O que o patriarcado faz e o #8M que me arrepia como o “Dia da Mulher”

O dia da mulher é mais um dia de lembrar e gritar um enorme FODA-SE EU VOU SIM SAIR POR AÍ e dar conta de processar MINHAS ESCOLHAS

Banksy

O Dia da Mulher – apelido dado ao Oito de Março e eu sou tão traumatizada com o patriarcado e seus efeitos diretos que ouso pensar que os bombons e flores para nos recompensar são justamente relacionados ao prêmio merecido desde que sejamos as mulheres que eles querem. Quer dizer, vou começar a chamar de Oito de Março o dia da luta da mulher, até que a maior parte dos homens antigos tenham nessa terra se transformado ou dessa terra partido.

Quarenta e dois anos e só muito recentemente assimilei que não fui eu, foi o patriarcado.

Conseguir dar conta de me responsabilizar sobre minhas escolhas, ainda que as daqui pra frente, sem estar soterrada em dúvidas e dívidas como se eu simplesmente não fosse válida ou, até verdade, eu mesma nunca experimentei existir assim – hoje finalmente sinto-me. Triste, arrependida, malvada em muitas horas. Feliz, saudável, esperançosa, cheia de luz, ainda que ande apagada (quem está brilhando muito por aí ainda em pandemia só pode estar bem esquisite – exceto o Lula, a gente precisa dele mesmo que meu pai tenha apontado nesse texto aqui que é enorme a chance de sermos golpeados, socorro!)

A conquista de me sentir perdoada por mim mesma pelos erros do passado, ainda que saiba que machucaram pessoas preciosas, algumas poucas com quem espero esperançosamente me reunir em paz quando e se o momento chegar, resume a beleza das novas asas, rendadas pelo meu próprio enredo. Meu presente sou eu, como sou, sã e finalmente salva.

Demorou muito, foi desgastante demais, cansativo, me exauriu até incorporar a consciência de que não fui eu, uma criança tarada, que provocou um homem pra me sentar no colo e esfregar por sei lá quanto tempo, fodendo minha cabeça e determinando longos anos dali pra frente de um jeito tão escroto que só as sobreviventes sabem; não fui eu, uma adolescente machucada na alma por narrativas que não faziam sentido mas que eram as únicas disponíveis sobre minha própria história, a quase não suportar a lacuna e enlouquecer, alma quebrada é duro demais, triste demais, piora profundamente quando não encontra amparo – quem viveu questionando experiências que estavam ali, acontecendo, sendo roubadas por fabulações narcísicas sabe o poder sujo que o gaslighting tem; não fui eu, uma profissional que usa calças com a calcinha marcando e que ficaria muito gostosa de quatro naquele sofá quem não deu conta do mercado de trabalho por ser folgada e não aguentar a pressão. Mas consegui, e sei, sem dúvida alguma, que infelizmente todas essas histórias não são exclusividade minha senão moldes adequados à quem não se adequa ao que doente já está. Traço essas histórias também como referência para que você veja o que pode ainda estar invisível, mas que tem um tanto de gente tonificando.

Não fui eu, foi o patriarcado e só quando atentei pros fatos é que encontrei espaço e tempo para finalmente respirar – o movimento foi literal e vou contar detalhadamente sobre isso no relato do meu explante, que levou adjuvantes tóxicos com os quais me acostumei ao longo de décadas, até alarmantemente adoecer. Fato é que já estava eu-prejudicada e que chance, que presente em vida que me foi dada porquê NOVA INFORMAÇÃO busquei. Só agora fui entender e desenvolvi intolerância àqueles que ainda se descolam da realidade do impacto do sistema nas nossas vidas desde o passado, naqueles tempos onde tudo isso era muito mais normal, ao invés de participar da necessária transformação para o rompimento desses pactos de tristeza, esvaziamento e morte. Chega, já deu, e não enlouqueço mais por saber que pode demorar o tempo que for, agora que reconheço o que é mofo que retira o ar do peito, posso tranquilamente respirar.

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Aproveito para convidar pro Invisível como vejo dessa quarta-feira, ao vivo às 10h da manhã, com a psicóloga e pesquisadora Valeska Zanello, lá no YouTube – ative o lembrete e a plataforma te chama assim que começar!

Mariana A. Nassif

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