Sergio Leone, o pai do western spaghetti

Por Tamára Baranov – São Paulo/SP

Sergio Leone
(Roma, 03 de janeiro de 1929 – Roma, 30 de abril de 1989)

Muitas vezes considerado como um dos mais bem sucedidos diretores, Sergio Leone morreu em 30 de Abril de 1989 e deixou sua marca com uma abordagem narrativa única e excelente cinematografia. O pai do western spaghetti, gênero conhecido no Brasil como bang-bang à italiana, não é apenas um tesouro para cinema italiano, mas ícone do cinema mundial. O velho oeste de Hollywood foi virado de cabeça para baixo, em meados dos anos 1960, quando Leone encontrou um novo rosto para o faroeste e Clint Eastwood desbancou John Wayne. No entanto, não foi somente um novo rosto o responsável pela mudança; reforçados por sua habilidade técnica e estilo, Leone focou o lado dos bandidos e dos caçadores de recompensas em vez do xerife e dos moradores da cidade. Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Franco Nero eram os anti- heróis, vilões que matavam sem hesitação ou sentimento, e eram imorais e implacáveis comparados com seus antecessores.

Apesar de toda depravação, Sergio Leone de alguma forma fez tudo muito poético e isto resume o seu estilo. Ele mostrou um oeste com paisagens deslumbrantes, e o que ajudou a fazer os filmes de Leone tão épicos foi a música composta por Ennio Morricone. É sem dúvida a maior colaboração na história do cinema e Morricone é o maior compositor de cinema de todos os tempos. Esta parceria foi ainda mais essencial do que a de Alfred Hitchcock e Bernard Hermann. A obra de Leone não seria discutida e importante hoje sem a música de Morricone. E isso ficou claro na chamada trilogia dos dólares: ‘Per un pugno di dollari’ (Por um punhado de dólares), ‘Per qualche dollaro in più’ (Por uns dólares a mais) e ‘Il buono, il brutto, il cattivo’ (Três homens em conflito ou O bom, o mau e o feio), estrelados por Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach.

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Após o ambiente machista da trilogia dos dólares, Leone mostrou para o público o oeste através dos olhos de uma mulher, Claudia Cardinale em ‘Once Upon a Time in the West’. Leone também começou a trabalhar com um de seus ídolos, Henry Fonda, um cavaleiro branco de olhos azuis de anjo que transformou em seu vilão mais desprezível. Mais uma vez, a trilha sonora de Morricone complementaram as imagens de Leone, especialmente com o tema de Claudia Cardinale.

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Depois de reinventar o faroeste, Leone começou um projeto mais ambicioso ainda, ‘Once Upon a Time in America’. Um filme épico sobre pobreza infantil, amizade, o sucesso através do crime, traição e violência que se estende ao longo de um período de 50 anos em Nova York. O que Sergio Leone fez essencialmente foi migrar do oeste selvagem para Manhattan, um novo cenário no submundo do crime em Nova Iorque ao lado de jovens do gueto judeu. O sexo é um tema recorrente neste filme, e o personagem de Robert De Niro é o mais depravado de todos. Os personagens são possivelmente os bandidos mais cruéis e imorais retratados no cinema. Eles roubam, estupram e matam sem qualquer consciência moral, mas Leone nos retrata as suas condições de vida na infância e entendemos seus motivos. O personagem de De Niro também passa por uma situação mais apavorante que James Stewart em ‘Vertigo’ de Alfred Hitchcock. De Niro vive 35 anos de culpa acreditando que sua traição matou seus amigos apenas para descobrir que ele era a pessoa traída.

Duas cenas são incrivelmente comoventes em ‘Once Upon a Time in America’, em uma vemos um dos membros da gangue de crianças, Patsy, pronto para trocar um cupcake por sexo com a prostituta do bairro. Enquanto ele aguarda do lado de fora de seu apartamento a fome leva a melhor e ele come o bolo. É triste porque ele é pobre e faminto. Em outra, as lembranças do passado embaladas por uma das músicas mais lindas do cinema, de Morricone, é claro.

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‘Once Upon a Time in America’ foi considerado uma das maiores tragédias em termos de lançamento nos EUA. A versão original de 227 minutos foi vista pelo resto do mundo e considerado uma obra-prima pela maioria que estava preparada para sentar e se concentrar por quase quatro horas, mas o estúdio norte-americano, obviamente, não teve essa paciência e decidiram que o público não era capaz de se concentrar com a quantidade de tempo ou não podia seguir a narrativa não-linear. Portanto, eles editaram, picaram e repicaram 90 minutos o que colocou personagens em lugares que nunca vimos e cenas que continham personagens que nunca foram introduzidas. Foi uma desgraça completa para o filme, para Sergio Leone, para o público e para o cinema. Sergio Leone foi profundamente ferido por essa edição imposta e ‘Once Upon a Time in America’ foi seu último filme.

Sergio Leone foi um dos mais brilhantes cineastas da sua geração e inventor de um estilo em que não faltam lances de pura genialidade. Ele é hoje fonte de inspiração para novos cineastas como Quentin Tarantino.

http://www.youtube.com/watch?v=A-Fx-_5kpuc

Redação

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