Lula é promessa de uma humanidade mais humana!, por Paulo Fernandes Silveira

Como amar uma humanidade que se mostra tão desumana? Que humanidade há no ódio e na intolerância? Que humanidade há no preconceito e no racismo?

(Kofi Annan e Gilberto Gil – Show da Paz, Assembleia da ONU, setembro de 2003).

Lula é promessa de uma humanidade mais humana!

por Paulo Fernandes Silveira

Bia falou: ah, claro que eu vou
Clara ficou até o sol raiar (…)
Lelê também foi e apreciou
O baticum lá na beira do mar
”,

Chico Buarque e Gilberto Gil, “Baticum”.

No quarto século antes de Cristo, um sábio chinês escreveu sobre os conhecimentos e estratégias que um governo deve seguir para tomar as melhores decisões. Esse sábio chamava-se Zhuangzi. Ele ensinava o taoísmo, ou seja, a “arte do caminho” (dào shù). Ao invés de formular soluções para todos os problemas que afetam o povo, o taoísta procura ajudar as pessoas a encontrar o caminho do amor à humanidade.

Como amar uma humanidade que se mostra tão desumana? Que humanidade há no ódio e na intolerância? Que humanidade há no preconceito e no racismo? Que humanidade há na ganância e no individualismo? Que humanidade há na violência e na humilhação? Que humanidade há na fome e na injustiça? Apesar de tudo isso, amar a humanidade pode ser um caminho para torná-la mais humana.

Lembro-me de quando ouvi pela primeira vez a canção “Baticum”, de Chico Buarque e Gilberto Gil. Foi em 1989, um ano após ser promulgada a nova Constituição brasileira, um período em que tudo parecia estar efetivamente em construção. Na letra da canção, todas as pessoas foram convidadas para o baticum na beira do mar, uma festa popular que contou com o patrocínio de diversas empresas.

Lembro-me da alegria de ver e de ouvir Gilberto Gil, em 2003, então ministro da cultura do governo Lula, cantando na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Entre os músicos estava Kofi Annan, então secretário-geral daquela instituição. A festa brasileira retratada na canção “Baticum” foi compartilhada com pessoas do mundo todo.

Em seus governos, Lula mostrou sensibilidade para ouvir e entender todas as pessoas e astúcia para formular soluções para os diversos problemas que afetam o povo brasileiro. Todavia, penso que a contribuição política e social mais importante dos seus governos foi fomentar um processo de humanização. É preciso retomar esse caminho. A eleição de Lula é promessa de uma humanidade mais humana!

Paulo Fernandes Silveira (FE-USP e IEA-USP)

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Redação

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  1. A Direita (extrema ou moderada) avança no mundo porque entende o que o homem é, e não o que deveria ser. A Esquerda fica empacada porque não entende o que o homem é, mas sonha com o que ele deveria ser.
    Quando Moisés foi ao encontro do seu Deus, o que ele trouxe de lá? Uma tábua, com dez “nãos”, dez interdições, dez proibições, que deveria impor aos homens. Ou seja, naquele encontro apenas, Deus foi capaz de identificar ao menos dez tendências naturais ao homem, no sentido de agir de forma transgressora, de forma a beneficiar-se a si e prejudicar os outros. Ainda que se possa acusar o Criador de uma certa miopia (só dez? são milhões dessas tendências naturais a prejudicar o semelhante – embora, admita-se, nem todas estivessem claramente reveladas até aquele momento da evolução da História, em que o Capitalismo ainda não existia, e ele aumentou, quer queiram ou não seus defensores, exponencialmente a quantidade dessas tendências), a mensagem estava clara: vocês não prestam. A Humanidade é desumana, diria o finado Renato Russo.
    Somos cúpidos, somos individualistas, vivemos em grupo mas existimos a sós, e a sós nos revelamos como o que somos, de fato. Independentemente de quem vencer no dia 30 (e espero, não em Deus, mas em mim mesmo, que seja Lula, nem que seja para desmentir o ditado que diz que ‘nada é tão ruim que não possa piorar’), já é o bastante para convencer-se da desumanidade do homem o fato de cerca de que 50 milhões de brasileiros – 1/4 da população total – não só vota, mas apóia, subscreve, concorda e deseja ver a continuidade dessa desgraça presidencial que se abateu sobre o país. 50 milhões! Fora os indiferentes, isentões, brancos e nulos que, ao que parece, estão pouco se lixando – donde se infere que a situação de miséria, fome, desemprego, etc.,etc.,etc., não os afeta em nada, seja lá qual for o motivo para isso.
    Não há o que amar na humanidade – e essa ilusão persistente torna obnubilada a visão da Esquerda e impede que ela alcance, de fato, as massas – seja lá o que isso for. Quem ela imagina que quer ser generoso, solidário, igual, não é; quer apenas deixar de ser o que é – ou seja, pobre, desvalido, miserável – e ser o que não é: rico. Sou vizinho de inúmeros desses espécimes aqui onde moro, um pobre entre pobres, e aparentemente o único que se dá conta de que a condição sine qua non para que existam ricos é que existam pobres. E essa é a mais trágica das transgressões de que é capaz o ser humano, embora tenha sido desdenhada pelo Criador, o qual dedicou apenas dois mandamentos a essa transgressão, mesmo assim vagos e imprecisos. A humanidade não é homogênea, não é o resultado de uma criação única, são milhões de células individuais habitando um corpo – o planeta Terra – da qual se tornou uma espécie de câncer maligno, a partir de umas poucas células – aquelas que, ao longo de tempo, se tornam mais iguais entre si e diferenciadas do resto. Aqui por estas paragens, essa metástase já alcançou a cifre de 50 milhões.
    Repito o que já disse: depois do dia 30, estaremos aqui, escrevendo uma nota de alívio, ou um réquiem. Mas reconsiderando, estarão aqui apenas os que ainda tiverem algum tipo de ânimo, no primeiro caso. Já se for réquiem, não sei. Ao menos no meu caso, não sei se terei disposição para seguir escrevendo. Simplesmente viver, creio eu, já será um fardo pesado demais, considerando-se que pensar é inevitável. Não desejo pregar no deserto; ser obrigado a viver em um já é castigo suficiente, Senhor.

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