São Francisco perde 50% da superfície de água natural em 30 anos

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Dados integram estudo lançado pela MapBiomas a pedido do Plano Nordeste Potência, para marcar o Dia Nacional de Defesa do Rio São Francisco

Cânion do rio São Francisco localizado na cidade de Canindé de São Francisco, divisa de Alagoas e Sergipe – foto: Cleferson Comarela/via Wikipedia

A Bacia do São Francisco perdeu 50% da superfície de água natural entre 1985 e 2020 – quando se consideram as ações humanas que aumentaram artificialmente a superfície em 13%, a redução foi de 4%, com destaque para perdas observadas no Alto e no Baixo São Francisco, 19% e 21% respectivamente.

Os dados integram um estudo lançado pela iniciativa MapBiomas para marcar o Dia Nacional de Defesa do Rio São Francisco, a pedido do Plano Nordeste Potência, iniciativa de um conjunto de organizações brasileiras que trabalham pelo desenvolvimento verde e inclusivo da região.

Entre outros dados divulgados, destaca-se a queda da superfície de água em quatro grandes reservatórios nos últimos 36 anos, com destaque para a hidrelétrica Luiz Gonzaga (antes Itaparica), entre Pernambuco e Bahia, seguida por Sobradinho, Três Marias e Xingó.

Outros dados do MapBiomas mostram que o uso da terra na bacia se intensificou no período. Atualmente, a cobertura de vegetação nativa nessa área é de 57%, mas chega a 30% no Baixo e 37% no Alto São Francisco.

Além disso, a região hidrográfica perdeu 7 milhões de hectares de vegetação nativa nas últimas três décadas para a agropecuária, restando 36,2 milhões de hectares – desses, somente 17% estão em áreas protegidas.

As pastagens ocupam 14,8 milhões de hectares e a agricultura, 3,4 milhões. A formação savânica foi a mais atingida, perdendo 4,6 milhões de hectares (14%). Além de Cerrado, os outros biomas compõem a bacia são Mata Atlântica e Caatinga.

As regiões do Baixo e Submédio São Francisco apresentam as maiores taxas de aumento de áreas de pastagem, 50% e 85% respectivamente. No Médio São Francisco, o destaque é para o aumento de 650% da agricultura, principalmente para a expansão da soja nos últimos anos. Já na região do Alto São Francisco, a silvicultura cresceu 400%.

Segundo Carlos Souza Jr., coordenador do MapBiomas Água, a ação humana pode não ser suficiente para manter as reservas de água da região, principalmente quando se considera a perspectiva de menos chuvas nos próximos anos.

“A criação de reservatórios aumenta a superfície de água, no entanto temos observado uma tendência de perda de água nos principais reservatórios, além da perda de superfície de água natural significativa na bacia do Rio São Francisco, isso favorece um cenário de crise hídrica”, disse Souza Jr., segundo o Observatório do Clima.

Para Renato Cunha, coordenador executivo do Gambá (Grupo Ambientalista da Bahia), os dados mostram que a Bacia do São Francisco tem sido afetada pela exploração sem planejamento tanto do seu solo como dos recursos hídricos.

“Hoje existem populações que vivem nessa região e que já sofrem com essas variações. Precisamos implementar soluções como a recuperação das áreas degradadas o mais rápido possível, além de promover uma boa gestão dos recursos”, afirma Cunha.

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Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

1 Comentário

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  1. Nova “seca cearense” à vista?
    Em 1863, diante da escassez de algodão no mercado mundial, provocada pela Guerra de Secessão estadunidense, D. Pedro II resolveu promover a expansão sem limites da cotonicultura nos sertões nordestinos, que vinha de anos bons de chuva. Até cidades foram criadas em função desse projeto Em Sergipe, Frei Paulo, do jornalista Anselmo Gois é um exemplo). Mas não veio a devida tecnologia de adaptação às secas. Como resultado, em 1869, já com a produção sulista estado-unidense voltando ao normal e as extensas plantações do Nilo, no Egito e até na Índia, o algodão caiu de preço. Pior: começou um dos mais agudos períodos de seca no semi-árido nordestino com centenas de milhares de pessoas espalhadas em pequenos núcleos, uma vez efemeramente vigorosos, sem condições de mobilidade… no Ceará, o estado mais atingido acredita-se que tenham morrido 300 mil; mas até a zona canavieira, do Rio Grande do Norte à Bahia foi atingida, antes mesmo de se refazer dos terríveis efeitos das epidemias de cólera que, em Sergipe, por exemplo, havia ceifado 42 por cento da população em 1855 e destruído a economia e o tecido social.

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