Os 40 anos de política de Marisa Letícia

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A morte oficial de Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi confirmada pelo Hospital Sírio-Libanês na noite desta sexta-feira (03).
 
O velório da ex-primeira dama ocorrerá neste sábado (04), das 9h às 15h, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Á tarde, o corpo será cremado em cerimônia particular, no Cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo do Campo.
 
O hospital divulgou a morte após um protocolo do hospital, realizado em dois procedimentos: às 12h e às 18h, confirmando a inatividade cerebral para a doação de órgãos, que foi antecipada por Lula nas redes sociais. 
 
Dos seus 66, foram 40 anos de política, vivenciada não nos bastidores, mas cotidianamente por Marisa Letícia, desde que Lula assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 1975. 
 
Por Ricardo Mendonça
 
 
Do Valor
 
Embora nunca tenha disputado eleição, não tenha sido nomeada para cargos públicos e evitasse os holofotes, a política foi constante e intensa na vida de Marisa Letícia Lula da Silva pelas últimas quatro décadas. Como primeira-dama durante os dois mandatos presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), sua principal marca foi a discrição. Em todos esses anos, sua imagem pública de dona de casa zelosa, mãe e avó dedicada, foi moldada pelas constantes referências que o petista faz sobre ela em discursos e entrevistas. Quase sempre em tom de brincadeira, para ganhar a simpatia da plateia.

A política entrou na vida de Marisa em 1975, com um ano de casamento, quando Lula chegou à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Depois disso, ela foi testemunha recatada de todos os episódios protagonizados pelo marido: das grandes greves do fim dos anos 70 e da fundação do PT, em 1980, às cinco candidaturas à Presidência, com derrotas em 1989, 1994 e 1998, e vitórias em 2002 e 2006.

 
Lula e Marisa se conheceram quando o ex-presidente ainda era um desconhecido e recém-empossado diretor do setor de assistência social do sindicato, em São Bernardo. Naquela época, ela ia à entidade periodicamente para coletar um carimbo para o recebimento de uma pensão. 
 
O primeiro marido de Marisa, um caminhoneiro que fazia bico de taxista, havia sido assassinado pouco tempo antes, quando ela estava grávida de quatro meses. Como Lula também já era viúvo — sua primeira mulher morreu grávida, vítima de atendimento médico precário —, o namoro logo engatou. Essa fase da vida do casal é retratada no filme “Lula, o Filho do Brasil” com a atriz Juliana Baroni no papel de Marisa.
 
Juntos, tiveram três filhos. O primogênito de Marisa acabou adotando o sobrenome Lula quando tinha nove anos.

Numa rara entrevista concedida alguns anos atrás à Fundação Perseu Abramo, Marisa contou detalhes da história de sua família. Seus avós, italianos que se conheceram no navio durante o trajeto da Itália para o Brasil, foram posseiros que se estabeleceram numa área rural de São Bernardo, local hoje batizado como Bairro dos Casas, sobrenome de seu pai. A mãe da ex-primeira-dama teve 15 filhos, três deles mortos logo após o nascimento. Penúltima da prole, ela cresceu no sítio da família, onde plantavam e criavam animais. Na época, disse, só saía do sítio para ir à capela.

 
Marisa começou a trabalhar ainda criança, aos nove anos, tomando conta dos sobrinhos do pintor Candido Portinari, cujo irmão morava na cidade. Depois disso, passou oito anos embalando bombom na fábrica de chocolate Dulcora. Trabalhou ainda numa escola pública.
 
Nos últimos meses, o nome da ex-primeira-dama voltou ao noticiário, desta vez no âmbito da Operação Lava-Jato. Em março de 2016, em decisão muito criticada, o juiz Sergio Moro divulgou um conjunto de gravações telefônicas de Lula, uma delas com a então presidente Dilma Rousseff, o que acabou impulsionando os protestos contra o petista e impedindo que ele assumisse o cargo de ministro da Casa Civil de Dilma, tentativa derradeira da ex-presidente para tentar salvar seu governo. No pacote de gravações divulgada por Moro havia uma conversa banal de Marisa com um de seus filhos sem qualquer relação com o objeto da investigação.
 
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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Marisa Letícia Lula da Silva

    Duas raínhas

    Atenta

    Dedicada

    … e do Lula

    Agora é uma estrela

    Para sempre, Marisa!

    O povo brasileiro não a esquecerá jamais!

      1. Créditos da foto

        Os créditos desta foto são de Marina Dias/Folhapress.

        Registro que, embora, a foto consiga retratar a emoção do momento, a autora publicou, ontem, reportagem sobre Marisa Letícia que não foi muito abonadora (se não for a autora da foto, a autora da reportagem é uma homônima).

        Discreta e desbocada, Marisa Letícia nunca quis protagonismo na política

        Ao escolher episódios da vida da companheira de Lula para incluir em sua reportagem, Marina parece ter feito uma seleção desequilibrada e, no mínimo, pouco amistosa.

