O escorpião e a travessia democrática, por Frederico Firmo

05 A Nave da Visão, Jehan Drouyn. La Nef des Folles. Paris, c. 1500

O escorpião e a travessia democrática, por Frederico Firmo

A nau dos insensatos continua com o desfile sem fim das sumidades de nossa Centro direita. Em geral são os economistas do antigo governo FHC, e alguns de seus doutos, professores, seguidos de jornalistas de uma mídia devastada.

Em um mesmo programa, Mesquita do Estadão e um dos Mendonça de Barros. Ambos num discurso de cunho essencialmente anti-petista e dubiamente pró-Bolsonaro. Mostrando em seus discursos a clara consciência de que sabem exatamente quem é Bolsonaro. Sabem exatamente das ameaças à democracia. Mas mesmo vendo o caos em que o país pode se meter, apenas sorriem com uma certa ironia e prazer.

Afinal depois de ajudarem a golpear a nação e alimentarem a operação suicida de caça ao PT,  e depois de dois anos pós golpe implementando as políticas do mercado, optam claramente por apostar na criatura que criaram e gestaram com toda a irresponsabilidade.

Mostram neste momento tão crítico o seu total desprezo pela democracia. Continuam insistindo em culpar o PT pelos seus próprios erros e desmandos e aumentando a narrativa de nós contra o PT. Mas dizem que é o povo que tem este sentimento anti petista. Com um discurso cínico, apregoam a superioridade do pensamento econômico deles, contra todos os fatos e evidências. Afinal tomaram o poder há três anos e nada. Com muita convicção, não confessam que foram suas manobras, junto com o Centrão, Cunha e Temer, e Judiciário, que transformaram país num tribunal da inquisição e estagnaram a economia. Quando fantasiaram a luta contra o PT, com a cruzada moral contra a corrupção, tentaram encobrir que a corrupção deles tem o nome de lobby e é anunciada pela mídia como ato de responsabilidade. Estes economistas quando se licenciam do governo continuam o que estavam fazendo para os mesmos grupos e para as  grandes fortunas. Jamais dizem que este é um ato de corrupção dizem que é um ato responsável e realista. E durante todo o programa, Mesquita  e Economista trocaram sorrisos e ironias demonstrando a  irresponsabilidade total com relação aos rumos do país.

Num outro programa, o outro Mendonça de Barros debateu com um destes economistas do mercado de uma certa Legacy. Um tal de Jobim, que nada conhece da música, e tem um discurso tosco e cheio de platitudes. Sequer enrubesceu, ao dizer que contrariamente ao PT, Bolsonaro tem um projeto econômico sólido nas mãos do brilhante Paulo Guedes, ora investigado por manipulação de fundos de pensão. Os elogios a Guedes  parecem ter ofendido Mendonça de Barros, que antes havia falado contra o PT, e dubiamente pró-Bolsonaro. Provocado em seu ego, Barros afirma que Guedes e Bolsonaro não sabem de nada. Segundo o jeito Mendonça de Barros de pensar, apenas eles sabem de tudo. Fez elogios e mais elogios a  Parente, chamando-o de o Maior. Sem dúvida com a entrega do Pré-sal e da Petrobrás, Parente deve ser  o herói de Mendonça de Barros. O douto economista não deixou de elogiar o seu ícone FHC, e mostrou sua adoração pelo touro de ouro de Wall Street. Mas ao final capitula de novo e praticamente declara que é melhor com  Bolsonaro do que com a democracia.

O Economista da Legacy, como Meireles, não sabe pensar além da próprio umbigo, que ele chama de competência. Acabou confessando que depositava sua confiança, no que ele chamou de renovação da câmara. Uma tremenda sandice, quando sabemos que as mudanças de nome apenas geraram o entumescimento do tal Centrão. Isto é, dos representantes máximos da política, do meu pirão vem primeiro.  Um amontoado de oportunistas que surfando na onda da anti política, fizeram suas campanhas, abraçando o discurso moralista e vazio de Bolsonaro. Pretendem apenas dar suporte a políticas, que possam favorecer seus negócios privados e religiosos. Todos sabemos que PSL, não é partido pois não tem política nem programa partidário e continua sendo uma sigla de aluguel que teve uma grande procura, pois tem agora  um novo corretor de sucesso.

Mas para o brilhante Economista da Legacy isto é renovação. Deixando claro sua obtusidade política, chamou este momento de  ponto de inflexão para o futuro. No caso deste executivo me pareceu que, raciocinando apenas com a cabeça de planilha, bate palmas para a possível continuidade do  governo Temer que abriu as portas para o baixo clero. Isto é, o mesmo Centrão, que diante da gravidade da crise, continuou lutando pelos seus interesses, e brigando pelo poder. E obviamente visam passar leis fundamentalistas como da Escola sem Partido, da reforma privatista do Ensino, da liberação do armamento, da maioridade penal, e do fim do Ibama e dos ambientalistas,  e claro passar reformas de interesse do mercado e criar meios de repressão política. A inflexão à qual o  ilustre  economista mencionou é o aumento da bancada da bala e da bíblia e dos ruralistas.

O grande economista, e intelectual do PSDB, Mendonça de Barros,  com um pequeno e sutil sorriso nos lábios, mostrou  claramente que reconhece que estamos  caminhando para um precipício, mas  manteve o sorriso, como se dissesse não estou nem aí. E continuou, recitando os mantras da recessão, falando em ajuste fiscal, reformas e privatização. O desemprego foi apenas um apêndice na sua fala voltada para as tais  reformas. A mãe das reformas segundo Mendonça é a da previdência, que de fato deve esconder uma mina de ouro, pois é difícil  compreender, no meio de uma crise,  a urgência de  uma reforma que só teria efeito na economia em 20 anos.  A repórter, entre Aspas,  Valdvogel, não se conteve e perguntou  o que pensam eles, se referindo é claro ao PT. O douto Mendonça respondeu com aquiescência do outro, alguma coisa sobre a Venezuela e voltou a recitar de novo a mesma  receita recessiva e paralisia do estado.  

Nenhuma palavra em nome da democracia e contra a bárbarie moralista que nos assola, mas subliminarmente, disse que mesmo reconhecendo o autoritarismo, e o fundamentalismo Bolsonariano não está nem ai. O grande economista da Legacy, confessou sua adesão total a Bolsonaro, quando sobre o assunto disse que as posturas no campo de direitos humanos de Bolsonaro são culpa da  estridência das minorias  que ofenderam  as maiorias.

Enquanto isto o PSDB e seus intelectuais estavam  no Instituto FHC, escutando  Levitski,  autor de “Como morrem as democracias” , que desenhou o nome do PSDB, quando falou sobre o papel de partidos de Centro direita abrindo  portas para ditaduras fascistas.  Levitiski fez  praticamente um alerta e um pedido  para que, em nome da democracia, não dêem suporte à Bolsonaro. Porém  como o escorpião da fábula, o PSDB não vai resistir e no meio da travessia vai dar uma picada fatal no elefante da democracia. Afinal é da sua natureza.

Redação

5 Comentários

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  1. Reducionismo pueril

    Os eixos de um governo são três:

    Democracia X Autoritarismo

    Capitalismo X Socialismo

    Liberalismo X Mercantilismo

    São as extremidades dos eixos, onde no interior do governo existem as combinações que dão a preponderancia de cada estilo de mandatário.

    Ou seja, nenhum país é absoluto na democracia, no autoritarismo, no capitalismo, no socialismo , no liberalismo e no mercantilismo, mas, uma mescla em variadas proporções destes elementos que lhe darão uma caracteristica única. Esta depende então de geografia, do tempo histórico e das forças políticas presentes.

    Reduzir todos os valores à democracia, que foi, é e será sempre relativa é pueril.

    Desprezar as forças de mercado, que são onde o dinheiro é criado para pagar segurança, saúde, habitação e lazer é, no mínimo, grossa tapeação.

    Nem Haddad, nem Bolsonaro vão extinguir a democracia, isto é impossível. O escorpião morre afogado no meio do lago, mas o Brasil continua tendo todos os seis elementos que elenquei acima presentes e concomitantes dentro de seu território, como hoje, uns mais preponderantes do que outros, mas todos lá.

    1. O mercado não produz usufrui de quem produz.

      O mercado  usufrui de quem produz. O mercado tem papel tem ações, e tem especulação. Movimenta fortunas que no entanto são como as massas meteorológicas, que viajam pela atmosfera   sugando água de um lugar e despejando longe. A produção esta no campo, está chão da indústria, no trabalho, no desenvolvimento de conhecimento de tecnologia, na arte. O mercado produz riqueza na forma de papel, apenas para acionistas e especuladores Somas vultuosas  que como as massas atmosféricas  sugam aqui e despejam sua riqueza alhures. Estão sempre de passagem.  E assim Parente  pagou aos acionistas de Wall Street. Já a Petrobrás produziu conhecimento, pre-sal , fomentou novas indústrias, empregos, impostos etc… Assim a Petrobrás vítima das roubalheiras de alguns, se tornou a culpada, e se tornou devedora de quem tem pápeis, e nada produziram e sequer nos pagam impostos. Não vi o Parente fazer um acordo para ressarcir os cofres públicos ou a Receita.  Isto é uma síntese do mercado, que todos os dias nos aparece em gŕaficos subindo e descendo, dependendo do humor dos especuladores na fala melíflua de Sardenberg.

  2. Síntese Esclarecedora.
    De um

    Síntese Esclarecedora.

    De um lado os que cultuam o Deus Mercado, ou seja, a acumulação de riqueza material, a competição que transforma homens em máquinas, a agudização dos instintos e no fim, a desumanização, o fim da história, que se vislumbra em Bolsonaro.

    De outro, a busca do equilíbrio social, do alimento e da cultura para todos, da cooperação e fraternidade, o fim da barbárie econômica e a consolidação da civilização.

  3. As elites

    Caro Frederico Firmo se pegarmos um livro de Machado ou de Lima Barreto e adentrarmos aos salões não veremos diferença alguma ou muito pouco entre as conversas dos senhores d’então para os de hoje, com seu jargão liberal no economês.

    Em 2005 a Embaixada do Brasil em Paris fez uma grande festa no sete de setembro pelo ano do Brasil na França e o convidado de honra foi o então governador Aécio Neves. Foi uma caricatura das festas de salões da velha Republica. Era governador pra la, governador pra ca e sorrisos de orelha a orelha, muito champanhe e conversas politicas. 

    Eu estava na roda dos artistas, poetas, estudantes, jornalistas, loucos mansos e estropiados e lembro que quando alguém no salão falou bem alto “este sera nosso presidente!” e Aécio abriu aquele sorriso, alguém na roda disse baixo “deve ser a coca”. Um gaiato ainda retrucou “e não é coca-cola!” Muitos ja sabiam do carater duvidoso do playboy e no entanto a adulação era total porque tratava-se do neto de Tancredo, o “jovem” peessedebista governador de Minas etc etc.  

    Relato issso porque naquela época Lula era o presidente e estavamos em plenos escândalo do mensalão e a embaixada brasileira com esse evento demonstrava publicamente o que eles pensavam bem baixinho. 

    1. Maria Luiza

      Este é a descrição do PSDB e das forças do golpe. De um lado a velha oligarquia, com seus nomes de família que sempre tiveram o poder político e as mãos sobre o estado, e do outro os neo liberais, com seus projetos mercadológicos. A junção disto é esta coisa disfuncional, que se veste nos salões da nobreza, discursa academicamente e entrega o pais mercadologicamente.

      Abraço

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