Crônica: Uma Descoberta Fabulosa

 

Por Pedro Leal Junior

Soube por um amigo meu, de muita confiança, juiz de piso da quarta região, que o marido de sua prima, um famoso arqueólogo, em trabalho de cooperação internacional, encontrou em profundas escavações no maior site arqueológico de Joanesburgo um antiquíssimo pergaminho.

Após ser estudado detalhadamente pelo Institute of Social & Cultural Anthropology of Oxford, o valioso pergaminho revelou seus segredos.  Pertencia à longínqua era. Período que os acadêmicos denominaram de: ANOS SESSENTA.

Pela antiguidade do artefato, não foi possível precisar sua origem. O melhor que se obteve foi uma estimativa de quando e onde o pergaminho fora escrito: aproximadamente em 12 de junho de 1964, as 18:35:21,5 GMT na esquina da rua 97, Fox, em Joanesburgo, na África do Sul, ali, perto da Praça Gandhi, dentro de um cesto já petrificado.

Mas, o mais impressionante, eu ainda estou por contar. E é informação de fonte segura. Esse amigo meu, o juiz de piso, disse que sua prima, casada com o arqueólogo, contou-lhe que seu marido revelou o conteúdo do pergaminho, pedindo muita discrição e absoluto segredo. 

E ele me disse que o pergaminho registra a mais antiga conversa de um grupo de WhatsApp.

Sim, meus amigos, vocês leram corretamente. É… Podem reler a frase a cima, eu aguardo…, …, ,… Pois então. É isso, mesmo, uma conversa de WhatsApp registrada em um pergaminho de Joanesburgo em 1964.

Pois bem, após três longos anos debruçado sobre o pergaminho, e ouvindo diversos especialistas, o arqueólogo, marido da prima de meu amigo juiz de piso afirma que os fundadores do WhatsApp, Jan Koum e Brian Action não se encontraram por acaso. Não. O destino deles já estava traçado por seus pais. Ele me contou, pedindo sigilo absoluto, que o pai de Brian Action, que era soviético, e o americano pai de Jan Koum se encontraram para uma experiência científica ultrassecreta ocorrida em Joanesburgo em plena guerra fria: criar o primeiro grupo de WhatsApp.

O pai de Jan, apesar de nunca ter sido divulgado, fora um espião soviético enviado à África do Sul para ajudar o  CNA (Congresso Nacional Africano) a instalar o regime comunista no país. Já o pai do Brian fora enviado pela CIA para ajudar o Partido Nacional na luta contra o CNA.

Indaguei, curioso, ao meu amigo, juiz de piso, como ele poderia saber disso tudo, já que, como todos sabemos, há muito pouca ou quase nenhuma informação pública desse período da história da humanidade. Apenas sabemos de alguns fatos por relatos duvidosos.

Meu amigo juiz de piso me fita com o olhar que apenas os grandes homens possuem, e com uma voz tranquila e lenta, e ao mesmo tempo afirmativa e dura, e diz:

– Eu tenho convicção.

Nada mais foi preciso dizer. Sabemos que, quando um juiz de piso tem convicção, não resta a menor dúvida da verdade do fato. Não estou falando de um mero juiz da Suprema Corte…, não…, estou falando de um juiz de piso da quarta região! E por isso eu repito, este relato que lhes faço, é fiel em todos os níveis com os fatos verdadeiramente ocorridos. Pois o marido da prima do juiz de piso, meu amigo, segredou a ela, que logo repassou a ele, que me repassou com a convicção da verdade.

Sabemos então que no dia 12 de junho de 1964, os dois pais se encontraram no Pub The Benders Arms, na rua Fox para acompanhar as comemorações na cidade.

Sabe-se que nesse dia, havia uma alegria generalizada, a cidade estava em festa. Era o último dia, o dia da sentença final do julgamento de Rivonia. Todo cidadão de bem da África do Sul comemorava a prisão perpétua de Nelson Mandela.

Foguetes eram lançados pelos quatro cantos do país. Panelas soavam como sinos em cidades barrocas, carros buzinavam eufóricos.

Para quem não sabe, Nelson Mandela fora um criminoso foragido que provocou grande desordem no País. Líder do proscrito CNA (Congresso Nacional Africano), comandara uma luta armada pelo fim do Apartheid e pela implantação do comunismo, sabotara propriedades e desestabilizara a economia do país. Fora encontrado e preso em Rivonia (periferia de Joanesburgo), junto a documentações comprometedoras.

Após quase um ano de julgamento, fora sentenciado à prisão perpétua. Finalmente a economia do país iria se estabilizar. Investimentos internacionais iriam retomar um fluxo positivo e crescente. E a ameaça do comunismo estaria definitivamente afastada. E principalmente, o Sapo Mandiba ficaria preso para sempre!

Meu amigo, juiz de piso, relata que, ainda não se sabe muito bem como os pais de Jan e Brian se conheceram. Se fora nesse mesmo dia ou se já haviam trocado conversas antes. Mas, como a sentença de Mandela seria um evento significativo e os dois queriam registrar as conversas dos cidadãos sul-africanos, mais precisamente dos africânderes, eles se uniram no interesse em comum. Nesse momento houve a ideia da criação do aplicativo WhatsApp para registrar as conversas da classe média sul-africana.

A ideia consistia em convencer um grupo de pessoas a trocarem mensagens via o aplicativo. As mensagens ficariam registradas em um “Device”. Então, os governos soviéticos e americanos poderiam acessar, secretamente essas conversas.

Esse experimento obtive um resultado muito positivo. O suficiente para que os filhos desses heroicos pais se apropriassem dela e se tornassem bilionários. Mas isso é outra história. Voltemos nossa atenção para o histórico pergaminho

 No Pub The Benders Arms, naquela noite, os famosos pais encontraram o grupo adequado para o experimento. O grupo de WhatsApp do pergaminho, era composto principalmente por “pessoas de bem”. Pessoas que queriam o melhor para o País. Quase todos do grupo concordavam que a ordem trazida pelo governo do Partido Nacional era a base correta para o crescimento do país. O modelo econômico liberal defendido e implementado era o que melhor serviria ao país. E que o Mandela precisava ser preso para o país voltar a crescer. O regime de Apartheid era duro, mas necessário. Quase todos achavam isso, mas alguns poucos membros do grupo infernizavam os outros com suas ideias comunistas. E é sobre isso que o pergaminho informava.

Naquela época, os pais de Jan e Brian conceberam o aplicativo WhatsApp não executando em um celular (óbvio: celulares ainda não existiam). As conversas WhatsApp eram, sim, registradas em um pergaminho enrolado em um tubo. O nome do “Device” que suportava o aplicativo era: Papel Higiénico.

Para o aplicativo funcionar, à época, o grupo deveria estar junto, em torno de uma mesa. Enquanto falavam, os pais de Jan e Brian registravam as falas no aplicativo (papel higiénico). Era chamado de ATA de Reunião de Boteco.

Depois de servir como ATA, como todo “Device” multiuso, o pergaminho retornava ao seu recinto natural, o banheiro, e era usado em outras finalidades. Os cientistas chamaram de finalidade número 2 (para diferenciar da finalidade número 1 que era o de servir como ATA). Ao ser usado na finalidade número 2, o pergaminho acabava por ser fragmentado, amassado em diversos pequenos pedaços de papeis e atirados a um cesto.

O trabalho arqueológico foi, assim que o cesto histórico fora encontrado, reunir todos os pedaços que compunham o pergaminho. Então frase a frase, separaram o que foi oriundo da ATA e o que foi oriundo do uso número 2.

Nesse ponto, tenho que fazer um comentário importante. Os especialistas não conseguiram separar todos os casos do uso número 2 da ATA. Em muitos casos não se sabe se a frase veio da ATA ou se a frase é resultado do uso número 2. Mas não comprometeu o entendimento do que era discutido nesse grupo. Pelo contrário, até parecia que o uso número 2 complementava a ATA.

Vamos finalmente ao conteúdo do pergaminho:

@MALA1 falou: “Um brinde: Mandela finalmente terá o seu encontro histórico com a prisão e com a decepção de um povo que por anos lhe sustentou e apoiou. E a África do Sul terá o seu encontro com a história. Que o nosso futuro seja grandioso e brilhante. O primeiro passo foi dado!”