  2. Dona Marisa era mulher da roça

    Dona Marisa era mulher da roça, nasceu ali e nunca perdeu seus traços rurais de honestidade e de nao desconfiar das maldades do mundo, isso que a abateu, assim como abateu os donos da Escola Base, vitimas desse mesmo conluio midiátio-penal que ai está destruindo pessoas de bem, gente que deveria estar em nosso meio, gente como Dona Marisa, cuja história de vida é seu próprio desagravo contra essa onda de ódio e insanidade, uma espécie de psicose coletiva que se abateu sobre nosso pais de uns tempos para cá porque insuflados por um poder verbalizador, a midia cujo padrão conhecemos.

    Salve Dona Marisa, descanse em paz.

    http://cartamaior.com.br/?/Editorial/-Marisa-e-Lula-/37629

  3. Marisa e Vargas
    ASSASSINADOS PELO ÓDIO

    “Se tiver que passar por um vale escuro não temerei mal algum
    pois vosso bastão e vosso cajado me dão segurança”
    SALMO 23, 4

    Minha professora do primário, na escola pública, consciente do tempo que vivíamos e conhecedora da História do Brasil, ensinava uma poesia que ao tratar da Inglaterra concluía: tem na ambição voraz a nódoa que a acompanha.
    São passados cerca de 70 anos. Quantas guerras movidas pela cobiça, pela vaidade ou pelo rancor? Quantas famílias destroçadas pela imoderada ambição?
    Estas ideias vem-me ao saber do falecimento da Primeira Dama Marisa Letícia Lula da Silva.
    A pequena contribuição de seu marido, o Presidente Lula, para dar dignidade, dar autoestima ou, como previa a letra até então morta da Constituição, dar cidadania à maioria absoluta da população brasileira, levantara uma onda de ódio no País.
    Por que o ódio? É importantíssima esta resposta se desejamos ver nosso País progredir em paz e harmonia.
    Aquela parcela ínfima da população que se autodenomina elite, que se aproveitou dos séculos da escravidão, que vive das gorjetas dos impérios coloniais alienando riquezas brasileiras, algumas insubstituíveis e que jamais poderão ser restabelecidas, impedindo o desenvolvimento cultural, intelectual e econômico do País, que ignorantes e arrogantes só sabem se impor pela força, antes das armas agora do único poder sem voto, se ergueu contra o projeto de governo que se propunha resgatar para a maioria absoluta dos brasileiros sua Nação.
    Mas isto não poderia ser explícito, o ódio de encontrar o porteiro ou a babá no aeroporto, a filha da empregada doméstica na universidade cursada pelo filho ou neto, e dar um salário minimamente condizente com o trabalho dos que contribuíam para sua riqueza e ócio.
    Criou-se então um mito ao qual se acostumara por gerações: apropriar-se do dinheiro público, como se fosse típico do partido que chegava ao Poder pela primeira vez. Não quero isentar ninguém nem me cabe advogar quem quer que seja. Mas são ridículas as acusações, não se encontraram provas que associem o Partido dos Trabalhadores e, principalmente, o Presidente Lula, Dona Marisa Letícia e seus filhos a qualquer falcatrua, ainda mais com dinheiro público. As condenações, em quase sua totalidade, deveram-se à síntese pronunciada pela Ministra do Supremo Tribunal Federal: não tenho prova, mas a literatura me permite condenar. Permite, digo eu, errar impunemente?
    A imprensa, oligopolista, familiar, desta elite a que me refiro, buscando os interesses estrangeiros para defender, sem qualquer pudor, escudada na impunidade que o judiciário cúmplice lhe acobertava, martelava dia após dia uma culpa nunca provada, uma acusação vazia a Lula, família e partidários.
    A Lava Jato, programada e treinada pelos Estados Unidos da América, foi o foco mais destacado. Daí as condenações sem processo, as tentativas de suicídio, a pena de 43 anos ao Almirante Othon, com 77 anos, um herói nacional. São atos inomináveis, dignos de um estado de exceção a que o Judiciário lançou o Brasil.
    E insuflada a parcela mais favorecida da sociedade vai às ruas. Não lhes faltam recursos de toda ordem, nem acólitos abjetos de grupelhos financiados para tal fim. Alexandre Herculano, notável romancista e historiador, escreve no Prólogo da História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, como se instala esta emoção, de forma irracional e autoflagelante: “Há aí o vulgo que faz o que sempre fez; que saúda o vencedor, sem perguntar donde veio, nem para onde vai; que vocifera injúrias junto ao patíbulo do que morre mártir por ele, ou vitoreia a tirania, quando passa cercada de pompas que o deslumbram”.
    A pressão sobre o marido e filhos foi excessiva para uma senhora que todos que a conheceram dizem ser amável, doce e acolhedora.
    Os assassinos são todos estes, mentirosos, arrogantes, rancorosos, que condenam sem prova, que fraudam e alteram fatos e problemas, sem que as vítimas sequer possam defender das fortíssimas e provocadas pressões sociais.
    A morte de Dona Marisa Letícia Lula da Silva será mais um crime impune em nossa história, como o que vitimou Getúlio Dornelles Vargas.
    Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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