Dilma faz reforma técnica e resiste à pressão do PMDB

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Jornal GGN – A segunda rodada de mudanças no primeiro escalão do governo Dilma Rousseff foi marcada pela escolha de nomes técnicos, embora com chancela de caciques políticos. Mesmo com partidos do arco de alianças pressionando por mais cargos na máquina administrativa, a chefe do Executivo nacional garantiu espaço ao PT e peitou o PMDB do deputado federal Eduardo Cunha, que viu minguar seu desejo de comandar o sexto ministério em nome da legenda. A criação de uma frente contra interesses governamentais na Câmara Federal não garantiu vitória.

Pelo menos quatro dos seis novos ministros escolhidos pela presidente têm formação e experiência necessárias aos cargos que irão ocupar a partir da próxima semana. E, no que tange especificamente à crise com o PMDB, as nomeações, se não agradaram parcela considerável da legenda, também não provocaram reações alérgicas preocupantes ao longo dessa sexta-feira (14).

A ação de Dilma, no entanto, surpreende apenas pelo enfrentamento às barganhas de aliados às vésperas da disputa eleitoral. Na avaliação de Cláudio Couto, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas, a iniciativa condiz com o ano chave. “Embora não sejam mudanças estritamente técnicas, essa tem sido a tônica das reformas ministeriais nos últimos anos de qualquer governo. É comum que haja indicação de técnicos com patrocínio de lideranças políticas relevantes. O que não é assimilável é puro fisiologismo”, comenta. Couto acredita que a reforma, do jeito que foi feita, põe ponto final na guerra fria com o PMDB.

Por outro lado, Rui Tavares Maluf, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, destaca que o cunho político-partidário da reforma ministerial ficou evidente, “não só para atender ao PMDB, mas ao próprio PT e aliados menores. E no caso do PMDB, devemos considerar que só uma parte do partido foi contemplada. O novo ministro do Turismo é de preferência do Senado, do presidente Renan Calheiros, e não da Câmara”, frisa. Dessa forma, segundo ele, seria impossível prever se os ânimos serão contidos.

Na segunda (17), Dilma dará posse a Miguel Rosseto (Desenvolvimento Agrário), Gilberto Occhi (Cidades), Clélio Campolina (Ciência e Tecnologia), Eduardo Lopes (Pesca), Neri Geller (Agricultura) e Vinícius Lages (Turismo). Os dois últimos nomes possuem perfis técnicos (Neri, ex-secretário de Política Agrícola, e Lages, assessor internacional do Sebrae) mas também estão na cota do PMDB, agradando principalmente ao nicho mineiro – território onde Dilma enfrentará uma disputa acirrada contra o senador Aécio Neves (PSBD).

 

Segunda rodada da reforma ministerial:

Indicações técnicas

Desenvolvimento Agrário – Miguel Rossetto
O gaúcho Miguel Rossetto acumula experiência no cargo, pois foi titular da pasta entre 2003 e 2006, durante o governo Lula. É sociólogo, sindicalista e participou da fundação do PT. Nos últimos anos, liderou a Petrobras Biocombustível. Ele substitui Pepe Vargas (PT), que concorre a uma cadeira na Câmara este ano.

Cidades – Gilberto Occhi
Occhi, vice-presidente de Governo da Caixa Econômica Federal e funcionário de carreira do banco, é a indicação do PP para substituir o deputado licenciado Aguinaldo Ribeiro, que tentará a reeleição. Formado em Direito e pós-graduado em Finanças, o mineiro atuou como gerente e superintendente em diversas áreas no Espírito Santo e Alagoas.

Ciência, Tecnologia e Inovação – Clélio Campolina Diniz
Substitui Marco Antônio Raupp. É reitor da Universidade Federal de Minas Gerais e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Campolina é formado em engenharia mecânica pela PUC, doutor em Ciência Econômica pela Unicamp, com pós-doutorado nos Estados Unidos. Ele foi diretor-presidente do Parque Tecnológico de Belo Horizonte.

Indicações técnicas e políticas

Agricultura, Pecuária e Abastecimento  Neri Geller

Geller entra no lugar de Antônio Andrade – que deve ser vice na chapa de Fernando Pimentel na disputa pelo governo de Minas Gerais – no ministério que já era comandando pelo PMDB. O titular é ex-secretário de Política Agrícola e empresário do ramo.

Turismo – Vinícius Nobre Lages
Substitui Gastão Vieira (PMDB), que disputa uma cadeira na Câmara em outubro. É assessor internacional do Sebrae. Antes de optar por um nome técnico, Dilma pensou em colocar na titularidade da pasta o peemedebista Ângelo Oswaldo, mas a própria legenda resistiu à indicação. Lages é do grupo de Renan Calheiros.

