Para entender a diferença entre Dilma e Pimentel, por Flávio de Castro

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Flávio de Castro

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Li alguns comentários sobre o secretariado de Fernando Pimentel, anunciado ontem. Curiosamente, pareceu-me recorrente, na opinião de analistas políticos, querer entender a sua composição final pelo viés partidário, especialmente em comparação com o ministério de Dilma. Será esse o ponto? Pra mim [e para o resto do mundo], a chave para entender o secretariado de Pimentel é outra. Dilma e Pimentel são lideranças do PT, mas Pimentel, diferentemente dela, é uma liderança orgânica, que disputa internamente o partido [ele, em Minas, naturalmente…]. Ou seja, indo ao que interessa: Pimentel tem grupo político; Dilma, não! Nesses termos, é obrigatório observar que a maioria do novo secretariado mineiro, mais do que por petista é composta por homens de confiança do governador. Corrijo: não apenas a maioria, mas também os indicados para os cargos mais estratégicos. Isso dá a Pimentel uma capacidade de comando que Dilma não tem. O que não deixa de ser um sinal, também, de que o ambiente político em Minas e no Brasil são absolutamente diversos.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. Com certeza.

    Com certeza, até porque Dilma nunca foi muito política, ela se fez e se faz no governo. Dilma aprende andando. Espero que Pimentel faça um governo excelente. Já a Dilma está aprendendo e fará um governo melhor nesse segundo mandato. Lembrando que o governo federal tem pepinos muito maiores e é muito mais complexo de governar do que qualquer estado da federação.

  2. Como está o seu arquivo mental

    Como está o seu arquivo mental de esperanças?

    A história de 2015 vai começar com a posse de Dilma.

    Ela ainda não tem vergonha dos novos ministros.

    Grandes coisas serão anuladas!

    Levy fará um desastre na economia.

    Ela simplesmente faz os convites…

    Reserve um momento para responder:

    A presidenta deve pagar outra vez pelos erros deles?

    Ou criar bases permanentes de autoridade?

    Eu fiz planos…

     

  3. Acho sua opinião equivocada
    Acho sua opinião equivocada quanto a Pimentel ser orgânico do PT.
    Creio que ele tem sido hábil em produzir essa ideia de organicidade, mas na realidade se vale muito dos “novos ricos” do PT mineiro. E acomodou rivais orgânicos históricos para passar a ideia de estadista e evitar protagonismos fora do controle do seu grupo.

    1. Concordo, e tem mais

      O próprio Pimentel foi bastante responsável pela entrega de Belo Horizonte e de MG aos tucanos, ao participar de acordos que faziam perder força ao PT de MG em função de aumentar expectativas em São Paulo. A campanha do Hélio Costa foi um desastre (perdeu para o Tom Cavalcanti).

      Houve Lulécio, houve entrega (entrega mesmo!) da prefeitura de BH aos tucanos. Inclusive, na eleição de Pimentel para prefeito este demonstrou estar sendo apoiado pelo Aécio. Lula falava que Aécio era como um filho, etc. Tudo buscando debilitar o PT em Minas (levantando a bola do Aécio) em troca de ganhar São Paulo e apenas São Paulo.

      Em suma, o PT recuperou em MG o que ele próprio foi obrigado a deixar para Aécio.

       

      1. O Erro

        Sua justificativa é a própria confissão de seu erro de análise.

        Se Pimentel “entregou” BH aos tucanos, também possibilitou o Lulécio, que ajudou a eleger Lula e abriu as portas para aécio trair o psdb paulista, cuja desavença (útil ao PT) persiste até hoje, não é?

        Pimentel é mineiro e petista e tem de ser analisado como tal.

        Na campanha eleitoral, Pimentel era a discrição em pessoa. Apoiava a Dilma, mas fazia sua campanha sem hostilizar em demasiado o aécio. Se Dilma ganhasse, ótimo, perfeito era esse o objetivo. Se não, ele seria eleito e o principal adversário do presidente aécio, incrustado no reduto eleitoral do presidente, tendo a todo o tempo (não tenha dúvida de que isto vai acontecer) a caneta na mão, o desejo de aparelhar o MP, a mídia e o judiciário. Preste atenção na contratação do auditor do Haddad e perceba que aécio, também mineiro, mas carioca de coração, já percebeu isso e recuou de suas posíções extremistas(na esperança de preservar o braço, porque  anéis, dedos e a mão vão-se).

        Que dúvda voce tem de que Patrus Ananas será o próximo prefeito de BH?

        MInha única dúvida é se aécio será mais útil, abrindo dissidência e eventualmente abandonando o psdb (e assim quebrando a unidade da direita) ou se será preso pelas falcatruas, cujos rastros deixou aos montes (porque jamais acreditou que perderia MG).

        Claro que voce se lembra que MG é o segundo maior colégio eleitoral.

        Portanto, não subestime a inteligência do Pimentel, nem do Lula, nem da Dilma. Sempre souberam o que estavam fazendo. Talves não tenham contato a voce, ou, entao, contaram mas voce nao percebeu.

         

  4. Fernando Pimentel já sabe que o político é superior ao técnico

     

    Flávio de Castro,

    Nesse ritmo de final de ano e início de ano novo, não e viável avaliar um posts pela quantidade de comentários, mas em qualquer outra situação um texto assim, mais tranquilo, sem polêmicas não gera muitos comentários. Dai que o blog e o blogueiro dono do mesmo se esmeram na procura de comentários escandalosos que apenas criam animosidade, mas não levam ao esclarecimento salvo pela citação de um ou outro analista ou ativista de renome. E busca incessante pela polêmica ou iconoclastia acaba sendo a grande barreira à mídia, seja ela grande ou pequena. Talvez só não caberia incluir nesta regra do resultado ruim que a polêmica cria para a atividade de jornalismo quando se trata de uma mídia atomizada consistindo da manifestação individual de alguém que se contentasse com pouco e ai então se abriria espaço para a informação com o intuito de enriquecer quem a recebe e não quem a emite.

    Embora de origem comum, ali na década de 60, com a participação nos movimentos contra a ditadura militar que contava com apoio de políticos e de empresários, Fernando Pimentel e Dilma Rousseff tiveram vida política distinta que os fizeram com capacidade e competências diferentes para assumir a chefia de executivo.

    Fernando Pimentel tem pouco carisma, ainda assim pode-se dizer que é um carisma bem maior do que o de Dilma Rousseff. Além disso, desde 92, quando deixou a academia para servir ao governo do PT, como secretário da Fazenda, Fernando Pimentel empreendeu uma evolução muito grande com a qual poucos homens públicos no PT poderiam equiparar-se (O único político do PT que eu considero superior a Fernando Pimentel é Antônio Palocci que além da experiência como prefeito tinha bem mais carisma que Fernando Pimentel). E também em função dos anos de treino como professor, Fernando Pimentel tem uma facilidade de comunicação e dependendo do interlocutor de convencimento bem maior do que a da presidenta Dilma.

    Aproveito este meu comentário para fazer uma espécie de divulgação de dois aspectos que seu texto me fez lembrar. Primeiro em relação ao que eu disse de seu texto ser um oposto aos textos que geram polêmicas eu mencionaria três autores acadêmicos que de algum modo redigiram textos que dependendo a mídia em que os textos foram vinculados geraram muitas discussões.

    Os autores são Aldo Fornazieri, Zander Navarro e Marcos Augusto Gonçalves. Marcos Augusto Gonçalves não chega a ser um acadêmico, mas tem livros de qualidade publicados na área cultural.

    Há vários textos de Aldo Fornazieri com crítica ao governo de Dilma Rousseff mas eu me referi a texto recente dele que foi publicado aqui no blog de Luis Nassif como post com o título de “Lênin e a rota de fuga de petistas, por Aldo Fornazieri” segunda-feira, 22/12/2014 às 16:29, e pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/lenin-e-a-rota-de-fuga-de-petistas-por-aldo-fornazieri

    Trata-se de um texto que recebeu a boa crítica de Diogo Costa em comentário que ele enviou segunda-feira, 22/12/2014 às 17:45. Aliás, Diogo Costa vem fazendo um trabalho exaustivo de retrucar às vezes com veemência excessiva às críticas muitas vezes sem fundamento que se fazem ao PT.

    Não lembro de ter visto algum texto de Zander Navarro que teria sido publicado aqui no blog. Ao colocar no Google: Luis Nassif e Zander Navarro. só me apareceu o post “A lenta história do Brasil, por Clóvis Rossi” de quinta-feira, 06/09/2012 às 16:36, aqui no blog de Luis Nassif contendo por sugestão de Anarquista Sério, um texto de Clovis Rossi, publicado na Folha de S. Paulo com o título “Brasil, “uma história lenta””, sendo que o post “A lenta história do Brasil, por Clóvis Rossi” pode ser vista no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-lenta-historia-do-brasil-por-clovis-rossi

    E vale lembrar que a referência a Zander Navarro era curta pois Clovis apenas dizia que Zander Navarro era “um desses acadêmicos com os quais vale a pena trocar ideias porque o interlocutor sai sempre ganhando na troca”.

    Talvez aqui antes de falar de textos de Zander Navarro valesse a pena voltar ao post “A lenta história do Brasil, por Clóvis Rossi”, uma vez que a sugestão de Anarquista Sério surgiu no post “A lenta recuperação da economia” de quinta-feira, 06/09/2012 às 09:00, de autoria de Luis Nassif que na Coluna Econômica dele naquela data, início do terceiro mês do terceiro trimestre de 2012, analisa as primeiras manifestações da recuperação da economia. O endereço do post “A lenta recuperação da economia” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-lenta-recuperacao-da-economia

    Dei destaque para este post “A lenta recuperação da economia” porque sem acompanhar o que aconteceu na economia brasileira durante o primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff não se faz uma análise consistente do governo da presidenta Dilma Rousseff. E a recuperação da economia brasileira que se iniciara no segundo semestre de 2014 fora a essência do ajuste econômico que a presidenta Dilma Rousseff fizera desde o início do governo dela, e que no tocante ao papel do Banco Central fora iniciado ainda no começo do segundo semestre de 2010, portanto, no governo de Lula. Só que por motivos sobre os quais nenhum economista tenha debruçado, a recuperação econômica que se fez com mais força a partir do quarto trimestre de 2012 até o segundo trimestre de 2013, com o aumento de investimentos nesse período, deu um cavalo de pau no terceiro trimestre de 2013 com uma queda inesperada do PIB, e daí em diante todo o ajuste feito na economia perdeu o prumo e o senso de direção e a economia desandou ameaçando tremendamente a reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

    Bem, voltando a Zander Navarro, recentemente eu li três artigos dele de crítica ao PT e que eu considero que vale à pena fazer referência a eles aqui, até para reforçar o espírito da afirmação de Clovis Rossi que transcrevi acima de que Zander Navarro é “um desses acadêmicos com os quais vale a pena trocar ideias porque o interlocutor sai sempre ganhando na troca”. Na sequência em que os artigos foram publicados, eles são: 1) “A tragédia petista”, publicado no jornal O Estado de S. Paulo de 26/10/2014, 2) “A tragédia petista – 2”, publicado no jornal O Estado de S. Paulo de 30/11/2014 e 3) “O futuro do PT”, publicado no jornal O Estado de S. Paulo de 28/12/2014.

    E deixo a seguir o link para os três artigos. O artigo “A tragédia petista” pode ser visto no seguinte endereço:

    http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-tragedia-petista-imp-,1582877

    O endereço do artigo “A tragédia petista – 2” é o que se segue:

    http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-tragedia-petista-2-imp-,1600066

    E o artigo “O futuro do PT” pode ser visto no seguinte endereço:

    http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-futuro-do-pt-imp-,1612780

    São três artigos com forte crítica ao PT que devem ser lidos com mais atenção até porque se trata de uma crítica escrita a partir de uma fundamentação de uma ideologia de esquerda.

