Comentário de Antonio Uchoa Neto sobre o Direito de Resposta de Igor Sabino

Viva os palestinos, viva os judeus pacifistas. Mesmo que os papéis de Davi e Golias estejam, hoje, invertidos

Festival rave em Israel. | Imagem: Reprodução/Redes sociais

Comentário ao post “Direito de Resposta: Não, Israel não é o principal responsável pelas mortes no festival Supernova em 7 de outubro, por Igor Sabino

por Antonio Uchoa Neto

“Não há nada de inteligente a ser dito a respeito de um massacre”. Kurt Vonnegut, Jr. No entanto, no afã de defender perpetradores de massacres, muitos pensam alcançar o âmago da questão, mediante manipulação das informações (ocultando o que lhes envergonha, e exaltando as mazelas dos outros), embora permaneçam, apenas, na órbita acanhada da Lei de Talião.

O prezado autor dessa resposta que o GGN publica ainda está nessa etapa, que ainda hoje supomos primitiva, das relações humanas. Olho por olho, dente por dente, ontem, hoje e sempre. Talvez isso embote a visão que deveríamos ter, dois milênios depois, dessas coisas. E torna ainda mais trágico o fracasso terrível da Moral Cristã – sucessora dissidente da judaica – com sua fábula sobre oferecer a outra face. Coisa que ninguém fez, até hoje, e, certamente, nunca fará. Buscar alternativas? Nem pensar.

Devolver, na mesma hora, o tabefe, dá mais lucro e é mais compensador. Noam Chomsky já alertava contra a aparentemente irreprimível tendência do ser humano a enfatizar as atrocidades dos outros, e ocultar as nossas próprias. Assim, Harry Truman julgou necessário interromper uma carnificina – a guerra nipo-americana no Pacífico – lançando mão de outra: o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki.

O fato de a carnificina nuclear vitimar velhos, crianças, mulheres, enfim, tudo que estivesse vivo sobre o solo das duas cidades, e não apenas combatentes, não tem importância. Há coisas mais importantes a considerar, em lugar de reles vidas humanas. Isso aconteceu em 1945. Agora, Israel – fiel a um de seus ícones históricos, o rei Herodes – resolve erradicar os palestinos da face da terra da mesma maneira: matando suas crianças, para que, mais tarde, não venham a se tornar militantes da causa. E a História se repete, não como farsa, mas como o que sempre foi: cálculo.

Não sei se foi o acaso que fez esse direito de resposta ser publicado no mesmo dia em que uma outra matéria, sobre a arrasadora e assombrosa sinceridade de um líder israelense (Moshe Dayan), lança luz sobre essa medianeira da História do Homem, o cálculo. Talvez não tenha sido; mas é muito bem vindo. Quem responde um massacre com outro massacre (independentemente de ter sido um false flag ou não; o efeito final é o mesmo) não pode esperar outra coisa.

Sim, o Estado de Israel está fundado sobre uma injustiça pavorosa, sobre crimes terríveis; da mesma forma estão fundadas a prosperidade europeia e a de sua sucessora, a pax americana. O massacre e o genocídio são os founding fathers da Civilização Colonial e Imperialista. E tudo que está fundado sobre tais atrocidades só pode esperar isso: Resistência e guerra. Guerra que, como eu sempre digo, é bem vinda, pois dá lucro.

Esqueçamos a paz na terra, uma vez que os homens de boa vontade não parecem lhe dar muita importância. Como não há possibilidade de restaurar-se a moral, vamos nos locupletar todos, com o que estiver mais à mão. Mortes para uns, silêncio para outros. E direitos de resposta, também, para nos aliviar a consciência, mesmo que seja um alívio torpe. Viva os palestinos, viva os judeus pacifistas. Mesmo que os papéis de Davi e Golias estejam, hoje, invertidos.

Redação

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador