Spoofing: Lava Jato negociou em sigilo dinheiro cobrado da Petrobras pelos EUA

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Conversas entre procuradores suíços e brasileiros, acessadas no âmbito da Vaza Jato, revelam as tratativas barradas pelo STF

Depois de perder o mandato de senador, Dallagnol se vê envolvido em mais desdobramentos da Lava Jato. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Os jornalistas Jamil Chade e Leandro Demori revelaram nesta quinta-feira (20) que o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol negociou em sigilo com as autoridades norte-americanas um acordo para dividir o dinheiro que seria cobrado da Petrobras em multas e penalidades por causa da corrupção.

Procurado, Deltan não respondeu aos pedidos da reportagem, realizada em uma parceria entre o UOL e a newsletter A Grande Guerra

Trata-se de conversas entre procuradores suíços e brasileiros que aconteceram por mais de três anos pelo aplicativo Telegram e não eram registradas oficialmente. 

Elas aconteciam por causa do papel das autoridades de Berna na busca, confisco e detalhamento das contas usadas como destino das propinas investigadas na Operação Lava Jato. Mas, para ambos, foi considerado estratégico envolver a Justiça americana, que estava também investigando o caso.

Os chats fazem parte dos arquivos apreendidos pela Polícia Federal durante a operação Spoofing, que investigou o hackeamento de procuradores e também do ex-juiz Sergio Moro no caso que ficou conhecido como Vaza Jato.

Acordo com os EUA

A Petrobras fecharia um acordo com os Estados Unidos mais de dois anos depois das conversas, aceitando pagar uma multa de 853,2 milhões de dólares para não ser processada. 

O acordo garantiu o envio de 80% do valor ao Brasil. Metade do montante milionário seria destinado a um fundo privado que a própria Lava Jato tentou criar e não conseguiu. 

O ministro Alexandre de Moraes suspendeu a criação do fundo a pedido da PGR. O dinheiro foi destinado à Amazônia e, agora, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) investiga o caso.

Trabalho em conjunto

No dia 29 de janeiro de 2016, Dallagnol escreveu aos suíços para contar o resultado dos primeiros contatos entre ele e as autoridades americanas. O brasileiro, então, faz um resumo do que foi tratado.

Stefan Lenz, o procurador suíço que, naquela ocasião, liderava o processo em Berna, comemorou. Lenz ainda explicaria que o então procurador-geral da Suíça, Michael Lauber, também havia tido uma conversa com os americanos.

“Ambos querem iniciar conversas sobre uma estratégia comum e coordenação no caso da PB (Petrobras)”, disse.

Mais conversas secretas

As conversas secretas entre a Lava Jato e procuradores estrangeiros não se limitaram à Suíça. 

Em reportagens publicadas pelo The Intercept Brasil em parceria com a Agência Pública, conversas e documentos expuseram a proximidade, as reuniões e as trocas ilegais de informação entre brasileiros e norte-americanos.

Deltan Dallagnol escondeu nomes de pelo menos 17 agentes americanos que estiveram em Curitiba em 2015 sem conhecimento do Ministério da Justiça, que deveria ter sido avisado. Entre eles, procuradores norte-americanos ligados ao Departamento de Justiça e agentes do FBI.

Os encontros e negociações ocorreram sem pedido de assistência formal e foram comprovados por documentos oficiais do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, obtidos pelo Intercept para além dos diálogos da Vaza Jato.

Formas de driblar o STF

Durante as conversas e visitas, os procuradores da Lava Jato sugeriram aos americanos maneiras de driblar um entendimento do STF que permitisse que os EUA ouvissem delatores da Petrobras no Brasil.

Deltan Dallagnol sabia que estava agindo à margem da lei. 

Em um diálogo de 11 de fevereiro de 2016, o procurador Vladimir Aras, então diretor da Secretaria de Cooperação Internacional (SCI) da Procuradoria-Geral da República (PGR), alertou o ex-líder da Lava Jato sobre seus procedimentos ao permitir a operação dos agentes americanos no Brasil.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

2 Comentários

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  1. Esse vagabundo agia no Brasil como agente dos EUA. Mas quando viajava para lá ele agia como agente dos interesses mesquinhos da quadrilha que chefiava. No fundo, Deltan Dellagnol era apenas um mafioso evangélico com cargo no MPF.

  2. Outra vez? De novo? Mais uma vez?
    O travesso vai bater recorde de delinquências. Assim, o dito espertalhão lavajatista vai fazer da sua desonra,por tabela, a também desonra da sua igreja. Quanto mais suas esperneia e debate ele espalha as ervas daninhas pra dentro de casa, pra dentro da igreja e pra dentro do MPF. E o pior é que sua raiva incontida e histérica ainda encontra algum eco nas viúvas da falecida lava jato.

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