Quem Compra Equipamentos de Espionagem?

Toda a verdade é difícil saber.

VoaNews/DigitalFrontiers

Cinco vezes por ano, em diversas cidades como Praga, Washington, Brasília, Dubai e Kuala Lumpur, milhares de compradores e vendedores de equipamentos eletrônicos se reúnem para uma série de eventos que se tornaram conhecidos como “The Wiretapper’s Ball”. Onde se podem ver alguns dos produtos eletrônicos mais sofisticados que permitem praticamente qualquer tipo de vigilância eletrônica, desde o monitoramento e interceptação de chamadas de celulares até a gravação do tráfego dos usuários na web e localizar fisicamente o local dos indivíduos com precisão de um metro. Os fabricantes querem vender, e muitos governos e outras organizações que participam estão ansiosos para comprar. 

Embora grande parte desses produtos não fora, ainda, mostrada ao público, sua existência não é muito segredo. Os repórteres Sari Horwitz, Shyamantha Asokan e Julie Tate informaram no jornal Washington Post, recentemente, que encontraram mais de 35 agencias do governo dos EUA registradas para participarem da conferência de vigilância em Washington. Elas só foram superadas em número pelos mascates com  suas mercadorias high-tech:

“Uma empresa alemã, a DigiTask, oferece um dispositivo do tamanho de uma maleta de mão capaz de monitorar o uso nas redes públicas Wi-Fi da Web, tais como nos cafés, aeroportos e hotéis. O advogado que representa a empresa, Winfried Seibert, se recusou a falar sobre seus produtos. “Eles não vão responder às perguntas sobre o que é oferecido”, disse ele. “Isso é um segredo. Isso é um segredo entre a empresa e o cliente.”

Mas quem são esses clientes, e que tipo de tecnologia está sendo disponibilizado para os governos ao redor do mundo? O coordenador da Wiretapper Ball, Jerry Lucas, disse claramente que os governos repressivos, como Síria, Irã e Coréia do Norte não são permitidos nos eventos, mas isso não é uma garantia de que essas tecnologias avançadas nunca cheguem a esses lugares.

Não há estimativas sólidas para o tamanho da indústria internacional no setor de vigilância. Sabe-se, no entanto, que envolve centenas de empresas – muitas delas baseadas nos Estados Unidos, Alemanha, Grã-Bretanha e Israel – e milhares de clientes, incluindo corporações, departamentos de policias e governos. Seguir a trilha para onde toda essa tecnologia se destina, é coisa complicada, e isso está gerando alarmes entre as organizações de direitos humanos. Por exemplo, após a queda dos governos da Tunísia e do Egito, os rebeldes documentaram que equipamentos avançados de vigilância foram utilizados pelos governos para monitorar e acompanhar as atividades online dos rebeldes.

Mais recentemente, monitores na Internet descobriram que os equipamentos de vigilância de duas empresas dos EUA, NetApp e Blue Coat Systems, foram instalados e estão sendo usados ​​pelas autoridades sírias para fins ainda desconhecidos; Os senadores dos EUA Robert Casey e Mark Kirk solicitaram uma investigação. E há um mês atrás a empresa italiana de tecnologia, Área SPA, anunciou que estava parando o desenvolvimento de um projeto de vigilância na Síria que, se concluído, teria passado a Damasco “… o poder de interceptar, perscrutar e catalogar praticamente todos os e-mails que fluem através do país. “

Em um novo documento nesta semana, o grupo Wikileaks compilou um banco de dados público chamado de “The Spy Files.” Indexado por dados como fabricantes, ano do contrato e produtos oferecidos, que documenta aquilo que o fundador da Wikileaks, Julian Assange, chama de expansão desregulada do “setor de vigilância de massa”:

“As empresas internacionais de vigilância estão baseadas nos países tecnologicamente mais sofisticados, e vendem a sua tecnologia para todos os países do mundo. Na prática, esta indústria nunca foi regulamentada. As agências de inteligência, forças militares e as autoridades policiais são capazes de, silenciosamente, e em massa [sic]… secretamente interceptar chamadas e invadir remotamente computadores sem a ajuda ou o conhecimento dos provedores de telecomunicações. A localização física dos usuários pode ser rastreada se estiverem levando um telefone celular, mesmo que esteja em modo de espera”.

160 empresas ao todo estão listadas no “Spy Files”, juntamente com breves especificações de seus produtos e detalhes de alguns dos seus clientes. Há também  um mapa de procura para futuras pesquisas.

E, embora haja proibições de venda desses equipamentos de alta tecnologia para os países atingidos com sanções, como o Irã ou a Birmânia, porém as sanções são muitas vezes mal feitas, e não há nenhuma garantia de que nenhum intermediário compre legalmente o equipamento de vigilância de uma empresa, e depois vá transferi-lo para uma nação proibida.

Mas aqueles que defendem a privacidade querem mais, incluindo um amplo acordo global que rigidamente regule quem pode comprar qual tipo de equipamento. Até lá, no entanto, o mercado mundial da vigilância, provavelmente, se manterá saudável, embora sombrio.

Você pode ler mais sobre o Wikileaks “Spy Files” aqui no Technorati, e aqui no Forbes. Também, temos essa análise mais profunda da empresa de mídia francesa, OWNI, como os equipamentos de origem ocidental foram usados pelo governo Gaddhafi para espionar e controlar as atividades dos rebeldes. Vale a pena essa leitura. 

Luis Nassif

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