Templo é dinheiro e prejuízo, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Dilma Rousseff deu aos pastores o direito de usar verbas da cultura. Mas eles continuaram famintos.

Templo é dinheiro e prejuízo

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Friedrich August von Hayek, o herói do neoliberalismo, defendeu a tese de que o Estado não deve ter o monopólio de produzir dinheiro. Os agentes do mercado também devem ter o direito de abastecer o público com a moeda de sua preferência.

Os maiores defensores do neoliberalismo no Brasil são os pastores evangélicos. Primeiro, eles transformaram suas igrejas em empresas lucrativas e investiram em empresas de comunicação. Depois, os fiéis foram mobilizados para eleger deputados, senadores, prefeitos, etc…

Dilma Rousseff deu aos pastores o direito de usar verbas da cultura. Mas eles continuaram famintos. Com Bolsonaro na presidência os Pequenos Templos & Grandes Negócios passaram sugar mais e mais as tetas da União. Todavia, isso não irá satisfazer a imensa ambição dos evangélicos.

E assim retornamos ao princípio. O que Lula  pode fazer para granjear o apoio dos evangélicos aprisionando-os numa armadilha mortal que levará as Igrejas à falência e os pastores à ruína? Minha proposta é ousada e insana. E justamente por isso ela tem tudo para dar certo.

Lula deve se comprometer a dar às Igrejas o direito de emitir moeda para abastecer os tolos, com a condição de que em caso de crise e prejuízo dos clientes da moeda privada evangélica nem o Banco Central nem o Tesouro irão socorrer os pastores e suas vítimas.

No princípio, essa medida provocaria um florescimento exuberante e irracional das finanças evangélicas. Fortunas em moeda evangélica seriam feitas. Mas em algum momento a bolha explodiria na cara dos pastores estelionatários afastando deles o imenso rebanho de prejudicados.

O PT precisa aprender a usar as vicissitudes do capitalismo para ferrar politicamente os pastores neoliberais. A despolitização da religião não será fruto de uma guerra religiosa e sim de uma crise financeira criada pelos pastores para destruir o capital político deles.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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  1. A Fé já é, em si, uma moeda virtual. A salvação, lá no outro lado do mistério, são os ganhos das aplicações que aqui fazem os fiéis, em moeda corrente.
    Mas isso tudo, claro, vale apenas para os fiéis, que acreditam piamente nas coisas do além, e por elas pagam com o suor do seu trabalho aqui na Terra.
    Os pastores, que são os que melhor conhecem a inutilidade e falácia dessas coisas, vão preferir continuar lidando apenas com a moeda corrente terrestre, para assinar seus contratos de compra e venda de títulos celestiais.
    Se, algum dia, alguém que passou desta para melhor retornar, e provar que no Céu também tem bailout, ou algum tipo de Proer celestial, aí, quem sabe, eles se interessem em lançar a heavencoin.
    E a financeirização, que já converteu ao seu credo a economia real, tomará conta também do paraíso. Não lhe bastarão os lucros exorbitantes que extrai à custa da energia dos corpos de seus cordeiros, também as almas terão que ter uma certa rentabilidade.
    A Fé, como se sabe, ajuda a aliviar, de alguma forma, a dor de ser explorado – ainda que a maioria não perceba nem admita sê-lo. Já que ela tem que ser mantida, que seja lucrativa, também.
    Não, prezado Fábio, os pastores não são ‘tolos nas meças’, como diria Guimarães Rosa.
    A moeda deles é a que se usa aqui, e é garantida por aqui, pelo Estado. A única coisa que eles garantem é o Paraíso, que é dos tolos, e que não é entregue aqui, mas sim lá, na admissão. Como ninguém nunca de lá retornou, para atestar a fraude, segue o baile.

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