos o que isso representara. E isso se não transformarem o sistema em parlamentarista, sendo este o projeto de parte do judiciario e de desejo dos golpista ora no poder.

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