Revelado – A Rede Capitalista Que Dirige O Mundo

As 1.318 corporações que formam o núcleo da economia. As super conectadas são vermelhas e as muito conectadas são amarelas.


 
New Scientist Magazine.

 21 de outubro de 2011

Enquanto os protestos contra o poder financeiro corriam o mundo esta semana, a ciência pode ter confirmado os piores temores dos manifestantes. Uma análise das relações entre as 43.000 empresas transnacionais identificou um grupo relativamente pequeno de empresas, principalmente bancos, com poder desproporcional sobre a economia global.

As premissas do estudo têm atraído algumas críticas, mas os analistas de sistemas complexos contatados pelo New Scientist dizem que se trata de um esforço único para desembaraçar o controle da economia global. Empurrando a análise mais além, dizem eles, poderia ajudar a identificar formas de tornar o capitalismo global mais estável.

A idéia de que alguns banqueiros controlam uma grande fatia da economia global pode não parecer novidade para os participantes do movimento Occupy Wall Street e manifestantes em outros lugares (ver foto). Mas, o estudo feito por um trio de teóricos sobre sistemas complexos no Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Zurique, é o primeiro a ir além da ideologia para identificar, empiricamente, essa tal rede do poder. Eles combinaram uma matemática muito utilizada para modelar sistemas naturais com os compreensivos dados corporativos, para mapear a titularidade do domínio entre as corporações transnacionais do mundo (TNCs).

“A realidade é tão complexa, que devemos se isentar de dogmas, pois se pode tratar de teorias de conspiração ou de livre mercado”, diz James Glattfelder. “Nossa análise é baseada na realidade”.
Estudos anteriores descobriram que algumas TNCs dominam grandes fatias da economia mundial, mas esses estudos incluíram apenas um número limitado de empresas e omitiram suas posses indiretas, portanto, não poderiam dizer como isso afetava a economia global – por exemplo, se isso a tornava mais ou menos estável.

A equipe de Zurique pôde. De Orbis 2007, um banco de dados que lista 37 milhões de empresas e investidores de todo o mundo, a equipe obteve as 43.060 empresas transnacionais e a participação que as interligavam. Então eles construíram um modelo no qual as empresas controlam outras através das redes de ações (shareholding networks), e usaram também as receitas operacionais de cada empresa, para mapear a estrutura do poder econômico.

O trabalho, a ser publicado no PLoS One, revelou um núcleo de 1.318 empresas cujos proprietários se misturam (veja imagem). Cada uma das 1318 tinha ligações com outras duas ou mais empresas, e na média elas eram conectadas a 20. Mais ainda, embora elas representem por si só 20 por cento da receita operacional global, as 1318 aparecem por possuírem, coletivamente, através de suas ações das maiores “blue chip” (ações de maior liquidez) e das maiores empresas industriais do mundo – a economia “real” – o que representa mais de 60 por cento das receitas globais.

Quando a equipe desembaraçou ainda mais essa rede das titularidades, descobriu que as pistas levavam a uma “super-entidade” de 147 empresas ainda mais fortemente entrelaçadas – cujo patrimônio de cada empresa era controlado por outros membros da ‘super entidade’ – que controlavam 40 por cento da riqueza total na rede. “Na verdade, menos de 1 por cento das empresas eram capazes de controlar 40 por cento de toda a rede”, diz Glattfelder. A maioria era de instituições financeiras. Nas vinte maiores se incluíam Barclays Bank, JPMorgan Chase & Co, e The Goldman Sachs Group.

John Driffill, da Universidade de Londres, um especialista em macroeconomia, diz que o valor da análise não é somente  para mostrar que um pequeno grupo de pessoas controla a economia global, mas sim a sua participação sobre a estabilidade econômica.
A concentração do poder não é bom ou mau em si mesmo, diz a equipe de Zurique, mas as interconexões arrochadas do núcleo poderia ser. Como o mundo testemunhou em 2008, tais redes são instáveis. “Se uma [empresa] sofre revés”, diz Glattfelder “, isso se propaga.”

“É desconcertante ver como as coisas realmente estão ligadas”, concorda George Sugihara da Scripps Institution of Oceanography em La Jolla, Califórnia, especialista em sistemas complexos que assessorou a Deutsche Bank.

