A marcha da loucura, por Juan Arias

A manifestação prevista para domingo não será mais uma. Deixará marcas profundas, triunfando ou fracassando. O Brasil ficará perigosamente dividido

Bolsonaro durante sua campanha eleitoral, em 7 de outubro de 2018, no Rio de Janeiro. Foto: MAURO PIMENTEL/AFP

do El Pais

A marcha da loucura

por Juan Arias

A anunciada manifestação para o domingo 26 dos seguidores do presidente Jair Bolsonaro contra os que teriam transformado esse país em “ingovernável” poderá ter consequências difíceis de se calcular.

Cresce o medo sobre os resultados dessa marcha sobre Brasília para defender o “mito” que se sente encurralado pelos que pretendem impedi-lo de realizar a missão que Deus lhe encomendou de devolver ao país corrompido sua pureza perdida. Medo que começou a preocupar até políticos de seu partido e muitos que votaram nele e hoje se sentem assustados e tentam dissuadi-lo dessa manifestação chamada de “marcha da loucura”.

E eu acredito que não existem precedentes na história das democracias mundiais de um Governo que cinco meses após sua eleição e que deveria viver sua lua de mel decide mobilizar o país em sua defesa ao se sentir sitiado pelos que, segundo ele, tentam impedi-lo de governar.

As manifestações, normalmente, são organizadas pelas oposições para exigir que as promessas de suas campanhas eleitorais sejam cumpridas. Curiosamente, no Brasil, até agora, a oposição parece na verdade muda e desunida contra um Governo que se apresenta incapaz de entender o que a sociedade pede dele.

Não é de se estranhar que a manifestação que está sendo organizada nas redes sociais pelas hostes mais aguerridas e violentas de Bolsonaro seja batizada também como “a marcha do medo”. Parece que de repente os demônios foram liberados e se fala sem pudor de “incendiar Brasília”, de “fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal”, que seriam a grande meretriz da política. Há até um general da reserva, Luiz Eduardo Rocha Paiva, que acha natural que se não deixarem Bolsonaro governar “estaríamos dispostos a pegar em armas para defender a liberdade e a justiça”, incitando a uma guerra civil. Curiosamente o general destoa da atitude de moderação que até agora demonstrou o restante de seus colegas militares.

Essa ideia de incendiar os outros poderes que dividem com o presidente a liderança e governabilidade do país nos faz lembrar como, já entre os romanos, imperadores como Nero usaram da artimanha de provocar incêndios de verdade, como o que destruiu meia Roma, para jogar sua responsabilidade sobre seus supostos inimigos.

No caso de Nero, o imperador aproveitou o incêndio de Roma para acusar os cristãos de sua autoria, considerados como inimigos do Império. Conhecemos os resultados: aqueles cristãos, dentre os quais estavam os apóstolos, Pedro e Paulo, foram martirizados, queimados na fogueira, crucificados e jogados aos cachorros para que fossem devorados vivos.

É difícil encontrar no Brasil precedentes de uma alucinação semelhante à que esse Governo vive, que vê por todos os lados inimigos e intrigas para derrubá-lo antes ainda de ter iniciado seu caminho. É difícil encontrar no passado um clima de política baseado na negatividade, na raiva e no ódio, como se de repente o Brasil e os brasileiros tivessem se transformado em monstros irreconhecíveis e inimigos de seu próprio país.

É difícil encontrar um grupo político tão apaixonado pela força das armas em guerra contra inimigos imaginários. Sua bandeira é a da desconfiança e da caça aos que não se ajoelharem diante de seus novos preceitos mortificadores de liberdades, que pretendem calar os que tentam ver o mundo e a vida com olhos que não sejam os seus.

A manifestação prevista para domingo não será mais uma. Deixará marcas profundas, triunfando ou fracassando. O Brasil ficará perigosamente dividido. No caso de o Governo conseguir encher as ruas do país gritando contra os pilares que hoje sustentam a democracia, não é difícil prever que os conflitos se agravarão. Seria um passaporte para que um Governo autoritário imponha suas leis com mão de ferro.

E se fracassar? Se não forem capazes de mobilizar mais gente do que o fizeram os jovens estudantes, e se não conseguir ser pacífica? Nesse caso, o mito Bolsonaro deveria ter a grandeza de admitir seu fracasso, de renunciar e passar o comando a alguém que seja capaz de reunificar um país cada dia mais perigosamente cético da política e da democracia.

Existe o perigo real de que essa guerra ideológica e essa desconfiança nas regras democráticas também acabem arrastando o país a uma crise econômica que quebraria a já martirizada caravana de milhões de pobres e desempregados que acabam sendo sempre o alvo das loucuras dos que deveriam protegê-los.

Redação

9 Comentários

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  1. Que politicos deem golpes, não é de se espantar, ainda mais num país chucro como o nosso, de imbecis a granel e larapios aos borobotões, aliada a uma elite carcomida e assassina…..mas a culpa dessa loucura é da midia…….is jornalixos são os culpados de terem transformado o país nesse m…….

    Insuflando os cachorros loucos das “manifestações democraticas”, ávidos para destruir um lider e seu partido, o FILHO È DELES!!! Como o fizeram em 64………….temos uma das midias mais canalhas, hipocritas, corruptas e assasinas do mundo……..

    Querem consertar o país? Comecem por aí……

  2. A marcha dos cães de guarda…
    vai servir para provar que o instinto de propriedade é fundamental para o fascismo

    e deve entrar para a história como a primeira marcha de credores que idolatram o devedor, porque até agora Bolsonaro não fez nada de bom para a maioria

    basta gritar pega pega, sem dizer o que e o porquê, e lá vão eles

  3. Simplesmente bater no Bozo, chamá-lo de louco, dizer que ele perdeu o apoio até da Globo, fazer apelos patéticos a consciência (!) do Moro e ao espírito democrático (!) dos generais é ajudar a implementar o “Plano B” da direita ultraneoliberal. As únicas coisas por que se bater são: voltar ao zero todos os processos e delações da lava jato, retomando-os segundo os seus juízos naturais, sem qualquer participação dos antigos algozes; libertação imediata do Lula, por ser o líder da oposição; e, novas eleições, GERAIS (exceto municípios) e LIMPAS.

  4. Marcha sobre Brasília?! A única coisa que esses idiotas, se querem realmente salvar o Bozo, é marchar em cima das sedes da Globo, especialmente no Rio e em São Paulo. Mas nem prá isso esses idiotas servem..

  5. Este trecho do artigo “Sua bandeira é a da desconfiança…” me recordou um ditado que há muito vi grafitado num muro. Estava escrito: “Todo bandido é desconfiado”
    Acho que explica a agressividade desta turma.

  6. Não tem jeito: a única coisa a fazer agora é torcer pra que tal “marcha dos idiotas” do dia 26 seja um sucesso. Torcer também pra que a manifestação do dia 30 seja ainda maior. Essa mistura explosiva tem tudo para radicalizar de vez o país.
    A saída agora é apostar numa radicalização total, a ponto de uma guerra civil, até porque é coisa que os endinheirados não querem…. Então, que o puteiro pegue fogo de uma vez.

  7. Biroliro não renunciará. Vai até as últimas consequências. O serviço dele é promover o caos nesse país e entregar nossas riquezas naturais . Ainda não completou a tarefa

  8. Nenhum grande País,nenhuma grande nação do Mundo,impôs sua grandiosidade e relevo no cenário internacional,sem ter contado seus mortos.Nesse caso,a coisa não me parece tão simples assim.

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