    E o terceiro autor a que eu fiz referência, Marcos Augusto Gonçalves, embora não seja acadêmico, parece-me um jornalista com boa formação e com um discurso de base marxista e, portanto, de esquerda, ainda que talvez tenha nele algum componente autoritário e que trabalha como um editorialista em um jornal de direita. E a referência específica que eu faço aqui é ao texto dele “Frustrados com ministério acreditaram em avatar de Dilma” publicado no jornal Folha de S. Paulo de terça-feira, 30/12/2014, e que aqui no blog de Luis Nassif foi transcrito no post “O avatar de Dilma, por Marcos Augusto Gonçalves” de terça-feira, 30/12/2014 às 14:07, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-avatar-de-dilma-por-marcos-augusto-goncalves

    O avatar da Dilma se refere ao retrato dela de guerrilheira com o título “Coração Valente”.

    Bem, os três autores são na minha perspectiva pessoas de esquerda. O Zander Navarro é, salvo negativa expressa, um marxista. Há muito de marxismo em Marcos Augusto Gonçalves e sem saber até que ponto Aldo Fornazieri, um admirador de Maquiavel, com tese de doutorado sobre o filósofo político italiano, seja marxista, ele é um eleitor da presidenta Dilma Rousseff como afirmara logo após o segundo turno das eleições no post “Dilma e o PT terão que mudar, por Aldo Fornazieri” de segunda-feira, 27/10/2014 às 10:57, aqui no blog de Luis Nassif e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/dilma-e-o-pt-terao-que-mudar-por-aldo-fornazieri

    Há textos de Aldo Fornazieri com críticas específicas ao governo de Dilma Rousseff, como se pode ver no próprio post “Dilma e o PT terão que mudar, por Aldo Fornazieri” em que ele declara o voto na reeleição da presidenta Dilma Rousseff. No endereço no blog dele outros posts críticos ao governo da presidenta Dilma Rousseff podem ser vistos. O endereço do blog dele aqui no site do Jornal GGN é:

    https://jornalggn.com.br/categoria/autor/aldo-fornazieri

    O que eu quis salientar na referência ao post “Lênin e a rota de fuga de petistas, por Aldo Fornazieri” que conforme eu disse sofreu a bem fundamentada crítica de Diogo Costa é a construção que se faz de um Partido dos Trabalhadores e de um petista imaginários incapazes de entender uma realidade que ele, Aldo Fornazieri, e também Zander Navarro e Marcos Augusto Gonçalves constroem de modo idealizado. A crítica deles é a um petista imaginário e o entendimento que eles demonstram ter da política é também um entendimento idealizado. É quase uma crítica a eles próprios que poderiam ser considerados como sendo esse petista imaginário.Só não o são porque já de início se apresentam como refratários ao PT, seja ao PT sindicalista, seja ao PT religioso, seja ao PT acadêmico como bem expressa Zander Navarro no artigo “O futuro do PT”

    A política para eles não pode ser fisiológica, como se o Poder Executivo na sua interação com o Poder Legislativo pudesse ser feito em outros termos. É uma dimensão autoritária do Poder Executivo, em que este Poder, fruto de uma eleição direta e, portanto, não fisiológica, pudesse assumir, na execução de cada ato, um comportamento não fisiológico adotando em cada ato praticado a mera vontade majoritária pela qual o poder foi eleito, esquecendo que há uma relação com o Poder Legislativo que é um poder de natureza processual e consensual, isto é, ali se tem uma elaboração contínua de atos, como um processo encadeado, configurando uma atividade permanente de busca de consenso via acordos, conchavos e barganhas, e, cujo resultados são expressões da essência do fisiologismo, qual seja, resultam do é dando que se recebe ou do toma-lá-dá-cá. Quanto mais fisiológico for este processo ou quanto mais o resultado deste processo for fisiológico mais o processo se revela como democrático.

    É preciso entender que os representantes no Poder Legislativo, embora sejam fruto de eleições diretas que, portanto, não têm caráter fisiológico, atuam no Poder Legislativo como representantes de interesses diversos e que cada um dos representantes não pode abrir mão do interesse que representa, e portanto, em um processo, o representante deve agir de modo fisiológico, acordando aqui em um sentido para se proteger acolá de vontades que poderiam ser majoritárias e contrárias aos interesses que representa.

    Como eu disse, os artigos de Zander Navarro não são especificamente sobre o governo de Dilma Rousseff, mas a crítica contundente dele ao PT acompanhada de muitas outras de autores de ideologia diferente ou semelhante cria um referencial da visão que se dissemina na mídia sobre o governo e o reconhecimento e a compreensão dessa crítica ajuda a entendermos a fundamentação das análises ao governo que se originam na própria mídia. O componente básico da crítica é dirigir-se ao petista que não aceita a democracia como ela é, só que ao mesmo tempo a crítica parte de um desiderato de democracia idealizada que provavelmente nunca será alcançada.

    E o ideário não é só em relação à democracia. Há um ideário do capitalismo. O capitalismo que os críticos do PT advogam, quando não lhe são contra, é o capitalismo defendido pelos austríacos, isto é, o capitalismo atomizado de minúsculos empresários em competição constante em que o melhor triunfa e o pior sede o lugar não para o crescimento do que o venceu mas para um novo competidor mais preparado e tão bom quanto o vencedor ou até sendo lhe superior.

    É uma idealização até de certo modo reacionária porque não admite que se utilize de mecanismos do sistema capitalistas para o aperfeiçoamento deste sistema se os mecanismos não se vinculam ao que seria o capitalismo ideal. Assim, para um país em desenvolvimento, não se admite o incentivo à formação de grandes grupos econômicos, não levando em conta que esses grandes grupos econômicos tem maiores condições de investimento e assim podem alimentar um crescimento econômico mais célere.

    De certo modo, a idealização desse capitalismo acarreta a idealização de um Estado que deveria assumir uma postura de neutralidade. O Estado do crítico do petista não é um Estado inserido em uma ordem capitalista atuando como um instrumento que não só garante o sistema capitalista de exploração como fomenta o sistema capitalista e nesse caso funciona como um instrumento de superação da ordem capitalista.

    Fiz a indicação dessas críticas ao PT porque considero que sendo elas críticas de pessoas com vasto conhecimento e de pessoas de esquerda, permitem que façamos uma compreensão melhor do PT e possamos avaliar de que modo a presidenta Dilma Rousseff e Fernando Pimentel inseridos dentro do PT se assemelham e se distanciam.

    As semelhanças e distinções ficam ainda mais perceptíveis quando se leva em consideração a diferença de quase dez anos de aprendizado de Fernando Pimentel no mundo político não só pelo fato de ter assumido já em 1993, um cargo de Secretário da Fazenda em uma prefeitura de destaque como também pelo fato de que o cargo de Secretário da Fazenda em um município é basicamente um cargo para conseguir verbas (Via aumento da arrecadação tributária ou via repasses de órgãos federais e estaduais) e para se não gerenciar pelo menos para antepor argumentos e barreiras capazes de fazer frente à pressão por gastos ou aumento de gastos das várias secretarias. Ao contrário do Ministério da Fazenda, as Secretarias de Fazenda, tanto dos Estados como dos municípios, salvo na questão tributária, possuem pouca importância na proposição ou implementação de políticas econômicas, mas têm uma atuação muito próximo do processo de composição de interesses conflitantes que se instala junto ao poder legislativo do ente federativo em um sistema democrático. A área de planejamento, em municípios maiores, com autonomia e portanto fora da competência da Secretaria da Fazenda não é, entretanto, um órgão executivo propriamente falando, pois a função dele é mais de formalização, apenas transformando o que foi acordado em planos, programas, projetos e ações. Assim, a parte mais difícil da análise da viabilidade financeira e do grau de prioridade que se deve dá a um projeto sob o argumento financeiro cabe mais à Secretaria da Fazenda.

    Então há mais de 20 anos Fernando Pimentel participa da atividade política de buscar recursos escassos e avaliar as demandas que surgem de todos os lugares. Sempre considerei que uma secretaria de fazenda municipal e estadual fosse o melhor caminho para o aprendizado político que um político que almeje assumir a chefia do executivo de um ente federado possa ter. É claro que melhor ainda é o próprio aprendizado da chefia de executivo.