Yaneer Bar-Yam, chefe do New England Complex Systems Institute (NECSI), adverte que a análise assume que propriedade equivale a controle, o que nem sempre é verdade. A maioria das ações das empresas é possuída por gestores de fundos que podem ou não controlar o que as empresas, que eles possuem parte, realmente fazem. O impacto disso sobre o comportamento do sistema, diz ele, requer mais análise.

Decisivamente, identificando a arquitetura do poder econômico global, a análise pode ajudar a torná-lo mais estável. Ao encontrar os aspectos vulneráveis ​​do sistema, os economistas podem sugerir medidas para evitar que colapsos futuros se espalham por toda a economia. Glattfelder diz que podemos necessitar de regras antitrustes globais, que por enquanto só existem a nível nacional, para limitar o excesso de conexão entre as empresas transnacionais. Bar-Yam, diz que a análise sugere uma possível solução: as empresas deveriam ser tributadas por inter conectividade em excesso para desencorajar esse risco.

Uma coisa não vai entoar com algumas das reivindicações dos manifestantes: uma super entidade é improvável que seja o resultado intencional de uma conspiração para dominar o mundo. Tais estruturas são comuns na natureza“, diz Sugihara.

Recém chegados a qualquer rede se ligam preferencialmente aos membros já altamente conectados. TNCs compram ações uns dos outros puramente por negócios, não para dominar o mundo. Se o ato de conectar concentra, assim faz a riqueza, diz Dan Braha de NECSI: em modelos semelhantes, o dinheiro flui para os membros mais altamente conectados. O estudo de Zurique, diz Sugihara, “é uma forte evidência de que as regras simples que regem as empresas transnacionais, espontaneamente, premia os grupos altamente conectados”. Ou como Braha coloca: “A reivindicação do Occupy Wall Street, que um por cento das pessoas têm a maioria da riqueza, reflete uma fase lógica da economia que se auto-organiza”.

Assim, a super-entidade pode não resultar de conspiração. A questão real, diz a equipe de Zurique, é se ela pode exercer um poder político combinado. Driffill sente que 147 seja um numero muito grande para sustentar o conluio. Braha suspeita que elas vão competir no mercado, mas agirão em conjunto nos interesses comuns. Resistir a qualquer alteração da estrutura da rede pode ser um interesse comum.

O top 50 das 147 empresas super-conectadas:

1. Barclays plc
2. Capital Group Companies Inc
3. FMR Corporation
4. AXA
5. State Street Corporation
6. JP Morgan Chase & Co
 
7. Legal & General Group plc
 
8. Vanguard Group Inc
9. UBS AG
10. Merrill Lynch & Co Inc
 
11. Wellington Management Co LLP
12. Deutsche Bank AG
13. Franklin Resources Inc
14. Credit Suisse Group
15. Walton Enterprises LLC
16. Bank of New York Mellon Corp
17. Natixis
18. Goldman Sachs Group Inc
19. T Rowe Price Group Inc
20. Legg Mason Inc
21. Morgan Stanley
22. Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
23. Northern Trust Corporation
24. Société Générale
25. Bank of America Corporation
26. Lloyds TSB Group plc
 
27. Invesco plc
28. Allianz SE 29. TIAA
 
30. Old Mutual Public Limited Company
31. Aviva plc
 
32. Schroders plc
33. Dodge & Cox
34. Lehman Brothers Holdings Inc*
35. Sun Life Financial Inc
36. Standard Life plc
37. CNCE
38. Nomura Holdings Inc
39. The Depository Trust Company
 
40. Massachusetts Mutual Life Insurance
 
41. ING Groep NV
 
42. Brandes Investment Partners LP
 
43. Unicredito Italiano SPA
 
44. Deposit Insurance Corporation of Japan
 
45. Vereniging Aegon
 
46. BNP Paribas
 
47. Affiliated Managers Group Inc
 
48. Resona Holdings Inc
 
49. Capital Group International Inc
 
50. China Petrochemical Group Company

* Lehman still existed in the 2007 dataset used

Veja o original no link: http://www.newscientist.com/article/mg21228354.500-revealed–the-capitalist-network-that-runs-the-world.html 

Redação

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