Anatomia de um estado doente, por Maister F. da Silva

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Anatomia de um estado doente

por Maister F. da Silva

Butantã¹ encontra-se enfermo, após anos de completo predomínio dos Andirás², os Guirás³ começam a voar e cantar, cantos ensurdecedores de anunciação, o sol voltará a raiar. Foi como se de repente os céus se abrissem prenunciando uma nova era, de prosperidade e livre arbítrio, gozo de vida plena. Ocorre que os Andirás são bichos que não suportam o alvorecer, todavia se movem com destreza no escuro, são belicosos, voam soturnamente e atacam quase sem fazer barulho. Membros de uma sociedade envolta em névoa, são especialistas em rapinar a luz.

Ofuscados com tanta luz os Andirás resolveram agir, encorajados após sucessivas capitulações da corte suprema de Butantã. Os Guirás precisam responder ao ataque rapidamente e repelir os Andirás. Todos são chamados a participar, “ordem unida”, declara o comandante, é preciso se colocar em marcha, quanto maior o efetivo, maiores as chances de vitória. Encontram-se em posição de defesa, no êxito da defesa repousa a surpresa do ataque e a vida e morte de milhares de seus semelhantes. Os Guirás, no entanto, após anos sem guerra acostumaram-se a paz, estão receosos em atacar, temendo inevitáveis baixas. Temem que seu povo possa perecer em batalha.

Eis o dilema que se encontra o futuro de Butantã, sobretudo dos Guirás. Aceitar a natureza da guerra, ou optar por uma saída pacífica e travar o enfrentamento no arcabouço do universo jurídico do estado democrático de direito.

As animosidades elevaram-se a um patamar que todas as instituições da sociedade foram chamadas a tomar parte no conflito. A suprema corte, bem como quase todo o sistema judiciário acometido de doença capitulativa tomaram parte ao lado dos Andirás, o sistema legislativo ocupado em maioria por Andirás que sobreviveram em meio aos obscuros fossos do poder contaminaram Guirás titubeantes com a doença do fisiologismo e da coalização sem afinidade ideológica, o sistema de segurança, bem, esse sempre preservou os ideais Andirás. O setor financeiro, “Andirá em pena de Guirá” prefere lucrar com a autoridade de poder dizer “a conversa acaba aqui e não lhe devo satisfações”, e, o quarto poder acometido pela doença da normalidade, esperou os Andirás triunfarem para então tratar a doença. Aí já era tarde, Butantã encontrava-se em metástase.

E foi assim, acometido de várias enfermidades, curáveis, mas sem o antídoto tendo chegado no devido tempo que Butantã viu-se mais uma vez envolto em escuridão.

¹Butantã – Terra Firme

²Andirás – Morcegos

³Guirás – Pássaros

Maister F. da Silva

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. Fábula Tupiniquim

    Nassif: lindo texto. E policatimente sugestivo, no momento em que as feras dominam as matas de Pindorama. Pena que o autor esqueceu de incluir na fauna os VerdeSaúva (da espécie BrilhanteUstra), cúmlices e sócios dos Andirás.

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