Para não derramar o sangue de inocentes.

Para não derramar o sangue de inocentes. Só os covardes usam este argumento. A primeira vez que ouvi eu era ainda um moleque sonhador com a Revolução Francesa, meu paradigma do que pensava ser a solução para o Brasil. Era março de 1964. Eu, de orelhas grudadas no rádio, esperando que um certo general colocasse os golpistas para correr. Ilusão. O general fugiu com uma mala de dinheiro. O presidente eleito se mandou para o Uruguay e os golpistas se aboletaram no poder. Era por pouco tempo diziam eles. Ficaram 21 anos. Meu pai me recriminava: não o presidente não fugira, ele evitara que o sangue de inocentes fosse derramado.

Passaram-se dois anos e eu entrei na USP. E desde aquele momento eu cansei de ver correr o sangue de inocentes nas ruas e nas salas de interrogatórios sob tortura. Meu melhor amigo na universidade foi morto por uma rajada de metralhadora, sem poder esboçar uma reação. Como se fosse um saco de batatas, ficou jogado sobre a calçada da Avenida Angélica.

Depois de ver tanto sangue escorrendo, de ver tanto sofrimento no corpo e na alma, é que me dei conta como foram covardes os que fugiram para poupar o sangue de inocentes.

Hoje, novamente, ouço as mesmas palavras de quem quer calar a voz de golpistas violentos com sua moderação. Mas eu sei que o sofrimento e o sangue não escorrido hoje, escorrerá em dobro amanhã. Por isto eu digo: Que os covardes assumam sua covardia e fujam, mas deixem que os jovens derramem o seu sangue hoje, para que depois não vejam jorrar o sangue de seus filhos.

Redação

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