Síria: Rússia se Apega ao Legado dos Laços Soviéticos no Mun

 

VoaNews/RussiaWatch

Enquanto o solitário porta-aviões russo se prepara para zarpar do Ártico para uma base operada pela Rússia na Síria, Sergei Lavrov, Ministro das Relações Estrangeiras da Rússia, manda aviso, advertindo contra a intervenção militar externa na lenta guerra civil na Síria.

“Não é tanto as autoridades, mas sim os grupos armados que estão provocando os levantes”, disse Lavrov a repórteres nessa terça-feira. Ele aconselhou que todas as partes pressionem os políticos da Síria a evitarem a violência, dizendo: “Isto tem a ver com aquilo que as autoridades vêm fazendo, mas mais ainda, isto se aplica aos grupos armados que atuam na Síria, mantendo contatos com vários países ocidentais e árabes. Todo mundo sabe disso. “

Depois de se posicionar no lado perdedor do Egito, Tunísia, Líbia e Iêmen, a Rússia agora está marcando sua posição na Síria.

O Kremlin espera que a Primavera Árabe se acabe no Inverno Árabe.

Na segunda-feira, um dia depois da Liga Árabe ter votado para impor sanções contra a Síria, Lavrov se reuniu com os embaixadores árabes em Moscou. Ele acentuou a política do Kremlin na qual os problemas internos “devem ser resolvidos pacificamente através do diálogo nacional destinado a promover a harmonia civil e sem interferência externa.”

A reunião parecia ser uma preparação para o já esperado veto da Rússia, caso a Liga Árabe peça ao Conselho de Segurança da ONU que aprove as sanções contra a Síria.

A Rússia tem muito interesse na Síria. E, embora seja uma conversa de paz, a maioria desses interesses é militar. Por mais de meio século, Moscou tem sido o principal fornecedor de armas da Síria.

O interesse do Kremlin na Síria vem desde a Crise de Suez em 1956.

Naquele ano, Moscou assinou um pacto de ajuda militar com Damasco.

Suas relações se fortaleceram ainda mais após o golpe sem derramamento de sangue em 1970, quando iniciou a dinastia dos Assads, líderes da minoria Alawite. Alguns meses após o golpe, Moscou assinou um acordo para a instalação de uma base naval para suprimento e manutenção em Tartus, um porto no centro da região dos Alawites.

Durante a era soviética, Tartus foi uma base fundamental para a Frota da Marinha Soviética no Mediterrâneo. Quando do colapso da União Soviética há 20 anos, essa frota foi dissolvida e o poder naval russo em grande parte retirou-se do Mediterrâneo.

De acordo com o jornal Izvestia, 600 técnicos russos estão agora trabalhando em Tartus, modernizando as instalações, dragando o porto, e preparando-o para visitas da marinha russa. Na próxima semana, o porta-aviões Admiral Kuznetsov deixará o Ártico e seguirá em direção a Tartus. O Kuznetsov, que leva pelo menos 10 Sukhois de último modelo e caças Mig, deve receber a companhia de outros dois navios da marinha russa.

O show da força naval da marinha russa acontece uma semana após uma força-tarefa naval americana, liderada pelo USS George HW Bush, o mais novo porta-aviões da marinha americana, chegar à costa da Síria.

Se as cartas desse jogo diplomático forem as canhoneiras, a Rússia leva vantagem na terra. Centenas de oficiais ativos da Síria foram treinados nas academias militares russas. Os oficiais Alawite treinados na Rússia poderiam tentar um golpe palaciano, de acordo com um cenário explorado por Nour Malas no Wall Street Journal de terça-feira.

Malas cita um oficial Alawite exilado na Jordânia dizendo: “Uma vez que recebam a luz verde da Rússia, os (oficiais Alawites) devem seguir em frente.”

Mas é muito improvável que a maioria sunita da Síria aceite uma troca de governo entre a minoria Alawite.

Em outro cenário, a Síria se desintegraria em uma federação étnica independente. Neste caso, os Alawites se retirariam para seu reduto histórico no litoral, uma área que foi um Mini-Estado durante o período francês de 1920 a 1946. Assim, os sunitas passariam a controlar Damasco e Aleppo, as duas maiores cidades da nação. Na costa controlada pelos Alawites, os direitos dos russos na base permaneceriam intactos.

Mas, é improvável que os governantes sunitas em Damasco aceitem governar um estado sem litoral e sem representatividade.

Por enquanto, Moscou está falando de paz – mas está começando a manejar seu belo porrete.

“Um cenário envolvendo intervenção militar em assuntos sírios é absolutamente inaceitável para nós”, disse na sexta-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Estrangeiras, Alexander Lukashevich, às vésperas da votação da Liga Árabe para impor sanções.

Então, no domingo, poucas horas depois da votação da Liga Árabe, um oficial do Estado-Maior da Rússia informou ao jornal Izvestiya sobre o envio do porta-aviões em águas sírias.

Pela maneira com que o Kremlin move suas peças nesse estratégico tabuleiro militar, o que está em jogo na Síria é a permanência de um dos dois remanescentes dos principais aliados árabes da Rússia no Mediterrâneo. Se a Síria se for, apenas a Argélia permanecerá dos anos de glória da diplomacia soviética no mundo árabe. 

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador