Operação Elis

Arquivos abertos da família e outros materiais inéditos trazem à tona uma Elis que quase ninguém viu

 

19 de março de 2011

Júlio Maria – O Estado de S.Paulo

Nem uma estratégia orquestrada em detalhes poderia ter seus nós tão bem amarrados. De repente, muita gente pensou em Elis Regina, e começou a agir.

Em conversas com João Marcello Bôscoli, produtor musical e um dos filhos da cantora, a gravadora Universal já tem acertado para 2012 o relançamento dos 21 álbuns que Elis gravou pela companhia. Eles sairão em CDs individuais remasterizados e em duas caixas de luxo, com mais um CD de raridades cada.

“Já estamos bolando uma série de coisas em conjunto com o João Marcello: site exclusivo com toda a discografia, relançamento dos álbuns em grande estilo e tudo mais que algo dessa magnitude mereça”, diz José Eboli, presidente da Universal.

Grande, mas só o começo. Uma ‘operação Elis’, com um documentário de seis horas de duração, exposição, biografia e shows da filha de Elis, Maria Rita, por cinco cidades do País, compõem um projeto maior, chamado Redescobrindo Elis. Uma captação aprovada pelo Ministério da Cultura permite a João Marcello captar até R$ 5,8 milhões com patrocinadores para as investidas, programadas para o segundo semestre de 2012. “Assim que fiz 40 anos resolvi que deveria realizar algo maior pela minha mãe. E no ano que vem serão completados 30 anos da morte de Elis.”

Ambicioso, mas não esgota o assunto. O fotógrafo Paulo Kawall, ‘apadrinhado’ por Elis aos 21 anos e que se tornou uma espécie de retratista oficial da cantora, anda por São Paulo com dois livros pesados em busca de patrocínio. São fotos exclusivas que Paulo tirou da artista, muitas vezes a pedido da própria, entre 1976 e 1982, em formatos gigantes para os padrões de livros assim – 30 cms por 40 cms (leia na página ao lado). Em busca de patrocínio, Kawall não quer ceder às exigências da Lei Rouanet, pelas quais ele teria de mudar o formato e a feitura do livro para barateá-lo.

O mergulho mais profundo de Redescobrindo Elis está nas mãos do paulista Allen Guimarães, 44 anos. Em 2005, o então estudante de cinema em Uberlândia passou a seguir os rastros de quem quer que tivesse algo interessante a dizer sobre Elis Regina. Entrevistou quase 50 pessoas, dentre elas Gal Costa, Gilberto Gil, Marília Pera, André Midani, Milton Nascimento, Nelson Motta e Jair Rodrigues. Uma cena retirada daqui, uma fala a menos ali, e restaram ainda seis horas de imagens, nas quais ele se recusou a mexer. “Chegou uma hora em que falei: ‘Vou fazer do jeito que eu quero’.”

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‘Eu preciso do meu fotógrafo’

Aos 21 anos, Paulo Kawall se tornou o ‘retratista oficial’ de Elis. Agora, também vai revelar o que tem

 19 de março de 2011 – Julio Maria – O Estado de S.Paulo

Paulo Kawall fazia fotos para a revista Música, em 1976, quando recebeu a missão do chefe: “Você vai fotografar a Elis Regina”. Qualquer fotógrafo sairia eufórico da redação rumo à casa de Elis naqueles tempos em que a cantora reinava. Mas Paulo tremeu. “Cara, eu só tinha 21 anos. E era minha primeira foto de artista.”

Paulo Kawall
Paulo Kawall
Imagem para o material do disco ‘Elis Essa Mulher’

Paulo pensou rápido. Passou em uma barraca de camelô e comprou um anel de brilhantes falsos. Já que as fotos teriam como motivo o show Falso Brilhante, a ideia poderia dar jogo. “Como eu tremia naquele dia. Tremia como vara verde. Não sabia nem usar a máquina direito.”

Paulo sugeriu que Elis segurasse o brilhante falso, e ela gostou da brincadeira. Fez cara e bocas para a lente e viu futuro no menino tímido. “Muitas vezes ela mandava me chamar para fazer as fotos. Em geral, a Elis odiava ser fotografada.”

Elis ligou certo dia às pressas: “Venha ao estúdio”. Paulo correu até lá. “Fica quieto, espera aí”, disse a ‘chefe’. Era uma reunião importante com executivos para a realização de uma turnê. Elis, ao final, apresentou seus músicos um a um. E deixou Paulo por último: “E esse aqui é meu fotógrafo”. “Foi um susto, mas ali vi que ela tinha confiança em mim”, diz ele.

 

Arquivo de ouro.

Até 1982 seria assim, Elis teria vários cliques feitos por Paulo Kawall (que antes preferia assinar como Paulo Vasconcellos). E Paulo, sem saber, iria acumulando um tesouro em seus arquivos. A foto desta página foi tirada para o disco Elis Essa Mulher, de 1979. “Elis já estava cansada de usar figuras nas capas de seus discos. Um dia, quando senti que ela já me ouvia, disse que precisava usar seu próprio rosto, que ela era uma mulher bonita, que precisava ser fotografada.”

Depois de revirar seus armários, Paulo finalizou seu projeto para lançar dois livros com imagens de Elis. Em busca de patrocínio “fora da Lei Rouanet”, já que se trata de um investimento alto, Paulo corre para fazer seu lançamento até o ano que vem. Ele calcula que faz tudo acontecer com R$ 1 milhão, valor com que conseguiria imprimir seus dois livros de fotos inéditas de Elis Regina, que deverão ter suas costuras nas emendas feitas à mão, já que as gráficas dizem não poder fazer o trabalho nesse formato de 30 cm de largura por 40 cm de altura. “Só não vou abrir mão desse acabamento.”

A intenção de Paulo Kawall é, com os dois livros, inaugurar sua própria editora. Ele tem ainda na agulha uma outra publicação chamada De A a Z da MPB, com fotos de mais de 100 artistas nacionais fotografados por ele, que vão de Roberto Carlos a Tonico & Tinoco, passando por Zezé di Camargo & Luciano e Rita Lee. Este projeto também seria lançado por sua futura empresa.

Redação

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