Indicação política

Pesca e Aquicultura – Eduardo Lopes
O senador Eduardo Lopes é o quarto ministro que a região do ABC Paulista mantém na Esplanada durante a gestão Dilma Rousseff – entram na lista Miriam Belchior, Gilberto Carvalho e Arthur Chioro. Natural de Santo André, mas senador suplente pelo PRB do Rio de Janeiro, Lopes ocupava a vaga de Marcelo Crivella, que retornará ao Senado para a eleição. 

 

Reforma e emendas x trégua com aliados

Além de pontuar as mudanças ministeriais sem ceder ao PMDB de Eduardo Cunha, o governo Dilma apostará na liberação de emendas parlamentares ao longo dos próximos meses como forma de abafar a tensão com aliados na Câmara. “Com isso, os deputados que entraram na onda de Cunha devem acalmar os ânimos e o peemedebista deve perder, aos poucos, o poder de fogo”, destacou o cientista político Cláudio Couto.

Já na opinião de Rui Tavares Maluf, não há certeza de que a reforma ministerial ou a liberação de emendas terão sucesso. “Tenho dúvidas. Desde a morte de Ulisses Guimarães, o PMDB é um partido que tem dificuldade de se manter unido e se aproxima de governos eleitos muito mais por interesse do que por afinidade com projetos políticos e de gesta pública. Na medida em que os anos passam e se aproxima o fim de um mandato, é natural que quem se sente não contemplado provoque alguma tensão”, avaliou.

 

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “Já na opinião de Rui Tavares

    “Já na opinião de Rui Tavares Maluf, não há certeza de que a reforma ministerial ou a liberação de emendas terão sucesso”:

    Pois eu tenho certeza diki nas indicacoes de Dilma, com uma unica excessao -nao eh esse cara.

  2. Onde já se viu, doutor?

    Não é possível que um doutor em Ciência Política, inda por cima pela USP, uma universidade referencial no Brasil, tenha dito uma sandice como esta: “o cunho político-partidário da reforma ministerial ficou evidente”! Deve ser uma redação infeliz da Cintia, autora da matéria. Se essa afirmação tiver mesmo sido feita assim pelo doutor Maluf, isso significa necessariamente que, para ele, pode haver ministério sem esse cunho, isto é, um ministério apolítico-apartidário. Onde já se viu isso, doutor?

  3. Muitos deputados do blocão

    Muitos deputados do blocão estão desesperados porque não voltaram a Brasília em 2015.

    Depois das burrices de 2010 (que ajudaram a eleger esse lixo de base aliada), o PT acordou…

    Tem que ir pra cima mesmo, o PT precisa parar de ajudar eleger adversário e crescer bastante na Câmara, além da grande possibilidade de eleger 1/3 do senado e governos estaduais.

    A mídia vai inventar que o PT busca hegemonia, bobagem, hegemonia foi a vitória do PMDB em 1986 (21 governadores eleitos do partido de 22 estados existentes na época).

  4. A Presidência, os Governadores e os Parlamentares.

    O que está em jogo entre o PT e o PMDB? Essa é a questão. Os interesses locais do PMDb (e também do PT) contaminam a aliança eleitoral (não propiamente política) entre o PT e o PMDB na esfera federal.

    A divisão das cadeiras no Parlamento – e a correlação de forças entre o PT e o PMDB na esfera federal – depende diretamente das eleições para os Governadores nos Estados.

    Assim, a relação de forças decorrente da aliança nacional (e no Governo Federal) depende das eleições estaduais.

    Essas composições eleitorais nos Estados é que contaminam hoje o quadro político enre o PT e o PMDB no âmbito federal.

    O que está em jogo então seria a dança nas cadeiras do Parlamento. No Senado a correlação de forças não será em muito alterada. A renovação é de 1/3 nas cadeiras do Senado. Aí o PMDB ainda reinará. Em 2010, na Câmara, o PT teve 88 Deputados Federais eleitos (20%), e o PMDB 79 (18%) – na legislatura anterior o PMDB tinha 90 Deputados Federais, e o PT 79.  O PT obteve a maioria e o direito de presidir a Câmara Federal nos 2 primeiros anos do mandato de Dilma.

    E Eduardo Cunha capitanea esse movimento do “Blocão” de interesses do Governadores (em especial de Cabral) e dos candidatos a Deputados Federais do PMDB e de outros partidos “aliados” para que não minguem mais o número de Deputados Federais do PMDB e deles em comparação com os eleitos do PT. E para o político Eduardo Cunha, candidato à releição como Deputado Federal, essa exposição renderá frutos eleitorais. para os demais, eles querem verbas da emendas parlamentares para fazer “caixa” para a campanha.

