Não se deve confundir traçadores ou índices com os movimentos reais da economia, por Rogerio Maestri

Não se deve confundir traçadores ou índices com os movimentos reais da economia

por Rogerio Maestri

Ao ler o artigo do Luis Nassif, A economia e o país da opinião pronta, vejo que ele, num curto artigo, procura reestabelecer uma verdade que poucos compreendem, ou seja, a confusão que existe entre resultados e a impossibilidade de se estabelecer relações biunívocas entre efeitos e causas.

O grande erro da maioria dos economistas, principalmente os que se baseiam no papel da moeda como quase a única grande definidora da direção da economia, esta incapacidade dos mesmos em compreender que esta é mais o que se poderia chamar em física um “traçador” no caso da economia, do que o movimento real da economia, ou seja, é mais um indicador do que a chave de controle do desenvolvimento de um país. Explico melhor através de uma analogia da economia com a física.

Quando queremos estudar o movimento de um fluído empregamos os mais diversos tipos de traçadores, ou seja, ou pequenos corpos de flotação nula ou mesmo a injeção de substâncias salinas ou radioativas que nos mostrarão pontualmente ou numa região do espaço como o movimento real do fluido está ocorrendo. O acompanhamento da trajetória, ou da concentração, destes traçadores nos mostram como o fluído está se movimentando.

Na economia há diversos traçadores, que são representados por indicadores ou índices, tais como índices de endividamento público, valor da moeda, índices de crescimento econômico e daí por diante.

O movimento dos traçadores, tanto no caso do movimento do fluido como no caso da economia, indica as características do escoamento. Apesar de indicarem como se passa o escoamento eles não são o próprio, são representações pontuais ou regionais do escoamento real.

Nenhum engenheiro ou físico experimental, procura modificar o escoamento, impondo valores máximos ou mínimos ou mesmo a direção do movimento dos traçadores. Poder-se-ia dizer que como eles estão representando o escoamento a modificação da trajetória dos mesmos poderia repercutir no movimento global. O argumento contra a movimentação dos traçadores por eles não serem causas e sim consequências, é um argumento fraco, pois como os mesmos fazem parte do escoamento em última instância está se agindo sobre este.

Os economistas fazem muitas vezes ao contrário dos físicos e engenheiros, eles tentam forçando o movimento dos traçadores impor ao escoamento uma modificação global. O erro está exposto no artigo de Luis Nassif, na breve lista que ele coloca como medidas econômicas ele mostra quais são algumas das causas que determinam o movimento econômico, que todos sabem que não são causas lineares na influência do desempenho econômico.

Diria até mais, a dificuldade que encontram os economistas em regular o desenvolvimento está mais na multiplicidade de ações a serem tomadas que são mais configuradas como ações políticas como meramente econométricas.

Visto o acima exposto, o argumento que a movimentação dos traçadores não resulta na modificação desejada, é resultante de dois problemas, a falta de linearidade entre causas e efeito, e a existência de múltiplas causas para cada efeito. A ausência de linearidade entre uma causa e um efeito, impede que se inverta a matriz de solução da mesma, ou seja, se A induz a B, e a função que rege a transformação não é linear é possível obter B induz a A. O segundo problema e mais complexo, é que o efeito é uma função de várias causas, inclusive do próprio efeito, a inversão também é impossível, podendo mesmo na direção direta se resultar a sistemas não determinísticos.

Vários linhas de pensamento econômico para sair deste impasse introduzem o conceito de economia em equilíbrio, e as verdadeiras razões para adotarem não é que acreditem na fantasia que existem sistemas perfeitamente equilibrados, que para um sistema deste tipo, em equilíbrio, um pequeno movimento num dos índices que indicam a eficiência da economia, é possível linearizar as funções e dentro de um curto espaço de variação considera a possibilidade de um comportamento biunívoco entre causa e efeito.

Porém a linearidade entre causa e efeito em sistemas equilibrados e com funções biunívocas só será respeitado para pequenos incrementos na alteração dos índices indicativos. Exemplificando, na Europa ou Estados-Unidos, em que o grau de equilíbrio é muito maior do que em economias como o Brasil, uma pequena mexida nas taxas de juro, resultarão por curto espaço de tempo na variação da inflação e outras causas do desempenho da economia como a taxa de emprego. Mas mesmo nestes casos, se há situações de desemprego maior ou menor a mexida na taxa de juros será seguida de efeitos diferentes na economia.

O sonho de todo o economista é achar um modelo matemático que explicite todas as alterações possíveis para se mexer corretamente nas causas e consequências do desenvolvimento econômico, porém infelizmente para os que se dedicam a modelos matemáticos, a economia é antes de tudo uma ciência social no lugar de ser uma ciência exata, por exemplo, pegando o exemplo de Nassif sobre políticas econômicas para o desenvolvimento, mais especificamente o caso de melhoria dos níveis educacionais e investimento em ciência, tecnologia e inovação, envolve diretamente os atores que promoverão esta melhoria ou o aumento dos investimentos, pois junto a estas palavras há centenas de páginas que deverão ser escritas como resultado de reflexões, que por sua vez dependerão de quem escreve.

 

Redação

3 Comentários

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  1. No Brasil os economistas que

    No Brasil os economistas que têm acesso a Imprensa Oficial ( Globo, Estadão, Folha, Abril ) são iguais a um dentista que diante um paciente com uma dentição irregular, com dentes perfeitos ao lado de dentes podres  causando dores , só admite um procedimento = para nunca mais ter problemas de dentes, basta tirar todos – os dentes – e, pra economizar, sem anestesia, claro .  

    Estamos num momento em que precisaríamos de uma sofisticação intelectual de um Keynes na fazenda; mas se a eleição fosse hoje , haveria grande chance de termos um Paulo Guedes, que deve achar a Thatcher meio comunista rs 

     

     

    1. Simplificar a economia é bom para efeito didático, porém ……

      Simplificar a economia é bom para efeito didático, porém no mundo real não é possível.

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