    Agora, talvez uma das melhores críticas que se fez a presidenta Dilma Rousseff não foi feita por um analista político, mas por um engenheiro que por motivos que eu desconheço adquiriu uma formação política que eu nunca vi expressa por um engenheiro, com formação específica nessa área. Vale aqui ressaltar que Zander Navarro é engenheiro agrônomo que pela formação de esquerda foi caminhando para uma especialização maior dentro das ciências sociais.

    A crítica a que eu me refiro foi feita pelo engenheiro Marco Antonio Castello Branco e apareceu como um comentário aqui no blog de Luis Nassif, junto ao post “Para entender o governo Dilma”, de segunda-feira, 16/06/82014 às 17:47. Não sei o que motivou o comentário de um comentarista que eu não lembro de nenhuma outra intervenção aqui no blog de Luis Nassif. E quase que o comentário não ocorreria, pois ele fora enviado de quinta-feira, 26/06/82014 às 02:45, quase dez dias após a publicação do post “Para entender o governo Dilma”, provavelmente enquanto o post estava na relação dos oito posts mais lidos da semana.

    Bem, o comentário de Marco Antonio Castello Branco surpreendeu-me não só pelo conteúdo como também porque partiu de um engenheiro. Em nenhum dos críticos da presidenta Dilma Rousseff que tenham formação em ciências sociais houve uma crítica tão política como a crítica presente no comentário de Marco Antonio Castello Branco. Já transcrevi o comentário várias vezes, sendo que a primeira vez foi junto ao post “Pequeno manual de como discutir política nas redes sociais” de quinta-feira, 26/06/2014 às 12:51, em comentário que enviei para Luis Nassif quinta-feira, 26/06/2014 às 22:56, e vale a pena transcrevê-lo novamente como o faço a seguir. Diz lá Marco Antonio Castello Branco:

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    “Penso que a origem primeira das dificuldades do governo da Presidente Dilma reside na ideologia que ela abraçou e que propaga a supremacia da racionalidade técnica sobre a política como instrumento de construção de um projeto coletivo. Em torno dessa ideologia construiu-se a crença ingênua de que um dia a administração das coisas poderá substituir o governo dos homens.

    Isso contribui para que mesmo num país jovem como o Brasil, no qual o exercício da representatividade democrática ainda se encontra na adolescência, surjam sinais de esgotamento da democracia representativa e de tentativas de democracia direta. Dilma sanciona o desencanto dos brasileiros com a política ao demonstrar seu desprezo pelos políticos. Não está a seu alcance fazer o novo ordenamento legal das instituições políticas e o sistema eleitoral. Mas nada impede a Presidente de se cercar de deputados, senadores e homens de partido que melhor representam a prática da política no nosso país. Eles existem tanto na base do governo como na oposição. Ao não reconhecê-los e ao desprezá-los Dilma se alinha e sanciona o jogo maniqueísta e moralizante da mídia, que, afinal, fará dela e de seu governo sua derradeira vítima.

    São provavelmente sintomas desse fenômeno de crise da representatividade, a celebridade mediática alcançada pelos desvios de conduta de parlamentares, e os debates entre a moral e a política que não cessam de surgir na opinião pública, o que, vale aqui salientar, não é nenhum privilégio da sociedade brasileira.

    Faço aqui recurso ao pensador francês Julien Freund, cujas decepções íntimas causadas pela realidade da prática política o levaram a estudar o que é a essência da política, ou seja, a descobrir o que se esconde atrás do véu hipócrita de certas concepções moralizantes. Não se tratava para ele de subtrair a política do julgamento moral, nem de isolar esses dois conceitos um do outro, mas simplesmente de reconhecer que eles não são idênticos, pois a moral e a política não visam os mesmos objetivos.

    Apesar de ser desejável que o homem político seja também um homem de bem, ele pode também não o ser, pois tem a seu encargo a comunidade política, independentemente da sua qualidade moral. Julien Freund chama a atenção de que reside na identificação da moral com a política uma das fontes primárias da intolerância, do despotismo, das ditaduras, e dos tribunais populares.

    Apesar de estar consciente que não existe uma política moral, mas que se pode construir uma moral política, Julien Freund nos recomenda apelar para a vigilância e para a lucidez. Uma lucidez que sabe que ela não será jamais capaz de eliminar a morte, a violência, a maldade e a corrupção dos homens; uma vigilância que conclama a construir muralhas sólidas, um regime de governo e um conjunto de leis que evitem os exageros.

    Dilma parece ter assumido no íntimo de suas convicções o julgamento moral da política e por isso despreza todos políticos. Tem faltado a ela a lucidez de que governar os homens é mais valioso do que gerenciar planos, programas e obras”.

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    Da primeira vez que eu transcrevi o comentário como ele expressava idéias muito próximas às minhas eu mostrei discordância com a frase de Marco Antonio Castello Branco em que ele diz o que se segue:

    “Apesar de ser desejável que o homem político seja também um homem de bem, ele pode também não o ser, pois tem a seu encargo a comunidade política, independentemente da sua qualidade moral”.

    A meu ver é preciso esclarecer o que significa um homem de bem. Se se para ser um homem de bem é preciso apenas que se obedeçam as leis, um homem político tem de ser um homem de bem. Agora se exige outro comportamento específico para qualificar o homem como sendo um homem de bem é preciso saber que comportamento é este que o poderia tornar diferente do homem político ou que o político não precisaria ter.

    E deixo aqui os links para os posts “Para entender o governo Dilma” e “Pequeno manual de como discutir política nas redes sociais”. O post “Para entender o governo Dilma” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/para-entender-o-desgaste-do-governo-dilma

    E o post “Pequeno manual de como discutir política nas redes sociais” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/pequeno-manual-de-como-discutir-politica-nas-redes-sociais

    E o Marco Antonio Castello Branco ainda me causou mais surpresas. De início pelo sobrenome, pois a família Castello Branco para mim era muito identificada com Tancredo Neves, eu pensei que o comentário dele era proveniente de um prócer do PSDB. Até porque eu considero que a crítica de Marco Antonio Castello Branco é uma crítica de quem tem muita informação teórica sobre a política em uma visão mais realista e que penso que esta é a visão dos próceres intelectuais mais antigos do PSDB. O PSDB apenas não divulga como sendo do partido esta visão realista, pois como exercem a política com um viés apenas eleitoreiro, na conquista do eleitor, o PSDB propaga uma visão utópica da política, mais fácil de ser assimilada pelo eleitor.

    Pois bem, mas à frente eu vi referência ao Marco Antonio Castello Branco como fazendo parte da equipe de transição de Fernando Pimentel. E ele vai assumir a presidência da Codemig e foi presidente da Açominas e até a indicação para fazer parte da equipe de transição de governo era vice-presidente da FIEMG, cargo que eu creio ele poderá continuar ocupando, pelo menos até a posse como presidente da Codemig (Agora no passado, pois ele assumiu em 01/01/2015).

    E como um parêntese lembro que a Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) foi criada no final do primeiro ano do governo de Aécio Neves, pela Lei nº 14.892, de 17/12/2003, a partir da Comig (Companhia Mineradora de Minas Gerais que surgira com a Leio nº 10.316, de 11/12/1990, quando a Camig (Campanhia Agrícola de Minas Gerais), criada pela Lei nº 1.716, incorpora a Metamig – Metais de Minas Gerasi S/A e passa a denominar Comig) e da incorporação da Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais – CDI-MG e da Empresa Mineira de Turismo e dos ativos da extinta Companhia de Desenvolvimento Urbano de Minas Gerais – Codeurb.

    Então avalio que a grande diferença entre Fernando Pimentel e Dilma Rousseff é que a vivência política mais cedo e mais intensa de Fernando Pimentel, um técnico, fê-lo compreender a superioridade do político em relação ao técnico, etapa que a presidenta Dilma Rousseff ainda estar trilhando.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 01/01/2014

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