Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
[email protected]

O Banco Central é crime de lesa-pátria, num golpe inacabado, por Armando Coelho Neto

A autonomia do Banco Central é parte do pacote do golpe de 2016, que incluía supressão de direitos elementares dos trabalhadores

O Banco Central é crime de lesa-pátria, num golpe inacabado

por Armando Coelho Neto

Tudo se discute neste mundo, menos uma única coisa: a democracia. Ela está aí, como se fosse uma espécie de santa no altar, de quem já não se espera milagres, mas que está aí como referência. A democracia em que vivemos é sequestrada, condicionada, amputada. Na política, o poder do cidadão está limitado a tirar um governo do qual não se gosta para pôr outro de quem talvez venha a gostar.

A fala acima editada e sem aspas é do escritor português José Saramago e reflete parte do momento político brasileiro, pois na sequência, o autor diz que as grandes decisões são tomadas em outras esferas, como organizações financeiras internacionais, o FMI, a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais, ocupados por dirigentes não eleitos pelo povo. Quem decide não é eleito.

O desgoverno do ex-capitão foi simples fase de um golpe contra o povo brasileiro, cujo ápice foi a derrubada da Dilma Rousseff, por um motivo que a maioria do povo brasileiro desconhece. Pergunte a porteiros de prédios e boates, aos pipoqueiros e catadores de latinha, aos que andam como sardinhas pelas manhãs em ônibus, peruas e metrôs com destino aos pelourinhos do mercado… Não sabem nada.

A autonomia do Banco Central é parte do pacote do golpe de 2016, que incluía supressão de direitos elementares dos trabalhadores, condenados a pagar uma conta que não fizeram, para que os ricos parasitas do mercado se tornassem mais ricos e pobres mais pobres. Nesse pacote a entrega do patrimônio nacional (no todo ou em parte) para a camarilha de sempre e especuladores internacionais.

Como parte do golpe, o Banco Central é hoje presidido por um tirano arrogante, o tal Roberto Campos Neto, que sem voto (olha o José Saramago aí, gente!) quer decidir o que é bom para o povo, definindo taxas de juros combinadas em reuniões secretas com banqueiros. Noutras palavras, o povo sofre as consequências dos juros mais altos do mundo e é refém do autoritarismo de quem o odeia.

Eis pois o lado cruel da denominada elite brasileira, a qual lucra com a crise que finge combater. A “elite” representada pelo mercado tira proveito da ignorância da grande maioria do povo brasileiro sobre tema tão sensível como economia. A grande mídia, que na prática é o próprio mercado, reverbera em economês com discurso doutoral com uma verborragia que só uma minoria entende.

Em meio a essa ignorância, poucas vozes surgem para desmascarar a realidade, mas em campo muito restrito. É o caso da auditora-fiscal Maria Lúcia Fattorelli, auditora-fiscal aposentada da Receita Federal e fundadora da organização Auditoria Cidadã da Dívida. Sem cerimônias, defende que a política adotada pelo Banco Central seja investigada, posto que os juros altos não têm fundamento.

“Não existe amparo técnico para os juros altos: é bandidagem”, afirma Fattorelli. Trata-se de simples discurso autoritário e, na prática, não está controlando nada, mas sim detonando a economia brasileira. O preço dessa irresponsabilidade está retratado notícias sobre os 70 milhões de brasileiros com nome sujo na Serasa, ou o fato de que inflação e juros altos fecharam mais empresas que a pandemia.

De forma didática, Fattorelli explica não está ocorrendo “inflação de demanda”. O que é isso? Seria todo mundo endinheirado querendo gastar, comprando demais a ponto de esgotar estoque. Essa grande procura pode aumentar preços provocar inflação que poderia, em tese, ser freada com juros altos. Por acaso tem algo ao menos parecido acontecendo? Não. E isso provaria a artificialidade da medida.

Na prática, a autonomia do Banco Central – tratada como independência, revela-se um monstro a serviço do mercado. Ao mesmo tempo, o que seria para evitar ingerências políticas revela-se como um pilar político imposto pela nova fase do golpe, que no momento aposta no quanto pior melhor. Portanto, parece ter razão a auditora, ao defender a necessidade de essa postura ser investigada.

A grande mídia faz vistas grossas para quase R$ 300 bilhões do Banco Central no ano passado, mesmo tendo recebido R$ 212 bilhões do Tesouro Nacional, a maior parte para pagar juros para os bancos, destaca a auditora Fattorelli. Sem contar o sumiço descarado de mais de U$ 60 bilhões de dólares das reservas internacionais. Não há justificativa técnica para juros altos. De tão suspeito deve ser investigado.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. A publicação do artigo dependerá de aprovação da redação GGN.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. ARMANDO concordo 100% com VC E A AUDITORA FATTORELLI, estamos sendo roubados por essa ELITE SANGUINÁRIA DO BRASIL que ELES dão o nome de MERCADO…
    R E D E G L O B O O O O O O O

  2. Volto a insistir que o BCB não tem um plano de combate a inflação, na realidade o seu plano é de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos, senão vejamos: O plano consiste em estabelecer uma meta inflacionária (irreaal) com base na expectativa de lucros do mercado financeiro tendo na outra ponta a tendência histórica da inflação. Como funciona: Se historícamente a nossa inflação trafega na faixa entre 6 e 7%, se projeta uma meta entre 3 e 4% e sobre essa meta aplica-se o fator 2,3 e 4 em condições normais, é importante sublinhar que estamos usando números redondos, ou seja, aproximados. Acredito que atualmente, para uma inflação em torno de 7 eles estão usando o fator 2 sobre a inflação, o que significa uma taxa juros de 14% AA que é bem proxima da atual 13,75%. Com base no cálculo acima, para uma inflação de 7% chegamos a uma taxa de juros reais de 7%.
    Embora no exemplo citado, a taxa de inflação seja de 14% os juros reais da atual taxa de 13,75 é de 8% aproximadamente. Eis o mistério revelado.

  3. Seria o caso também dos economistas acadêmicos e profissionais pararem de fazer críticas, usando a mesma linguagem dos mercadores de dinheiro que se acham os únicos economistas, estudarem mais e cobrarem o BC em termos técnicos. Se o BC usa políticas para combater inflação de demanda, deveria ter indicadores que medissem o tamanho da oferta e o da demanda para se saber se há excesso em alguma lado. Mas o BC se contenta com indicadores de confiança, manifestada pelos próprios agentes de mercado que deveria controlar, para inferir a quantas andam oferta e procura de todo o produto em todo o país. E a tal confiança dos agentes é falsa, não passa de vontade deles de manter mais gente querendo do que gente oferecendo coisas, onde os preços não caem e a concorrência é totalmente controlada.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador