Valeska Zanin no Cai na Roda: Lava Jato conseguiu o descrédito total da Justiça

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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De desabafos às frustações, advogada fala sobre as mazelas do lawfare no Brasil, traumas na defesa de Lula e suas lutas silenciosas como mulher no Direito

Advogada Valeska Teixeira Zanin Martins é a entrevista do Cai na Roda de hoje – Foto: Paulo Pinto/PT

Jornal GGN – A advogada criminalista e uma das integrantes da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Valeska Teixeira Zanin Martins, destaca as mazelas do lawfare no Brasil – prática do modus operandi da Operação Lava Jato, os ataques ao escritório de advocacia nos últimos meses pela força-tarefa do Rio de Janeiro e também suas lutas silenciosas como mulher na carreira de Direito, na edição deste sábado, 3, do Cai na Roda, programa tocado pelas mulheres da redação GGN e exibido no Youtube.

Valeska pontua os desafios ao assumir a defesa de Lula, ainda em 2014. E que, dois anos mais tarde, se mostraria como um dos casos mais complexos da história do Direito, por meio da prática denominada ‘lawfare’, uma guerra que tem no Direito a sua arma política, como explica a advogada. 

“Em 2016, já tendo em vista o que nós denominamos a nossa releitura de ‘lawfare’, nós fomos à ONU [Organização das Nações Unidas] e falamos: Lula vai ser denunciado e ele, sem dúvida alguma, vai ser condenado. Por quê? Porque a Justiça, a Lava Jato, tinha pretensões políticas, que era a retirada do ex-presidente das eleições 2018, como de fato ocorreu, apesar de todos nossos esforços de inúmeros recursos”, diz a advogada ao GGN

Após o grande desafio, hoje Valeska, Cristiano Zanin e o escritório de defesa de Lula são os alvos dos ataques. Em setembro, o juiz federal Marcelo Bretas, que julga os processos da força-tarefa do Rio, ordenou o bloqueio de até R$ 237,3 milhões em bens de Cristiano e do escritório de advocacia, no âmbito Operação E$quema S. “Nós avisamos, nós falamos que uma das táticas mais conhecidas do lawfare é o ataque aos advogados”, diz Valeska.

“Nós sempre soubemos e avisamos, há cinco anos, que seríamos vítimas do poder estatal, porque nós nunca nos calamos, sempre denunciando as ilegalidades cometidas em todos os âmbitos da Lava Jato”, afirma, antes de disparar: O que eles visavam, na realidade, era esse espetáculo, era o desvio de foco e também ter acesso a materiais sigilosos do caso Lula.”

O declínio da Justiça

Segundo Valeska, a única forma de se combater o lawfare é por meio da conscientização, instrumentalizando o conhecimento e, uma vez constatado, criando possibilidades de estratégias. “Nós temos que entender como criar mecanismos de defesa, para que esse fenômeno nefasto possa ser neutralizado. Depois da Lava Jato e o Brasil como hub, você vê um declínio de vários Judiciários ao redor do mundo e a lei sendo utilizada como arma de guerra para aniquilar inimigos, tanto comerciais, quanto políticos e militares.”

A advogada explica que não só mecanismos jurídicos são utilizados, como também o papel da imprensa é “crucial” ao concretar os abusos cometidos pela Lava Jato. “Há por trás toda uma guerra psicológica (…) que se utiliza das redes e da mídia para, através de uma série de mecanismos, influenciar o público, gerando ódio e descrença. Não é à toa que nós estamos onde estamos, com um povo que odeia o próximo, um povo que não acredita mais no Judiciário e não existe ataque maior para um Estado Democrático de Direito do que a população não acreditar no seu próprio Judiciário, e é isso que a Lava Jato conseguiu: o descrédito total do sistema de Justiça”, dispara Valeska. 

Prisão de Lula foi traumatizante, desabafa

Valeska conta suas frustrações para as mulheres da redação GGN. Questionada sobre a prisão arbitrária do ex-presidente Lula, ela afirma: “a prisão foi um dos momentos mais traumatizantes da minha vida”. “São tantas ilegalidades. Você vê lá atrás a tentativa, crescente, de matar o ídolo Lula, de matar o trabalho dele, de apagar a história e reescrever a história. É a tentativa de reescrever a história.”

“Lula, até hoje, teve os seus bens todos bloqueados, ele sofreu 580 dias de uma prisão arbitrária, irreparável, ele não pode concorrer à Presidência da República. Está aí a irreparabilidade não só a ele, mas à democracia. Não é o direito de um único cidadão, mas o direito de 140 milhões de eleitores do Brasil”, diz a advogada. 

O machismo no Direito

Em uma hora de entrevista, Valeska também conta os desafios de ser uma mulher profissional do direito e como o machismo sempre atravessou sua carreira. “Eu sempre soube, sempre esteve presente na minha atuação profissional essa cultura [do machismo], mais brasileira do que qualquer outra coisa, e que hoje chegou a níveis insuportáveis, porque realmente é”, desabafa. 

E relata como é cansativo ser mulher neste meio. “Porque nós [mulheres] temos que provar duas vezes, nós temos que falar mais alto, porque se não você não é ouvida”, completa. 

Participaram desta edição as jornalistas Lourdes Nassif, Tatiane Correia, Patricia Faermann e Cintia Alves.

[Clique no vídeo acima e ative o botão “definir lembrete” para receber uma notificação sobre o início da transmissão. Aproveite e inscreva-se no canal do GGN no Youtube. Todos os dias, às 20h, tem live com Luís Nassif e, aos domingos, mesmo horário, o bate-papo é exclusivo com membros do canal.]

CAI NA RODA – Com novos episódios todos os sábados, agora a partir das 20h, o “Cai Na Roda” é um programa semanal de entrevistas realizado pelas jornalistas do GGN, com o intuito de dar voz e vez a mulheres de diversas áreas de conhecimento.

Já recebemos Manuela d’Ávilla, Hildegard Angel, Ana Estela Haddad, Gleisi Hoffmann, Esther Solano, Letícia Sallorenzo, Laerte Coutinho, Tata Amaral, Cilene Victor, Eliara Santana e a ativista Paula Nunes.

Confira as últimas edições reunidas nesta playlist aqui.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

4 Comentários

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  1. A Valeska e o Cristiano dignificam o papel do advogado na sua luta para defender as vítimas de ilegalidades, injustiças e abusos de poder, em especial, face à brutalidade da utilização do Estado contra o “inimigo” escolhido. O Judiciário seria muito mais legítimo se tivesse a transparência que a Valeska apresenta de forma cristalina.

  2. Valeska Zanin afirma que o maior crime do Lawfare é fazer a população não acreditar no seu Judiciário. Não posso concordar com essa afirmação. O déficit de Justiça no Brasil é um fenômeno histórico. O judiciário foi um serviçal cordial de ditaduras brutais.

    O STF mandou Olga Benário ser entregue à Alemanha nazista; ela foi morta numa câmara de gás. Os assassinos e torturadores da Ditadura Militar nunca foram realmente incomodados pelos juízes. Eles aplicam uma Lei de Anistia julgada inválida pela Comissão de Direitos Humanos da OEA.

    Quem convocou o Exército para resolver o problema de Canudos foi um juiz. A justiça tem legitimado diversos abusos cometidos pela milícias cariocas. O erro dos brasileiros era justamente acreditar no Judiciário. Nesse sentido, a Lava Jato não foi um ponto fora da curva.

    Essa operação, que devastou nossa economia e interferiu na eleição, tem um mérito indesejado por Sérgio Moro e pelos manos dele no TRF-4: a Lava Jato fez o povo começar a odiar o Judiciário e a detestar os juizes. Se esse sentimento resultar na demolição da inJustica tanto melhor.

  3. Uau! parabéns mulheres GGN! Super!

    primeira vez que vejo alguém, neste jornalismo de mulher para mulher, mostrar que a Lava Jato seguiu e ainda segue todo o beabá da CIA……………………..com a recomendação de que denúncias contra Lula jamais poderão faltar, mesmo que o juiz aceite a denúncia para só depois, às vezes logo em seguida, ordenar que a polícia federal se empenhe em encontrar o mais rapidamente possível as provas que fundamentaram a sua aceitação.

    Aí a Globo entra para ajudar. Sempre neste ponto. Podem reparar

    Bretas tentou fazer o mesmo contra advogados, mas se deu mal, como não poderia deixar de ser Ministro Gilmar Mendes já aplicou um corretivo nele

  4. Valeska Zanin afirma que o maior crime do Lawfare é fazer a população não acreditar no seu Judiciário. Não posso concordar com essa afirmação. O déficit de Justiça no Brasil é um fenômeno histórico. O judiciário foi um serviçal cordial de ditaduras brutais.

    O STF mandou Olga Benário ser entregue à Alemanha nazista; ela foi morta numa câmara de gás. Os assassinos e torturadores da Ditadura Militar nunca foram realmente incomodados pelos juízes. Eles aplicam uma Lei de Anistia julgada inválida pela Comissão de Direitos Humanos da OEA.

    Quem convocou o Exército para resolver o problema de Canudos foi um juiz. A justiça tem legitimado diversos abusos cometidos pela milícias cariocas. O erro dos brasileiros era justamente acreditar no Judiciário. Nesse sentido, a Lava Jato não foi um ponto fora da curva.

    Essa operação, que devastou nossa economia e interferiu na eleição, tem um mérito indesejado por Sérgio Moro e pelos manos dele no TRF-4: a Lava Jato fez o povo começar a odiar o Judiciário e a detestar os juízes. Se esse sentimento resultar na demolição da inJustiça tanto melhor.

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