Massacre na Palestina: Fantasmas do passado assombram Israel, por Ruben Rosenthal

Investigação sobre um massacre ocorrido durante a guerra de independência de 1948 expõe um lado sombrio da fundação do Estado de Israel.

Possível local de covas coletivas em Tantura / Forensic Architecture

do blogue Chacoalhando

Massacre na Palestina: Fantasmas do passado assombram Israel

por Ruben Rosenthal

O tema das atrocidades cometidas em 1948 é altamente sensível em Israel.

Poucos dias após as comemorações dos 75 anos da independência Israel, ressurge uma história que fora enterrada junto com dezenas de corpos de palestinos em valas coletivas. Uma investigação sobre um massacre ocorrido durante a guerra de independência de 1948, conduzida pela Forensic Architecture, expõe um lado sombrio da fundação do Estado de Israel.

A Forensic Architecture é sediada em Goldsmiths, Universidade de Londres, e utiliza técnicas e tecnologias arquitetônicas para investigar casos de violência estatal e violações dos direitos humanos em todo o mundo. O grupo é liderado pelo arquiteto israelense-britânico, Eyal Weizman.

A investigação em Tantura foi fundamentada em dados cartográficos e imagens aéreas, que foram usados para criar modelagem 3D, determinando os locais prováveis de execuções e valas comuns, bem como os limites de cemitérios anteriormente existentes, e se sepulturas podem ter sido exumadas ou removidas.

Segundo relato no periódico britânico The Guardian, sobreviventes e historiadores palestinos há muito afirmam que homens que viviam em Tantura, uma vila de pescadores de aproximadamente 1.500 pessoas perto de Haifa, foram executados em 22 de maio, depois de se renderem à Brigada Alexandroni dos combatentes judeus.

Os corpos teriam sido jogados em uma vala comum, que se acredita estar localizada sob uma área que agora é um estacionamento no atual resort da Praia de Dor. As estimativas variam de 40 a 200 pessoas, segundo o artigo no The Guardian, e entre 20 e 280, pelo Middle East Eye.

Segundo o relato no Middle East Eye, a investigação identificou em Tantura dois locais com “alta probalidade” de serem valas coletivas, e outros dois também com possibilidade de conterem valas com corpos. O tema das atrocidades cometidas em 1948 é altamente sensível em Israel. Um documentário feito no país sobre o que aconteceu na vila de Tantura enfrentou ampla reação, quando foi lançado em 2022.

O relatório Tantura foi encomendado pela Adalah, um grupo palestino de direitos humanos com foco em questões legais. Com base nas descobertas, Adalah entrou com uma petição legal, inédita em Israel em nome de várias famílias de Tantura ainda no país.

As famílias querem que os locais das possíveis valas coletivas sejam demarcados, para poderem exercer o direito de proporcionar um enterro digno aos mortos, o que é garantido pela legislação internacional e mesmo de Israel.

O caso de Tantura traz também de volta outras tragédias ocorridas há 75 anos, quando cerca de 500 vilas foram destruídas. Na vila de Deir Yassim, teriam morrido pelo menos 100 residentes palestinos no massacre promovido por milícias judaicas, gerando o pânico que contribuiu para que cerca de 600 a 700 mil palestinos abandonassem suas residências. Este êxodo ficou conhecido como Nakba (catástrofe), e é relembrado anualmente em 15 de maio, o dia posterior às celebrações da independência de Israel.

O projeto Tantura foi o primeiro de uma série de investigações que a Forensic Architecture pretende conduzir sobre os massacres que teriam ocorrido à época da Nakba.

Ruben Rosenthal é professor aposentado da UENF, responsável pelo blogue Chacoalhando e pelo programa de entrevistas Agenda Mundo, no canal da TV GGN e da TV Chacoalhando. 

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. A publicação do artigo dependerá de aprovação da redação GGN.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador