Xadrez da Lava Jato e a corrupção em Angola – Capítulo 1: o caso Isabel Santos

Como a Lava Jato, empenhada em destruir apenas a Petrobras, fez vista grossa para a maior corrupção do planeta

Dividido em capítulos, mostramos como a Lava Jato, empenhada em destruir apenas a Petrobras, fez vista grossa para a maior corrupção do planeta, o caso Sonangol, em Angola.

A empresa central dessa trama é a Trafigura, multinacional suíça de comercialização de petróleo, principal concorrente da Petrobras, pela disputa do petróleo de Angola, e diretamente envolvida na corrupção maior da empresa, a que ocorria no Departamento de Comercialização.

Capítulo 1 – o caso de Isabel dos Santos, a mulher mais rica da África

Os principais jornais do mundo publicam hoje, simultaneamente, um trabalho sindicalizado de jornalistas investigativos sobre um dos maiores casos de corrupção do planeta: a história de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, que se tornou a mulher mais rica da África, com patrimônio estimado em US$ 2,2 bilhões de dólares, distribuídos em mais de 400 empresas e subsidiárias.

As pesquisas foram baseadas em um conjunto de documentos obtidos pela Plataforma para Proteção de Denunciantes Anônimos na África.

Nesse esquema de corrupção, a empresa central é a Sonangol, estatal de petróleo angolana. Isabel foi nomeada em 2016 para presidir a empresa, depois da crise provocada pela queda nos preços de petróleo. Mas os negócios da família Santos começaram bem antes.

Segundo o site Foreign Policy,

“A maioria dos investimentos da Trafigura em Angola foi gerenciada através de uma empresa registrada em Cingapura chamada DTS Holdings , também conhecida como DT Group. Os dois diretores dessa entidade são o general Dino e Claude Dauphin, bilionário francês que ajudou a fundar a Trafigura e hoje é seu diretor executivo. Como observou a Declaração de Berna: “Embora a DTS Holdings envolva infraestrutura, logística e imóveis, é o petróleo que gera a maior parte de suas receitas. O grupo é parte de um contrato de swap, que pode ser um dos maiores do mundo. Exportam quantidades desconhecidas de petróleo angolano e, em troca, desde 2009, abastecem Angola com todos os produtos derivados de petróleo necessários para atender à demanda doméstica. O monopólio da DTS Holdings em produtos derivados de petróleo provou ser extremamente lucrativo. Em 2011, a DTS Refining – a subsidiária responsável pelo controle do contrato da empresa com o estado angolano – foi avaliada em US $ 3,3 bilhões” .

A reportagem limita-se a descrever, e denunciar, os contratos firmados com grandes empresas de consultoria internacionais, como a McKinsey e a Boston Consulting Group, grandes escritórios de advocacia.  A Petrobras entra lateralmente na história, ao se revelar que se tornou sócia de uma das empresas controladas por Isabel, a Galp, numa joint venture para produzir biocombustível a partir do óleo de dendê.

Curiosamente, o trabalho não menciona o principal parceiro de Isabel na montagem do seu império de corrupção, a Trafigura, comercializadora de energia, que teve papel fundamental no esquema angolano.

A fortuna de Isabel foi obtida graças à Trafigura, envolvida na corrupção maior da Petrobras e, surpreendentemente, poupada pela Lava Jato. O principal artífice da corrupção foi o brasileiro Mariano Marcondes Ferraz, detido em uma das fases da Lava Jato.

O trabalho foi tão bem-sucedido que Mariano foi alçado ao posto de membro do Conselho de Administração da Trafigura.

Sua prisão, no âmbito da Lava Jato, provocou manchetes em jornais econômicos de todo mundo, devido às vinculações com a Trafigura. No Brasil, advogados sustentavam que, agora, a Lava Jato tinha batido na maior fonte de corrupção da Petrobras, o afretamento de navios e a participação no mercado aberto de combustíveis, e a corrupção das grandes comercializadoras, Trafigura e Glencore.

Nas primeiras delações, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró já haviam informado que, nessa área, os contratos e as possibilidades de manipulação eram muito maiores do que na área da construção civil.

Mesmo com todos esses indícios, a Trafigura foi poupada.

Isabel se tornou uma das sócias do clube dos bilionários, a ponto de uma de suas empresas, a Unitel, adquirir uma das cotas do Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça.

No ano passado, uma das estrelas de Davos foi o já Ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, que palestrou sobre como o tema como a corrupção prejudica não apenas a confiança nos governos, mas também de todo mercado.

A Trafigura tinha dois grandes concorrentes em Angola. Na área de petróleo, a Petrobras; na infraestrutura, as empreiteiras brasileiras.

Nos momentos cruciais, manobrando o fator tempo, a Lava Jato destruía as posições da Petrobras e das empreiteiras brasileiras em Angola, justamente as maiores competidoras da Trafigura. Quando a Petrobras passou a desmobilizar investimentos n a América Latina, o maior comprador foi justamente a Trafigura.

O caso só foi adiante quando o silêncio da Lava Jato passou a repercutir junto a organizações interacionais de combate à corrupção e quando o juiz Sérgio Moro deixou a operação, para se tornar Ministro de Jair Bolsonaro.

É o que iremos mostrar nos próximos capítulos.

 

Luis Nassif

6 Comentários

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  1. Vamos aguardar o resto da história, mas uma das manchetes do jornal português PÚBLICO de hoje é “Brasil investiga dinheiro desviado da Sonangol para resort de luxo”. Entendo pouco dessas coisas de investigação, mas cá com meus botões fico pensando: Foi Angola quem pediu para a PF brasileira investigar os resorts construídos no Brasil? Se não foi, qual o interesse da PF de Moro em especular sobre o financiamento da construção dos resorts, ver se há alguém do PT envolvido de sócio (porque esta é a única obsessão deles)? É regra, quando uma empresa internacional investe em infraestrutura de um país carente, que esse país carente questione de onde a empresa internacional arrumou aquele dinheiro para investimento? Ou os países carentes de investimento agarram avidamente aquele dinheiro investido, sem maiores perguntas, e deixam para as matrizes, de onde saiu o dinheiro investido, investigarem a licitude do dinheiro (seria o mais coerente)? Perguntas que talvez você, Nassif, pudesse nos elucidar na continuação do xadrez.

  2. “…Trafigura, envolvida na corrupção maior da Petrobras e, surpreendentemente, poupada pela Lava Jato.”

    Por que insistir nesse “surpreendentemente”?

  3. O André Araújo em artigos de uns 2anos atrás tinha falado do que acontecia em Angola. Não tem um blogueiro que o Nassif mostrou que trabalhava para essa empresa suíça?

  4. A Trafigura é famosa como pagadora de propinas…..será que rolou um por fora para as impolutas otoridades lavajatistas.
    Por isso correram do Tacla Duran com o diabo foge da cruz
    Moro tera que responder pelos males que fez ao nosso pais, o qual perdeu trilhoes de reais devido a Lava Jato e, de quebra, ganhou como propina o cargo de MJ por ter sido peça central na eleicao de um nazifascista lambe-botas do Trump

    …….

  5. Os jornais portugueses estão dando grande destaque a esse assunto. Isabel tem grandes negocios em Portugal e muita gente poderosa se beneficiou.
    Politicos, banqueiros, auditores, investidores todos se lambuzaram com o melaço angolano. Eles sabiam donde vinha o dinheiro mas a carne é fraca…ou dane-se os excrupulos…

    Isabel vai acabar se exilando na Russia. Podem me cobrar…

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