@MALA1 foi o nome dado a um dos membros do grupo, provavelmente porque era um viajante assíduo.

Todos levantaram para o brinde, com exceção de @PEDRO1. Esse era o mais chato e insuportável do grupo. Não concordava que a prisão tenha sido correta. Achava que (por incrível que pareça!) Mandela estava certo.

@PEDRO1: “(emojis de irritado) Não vamos falar de política aqui não. Quem quiser falar de política, que vá para outra mesa!!!!”

@ALBERT1: “A galera toma partido pela paixão e não pela razão, sem considerar a real importância que esse fato significa para a África do Sul!!!”

@ALBERT1 era um intelectual, economista, cientista político e sociólogo. Iluminava o grupo com sua sabedoria.

@PEDRO1: Um brinde pela tristeza desse momento. (@PEDRO1, o desmancha prazeres).

@MALA1: [censurado] [emojis raivosos] não se sabe se essa frase foi realmente do @MALA1 ou se do uso número 2.

@PIMPAO1:  serifo buidor jusito dopweri dort!

O @PIMPAO1, após algumas cervejas, falava uma língua não identificada e impossível de traduzir.

@SECRETÁRIA1: (emojis de gargalhada).

Não sabemos se a @SECRETÁRIA1 entendeu o que o @PIMPÃO1 disse ou se estava rindo porque ela ria à toa. 

@Pai_do_Brian: “Mais uma rodada, Souza!!!”

O @pai_do_Brian uniu-se ao grupo para motivar a conversa.

@MALA1: publica um meme: “Não vibrem raiva pelos políticos que caem… vibrem gratidão pela LIMPEZA ÉTICA que acontece.”

@PEDRO1, o desmancha prazeres: “Limpeza ética? Qual ética? Lembre-se que a expressão foi usada por nazistas!”

Souza, o garçom não-branco, chegou com outra rodada de cerveja.

@MIMOSA1 grita: Vocês vão parar de discutir política!!!!

A @MIMOSA1, a mais ancestral participante do grupo. Era uma sábia anciã respeitada por todos.

Silêncio…

Silêncio…

que é quebrado por:

@PIMPÃO1:  Nuhm der gertunho é runhas!!!!

@SECRETÁRIA1: [emojis de gargalhada]

E todos silenciam por mais um tempo. Provavelmente tentando entender o que o @PIMPÃO1 disse.

Nessa hora o insuportável do @PEDRO1, solta o post derradeiro:

@PEDRO1: “Guardem minhas palavras: o Mandela será solto! O Mandela será premiado com um Nobel da PAZ! O Mandela será reconhecido no mundo todo como símbolo da luta do oprimido! O Mandela será presidente da África do Sul!”

A cada frase, o grupo publicava mais emojis de gargalhada. Os cientistas acreditam que o grupo estava próximo do recorde de emojis de gargalhada em um único dia. Sabe-se que a @SECRETÁRIA1 caiu da cadeira de tanto rir. O @MALA1 gargalhou durante horas. Até a anciã @MIMOSA1 não conseguiu segurar e mostrou sua larga arcada dentária, arcada essa que caiu no copo a sua frente. Mas logo, recuperada, foi recolocada no devido lugar.

A frase era um grande absurdo. E de tão grande, e de inesperada, se tornou a piada do grupo durante diversos encontros.

Apenas esse trecho do WhatsApp foi possível recuperar do histórico pergaminho. E mesmo assim, não se sabe direito o que é da ATA e o que é do uso número 2.

Como conta meu amigo, de muita confiança, juiz de piso da quarta região, que o marido de sua prima, um famoso arqueólogo, segredou para ela que Institute of Social & Cultural Anthropology of Oxford apurou que, para o bem do grupo e saúde mental de todos, o grupo foi dissolvido antes que as profecias do @PEDRO1 se realizassem, 27 anos depois. Dissolução muito boa para o grupo, porque ninguém aguentaria o @PEDRO1 repetindo insistentemente: Eu te disse!!! Mas eu te disse, não disse? Eu te disse!!!

 

Redação

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