Os homens de bem, os puteiros e a prisão de Lula, por Felipe Pena

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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no Extra
 
Os homens de bem, os puteiros e a prisão de Lula
 
por Felipe Pena
 
Os homens de bem comemoram a prisão de Lula em um puteiro. No ritual macabro, o dono do bordel amarra uma funcionária, arranca sua calcinha e torce seu pescoço na frente de outros homens de bem que bebem a cerveja servida de graça pelo cafetão.
 
No alto da cena, como a ungir aquela entidade satânica, lá estão as fotos emolduras da presidente do STF e do juiz Sergio Moro. Duas fotos para um mesmo retrato. O retrato do país onde os homens de bem que aplaudem a tortura de prostitutas nuas em praça pública são os mesmos homens de bem que condenam a nudez de uma exposição de arte nas galerias de um museu.

 
Os homens de bem estão no puteiro da sala de casa, em frente à TV, berrando contra o personagem gay da novela e relativizando o assassinato da vereadora negra e favelada. Os homens de bem não querem a lei. Os homens de bem querem o cassetete, o tiro, a porrada, a bomba.
 
Os homens de bem não querem saber de provas. Querem condenar. Para os homens de bem, não importa se Lula é culpado ou inocente, não importa se o processo foi acelerado, não importa se a constituição foi rasgada.
 
Para os homens de bem, primeiro a gente tira a Dilma, depois…
 
Depois a gente tira o Temer, mas o congresso não deixou.
 
Depois a gente tira o Aécio, mas a Carmen Lúcia não deixou.
 
Depois a gente tira o Renan, mas o Gilmar não deixou.
 
Depois a gente tira o Alckimin, mas ele tem foro privilegiado, é outra história.
 
Pois é. O foro acabou, mas a procuradora não deixou. Mandou tudo para o TRE e retirou o processo da lava-jato.
 
Os homens de bem não se importam em ter uma justiça seletiva. Os homens de bem ignoram as malas do Rodrigo Temer Loures, as contas na Suíça do José Serra, os esquemas do João Dória, todos livres, leves e soltos. Os homens de bem são bem simples: eles só querem jogar Lula do avião.
 
E, se possível, jogam também a Gleise, a Manuela, o Boulos e todo aquele povo do nordeste que mama nas tetas do bolsa-família, com 85 reais por mês. São vagabundos, não são homens de bem para os homens de bem.
 
Para os homens de bem, a justiça é um puteiro. Mas não é um puteiro comum. É um puteiro supremo, com direito a suingue e chicotada, com tudo. E o que eles gostam não é de um simples ménage à trois, mas de um 6 a 5, bem gostoso, como nas melhores putarias.
 
Putarias do bem, é claro.
 
* Felipe Pena é jornalista, psicólogo e escritor. Autor de 16 livros, trabalha como roteirista e dá aulas de jornalismo na Universidade Federal Fluminense.
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. A justiça brasileiroa nunca

    A justiça brasileiroa nunca foi tão bem homenageada como a feita no tal puteiro  do maroni. Perfeita homenagem e texto perfeito do F. Pena. parabéns !!!

  2. Pesadelo

    Seria cômico se não fosse tragicamente verdadeiro esse post. Quem seria capaz de prever há dois anos atrás que em tão pouco tempo o país chegaria há um  nível de deterioração que chegou? Ninguém. O mais trágico e inacreditável, é que aquelas instituições que deveriam zelar pela concórdia, pela justiça e pela paz são exatamente aquelas em que não confiamos mais, quer por se omitirem ,quer por fazer o jogo dos entreguistas e golpistas que destroem a nação.

  3. Tudo concurseiro da época do Lula

    Olha essa foto, tudo concurseiro da época do Lula, ai ai, se não fosse a tal da meritocracia estavam enchendo tanques em algum posto.

    E o PT encheu o serviço público desses playboys!

  4. Pois é…

    Como li no twitter de alguém por estes dias:

    Morro de medo de acordar e ir na cozinha no meio da noite e encontrar um homem de bem.

  5. Um cafetão, uma puta, o juiz,
    Um cafetão, uma puta, o juiz, a ministra.
    Certamente os dois últimos não terão se visto em boa companhia.
    Mas eu digo, estão em companhia adequada.

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