    O PT atuará (e já atua) junto aos demais partidos do “Blocão” para desmobilizar a ação de Eduardo Cunha. Nesse jogo está a votação do marco civil da internet – que é muito para Dilma no âmbito internacional mas nada premente para o Brasil – e 12 Medidas Provisórias – só 2 MP’s relevantes, como a que diz respeito à tributação de IR para empresa multinacional brasileira e alteração no programa INOVAR Auto. Afora isso, nada tranca a pauta ou causaria desconforto ao Governo Federal até junho de 2014. Ou seja, o poder de pressão de Eduardo Cunha não é muito, e parece que já o gastou na Convocação de Ministros e viagens para a Holanda para nada ver, pois duvido que as autoridades investigadoras de lá deem “trela” para os parlamentares. Caso Dilma retire o regime de urgência do Projeto do Marco Civil da Internet – ou retire o próprio projeto da apreciação parlamentar – a poder de pressão de Eduardo Cunha se evapora.

    Um segundo turno na campanha presidencial seria bom para o PMDB ( e claro, para as oposição). Um primeiro turno pode representar um maior número de Deputados Federais do PT. E mais força para Dilma se impor sobre o PMDB no segundo mandato.

    Enfim, só em 30/06/2014 – data final das convenções partidárias com vistas à definição das chapas – a relação entre o PT e o PMDB será tensa. E nesse xadrez, a oposição – se ela existe – sai ganhando. E já em junho de 2014 a Congrsso Nacional só “funcionará” uma semana por mês (isso já está dfinido), pois afinal depois de São João e da Copa vem eleição.

  5. Por definição não existe

    Por definição não existe reforma ministerial “técnica”, qualquer composição ministerial é sempre politica mesmo que os indicados não sejam politicos, um Ministério é sempre uma operação politica, em qualquer regime.

  6. Nesse entrevero, alguem deve

    Nesse entrevero, alguem deve impedir do Rui Falcão fazer qualquer comentário. Já basa isso para levar o tal deputado do PMDB à sua insignicancia e a fervura baixar.

  7. técnicas ma non troppo

    “Dilma faz REFORMA TÉCNICA e resiste à pressão do PMDB”.

    “Embora não sejam mudanças ESTRITAMENTE TÉCNICAS, essa tem sido a tônica das reformas ministeriais nos últimos anos de qualquer governo.”

    …Então fica assim: É TÉCNICA MAS NUM É MUITO…

    No bojo das manifestações do ano passado, o petoblogueiro Nassif preconizava:

    “Depois, é tratar de pensar o segundo tempo do jogo. E não haverá como passar por algumas etapas indispensáveis:

    1. Mudar o estilo de governo. Para se colocar a salvo de pressões, Dilma isolou-se. Essa postura acabou se irradiando por todo a máquina, resultando em uma imagem de arrogância. Tem que mudar a forma de gerenciar e criar outras instâncias que impeçam a entropia dos sistemas excessivamente centralizados.

    2. É imprescindível uma reforma ministerial, começando pela área econômica. Nem Fazenda, nem Banco Central nem Tesouro têm estoque de credibilidade para enfrentar a tormenta que se avizinha. O desafio será substituí-los por figuras pragmáticas – e fortes – que não se curvem às pressões de mercado.

    3. Interlocução política e social. Há um problema visível na articulação política e na Casa Civil.

    4. Comunicação: tem que se montar uma estrutura interministerial, coordenada pelo Planalto, para monitorar as redes sociais e responder com presteza o festival de factoides que tomou conta do país. Como os programas de mobilidade dependem dos governadores, tem que se montar um painel de controle para monitorá-los e permitir à opinião pública identificar os pontos de estrangulamento – e pressionar.”

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-estrategia-para-enfrentar-a-crise

    Parece que a presidenta Lula não dá lá muita bola pro blogue do Nassif…

    “A crise política explodiu com algumas nuvens apenas no horizonte econômico. Terá que ser enfrentada com cumulus-nimbos se espalhando pela atmosfera”

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-estrategia-para-enfrentar-a-crise

    Nassif passaria fome como observador meteorológico…

    Nassif, o termo correto é “cumulus nimbus”.

    Além disso, há um ligeiro erro de preposição: “ Terá que ser enfrentada COMO …”

    Além do mais, para um observador meteorológico , o horizonte tem 360 graus. Ou seja, é bem mais amplo que o “econômico”.

    Enquanto isso, no quintal do Sarney – a Mansão das Minas e Energia – a Dilma num chega nem no portão…

    …Medo de cachorro grande: Lobão.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador