(Sobre) vivendo do petróleo: trabalhadores e riscos ocultos nas plataformas

Dentre as mercadorias do capital, a força de trabalho parece ser a menos protegida. A lógica da maximização do lucro rege as regras da acumulação no setor e a grande mídia interessa-se, unicamente, pelas denúncias de corrupção e as possibilidades de privatização da Petrobras

do Brasil Debate

(Sobre) vivendo do petróleo: trabalhadores e riscos ocultos nas plataformas

por Juliane Furno e Beatriz Gomes 

Conteúdo especial do projeto do Brasil Debate e SindipetroNF Diálogo Petroleiro

Diariamente, a grande mídia nos apresenta informações sobre a Petrobras. A maioria das notícias traz em suas manchetes palavras-chave como corrupção, preço (do combustível), pré-sal… Ou seja: a competição pela acumulação de capital, feita em nome do crescimento econômico.

Porém, a dimensão humana vem sendo irresponsavelmente ferida e obstruída, afogada pelas forças que buscam o imediatismo de lucros crescentes. O deslumbramento pelo lucro concorre para tirar do foco a complexidade e os limites dos seres humanos que produzem a riqueza nas refinarias e plataformas marítimas de petróleo – local de produção de que trata esse texto.

A última vítima da busca incessante pela produção à custa da saúde e vida dos trabalhadores foi o técnico de operação pleno, da Petrobras de Duque de Caxias, REDUC, Luiz Augusto Cabral de Moraes, 56 anos. No dia 03 de fevereiro de 2016 ele foi encontrado morto dentro de um tanque de óleo.

A grande mídia não noticiou. É mais um número na estatística interna.

O movimento sindical dos petroleiros historicamente tem elencado em primeiro lugar a pauta do direito à saúde e – sobretudo – à vida do trabalhador. Acidentes históricos como a P-36 na Bacia de Campos RJ, que deixou 11 mortos em 2011, contribuem para o clima de insegurança.

De 2000 a 2010 foram registrados 33 acidentes fatais, computando-se apenas os que atingiram os trabalhadores concursados do Sistema Petrobras. A cifra sobe imensamente quando acrescidos os trabalhadores terceirizados, principais vítimas da precarização e descaso com a vida do trabalhador. Somente em 2014 foram registrados 14 acidentes fatais, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Paradoxalmente, quando os trabalhadores deflagram greve – na qual o tema da segurança está sempre nas primeiras reivindicações – o nosso sistema de Justiça quando a entende como ilegal aplica uma multa diária ao sindicato de não raros 100 mil reais.

Alguém já soube de alguma indenização diária nesse valor às famílias das vítimas? Quanto vale uma vida? Parece que essa conta só é feita na proporção de barris de petróleo, única linguagem que o capital compreende.

Depoimento de esposa e filha do petroleiro denunciaram as condições de trabalho e o motivo do acidente:

“O teto cedeu porque já estava em péssimas condições, corroído, e havia pedido de interdição do mesmo. Mas a Petrobras não interditou. Ele estava em funcionamento porque o lucro que eles têm com um tanque é mais importante do que o respeito e a segurança de seus funcionários. Por isso, Luiz Cabral caiu em um óleo denso, de temperatura de 75 graus celsius. Ele nem teve chances. O óleo denso puxou seu corpo até o fundo do tonel com capacidade de 6631 mil metros cúbicos. Os colegas de Luiz Cabral que foram procurá-lo, quando viram o buraco, entraram em estado de choque e foram afastados. Havia marcas de mãos que tentaram se segurar, e era óbvio o que tinha acontecido. Apenas depois de dois dias esvaziando o tanque acharam o corpo do funcionário “desaparecido”. O mais assustador da história é que há diversos outros tanques assim, diversas escadas quase tombando, postes com perigo de cair…”

Dentre as mercadorias do capital, a força de trabalho parece ser a menos protegida. A lógica da maximização do lucro rege as regras da acumulação no setor e a grande mídia interessa-se, unicamente, pelas denúncias de corrupção e as possibilidades de privatização da Petrobras.

A categoria resiste e mediante as suas greves, denúncias e nas mesas de negociação coletiva reiteram o compromisso com a sociedade, que vai desde a reposição salarial da categoria, passando pela defesa dos interesses estratégicos da soberania nacional, até a luta incansável e permanente pelo direito de viver – daquele herói de macacão laranja que se arrisca cotidianamente na extração de uma das nossas maiores riquezas nacionais, que, no entanto, é permanentemente ameaçada de privatização.

Juliane Furno – É graduada em ciências sociais pela UFRGS, mestranda em desenvolvimento econômico na Unicamp e militante do plebiscito constituinte do comitê Unicamp

Beatriz Gomes – É graduada em Ciências Econômicas pela UEM e mestranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp

Redação

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  1. Do Viomundo Narciso Alvarenga

    Do Viomundo

     

    Narciso Alvarenga Monteiro de Castro: “Não me surpreenderei se Dilma deixar o PT”

    publicado em 25 de fevereiro de 2016 às 13:09

    Nilton Monteiro

    Nilton Monteiro falou a verdade. CPMI que tinha Delcídio e Cardozo trabalhou para desacreditá-lo

    ACORDÃO: O COMEÇO DO FIM DO GOVERNO DILMA OU O FIM DO GOVERNO QUE NUNCA COMEÇOU?

    Narciso Alvarenga Monteiro de Castro*

    A votação de ontem no Senado pôs a nu a fragilidade do governo Dilma ao aceitar acordo para a entrega do pré-sal às petroleiras estrangeiras, como havia prometido José Serra à Chevron.

    A participação decisiva de Renan Calheiros, a abstenção do novo líder no Senado, Humberto Costa… tudo leva à conclusão de Lindbergh Farias: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a sua vã filosofia”.

    Ou como diria o Príncipe honesto, na mesma peça de William Shakespeare, “há algo de podre no Reino da Dinamarca”, ao se ver cercado por desonestos e abutres.

    Tais divagações a respeito da maior derrota progressista dos últimos anos, me levam a outras indagações, talvez ao maior enigma do governo Dilma, a presença do ministro José Eduardo Cardozo na estratégica pasta da Justiça.

    Imune a todas as críticas, parece gozar da confiança irrestrita da presidenta. Os círculos progressistas já se cansaram de malhar o aparentemente sonolento colaborador de Dilma (Cardozzzzzo), que parece aqueles bonecos de “joão bobo”, você lhe dá um soco e ele volta a ficar em pé novamente.

    Integrantes da Polícia Federal já o apelidaram de “Eduardo Carbozo”, se referindo obviamente ao palhaço conhecido — e tudo fica por isso mesmo.

    Mas eu tenho uma nova tese. A minha tese é de que o indigitado ministro não é nada parvo. Ao contrário, é muito esperto e faz exatamente o que quer e o que a presidenta quer. E a polícia faz exatamente o que o ministro quer. E a presidenta faz o que quer fazer.

    Aqui, e com a votação citada, chega-se à maior distanciação entre o governo e o PT. Há tempos, falei das diferenças entre o PT, o governo e governo do PT. Nunca dantes tais diferenças estiveram tão nítidas como hoje.

    Mas voltando ao ministro, desconfia-se que tenha ficado ressentido com Lula, o chefe maior do PT, pois sempre agasalhou pretensões de ser indicado a ministro do STF, pois se enxerga como grande jurista.

    Várias vagas foram preenchidas e Cardozo não foi indicado.

    Já Dilma preferiu deixá-lo mais próximo. Também já se falou que ficou descontente quando Lula ungiu Haddad como seu preferido (vitorioso) à Prefeitura de São Paulo.

    Também se comenta das estripulias do então advogado Cardozo, incluindo seu cliente mais conhecido, o notório Daniel Dantas, esse mesmo do Opportunity…

    Então, José Eduardo Cardozo, a esfinge (decifra-me ou te devoro), no meu entender, seria um petista, tipo Delcídio do Amaral, aquele que já foi chamado o maior peesedebista (PSDB) do PT, inclusive foi nomeado por FHC para a Petrobrás, quando integrava o PSDB. Tenho fundadas razões para tal comparação, uma vez que por esses dias andei lendo o relatório da CPMI dos Correios.

    Lembram-se, 2005, da chamada CPI do Fim do Mundo? Foi controlada pela oposição exatamente no Senado e “descascou” o PT, o então marqueteiro Duda Mendonça (que havia trabalhado para o PSDB nas campanhas de Eduardo Azeredo, aquele do Mensalão do PSDB, condenado recentemente).

    Pois bem, o relatório é composto de três volumes e mais de 1.700 laudas, não é coisa para iniciante.

    O presidente da CPMI era exatamente Delcídio do Amaral (PT) e o relator Osmar Serraglio (PMDB). A CPMI teve participação ativa do então deputado José Eduardo Cardozo, que ajudou a “descascar” as contas e campanhas do PT, a descobrir a famosa conta Dusseldorf no exterior. Veja como o mundo dá voltas e retorna ao mesmo lugar! O marqueteiro da vez agora é João Santana, acossado pela Polícia Federal de quem? José Eduardo Cardozo!

    Em 2005, se vivia, como hoje, um clima robespieriano, com pescoços sendo cortados ou ameaçados de corte. Veja o tom (falso) moralista no final do relatório, escrito por Serraglio e Delcídio (então arauto do moralismo rasteiro, vejam só, hoje recém-saído da cadeia):

    O Brasil vive, com a presente CPI, mais um momento histórico importante para o seu amadurecimento político. Outras CPIs marcaram, em passado recente, circunstâncias desse amadurecimento e expressaram a contribuição que o Congresso Nacional pode e deve oferecer…

    Então, este mesmo Congresso Nacional, demonstrando sua sensibilidade aos clamores da sociedade, e sua identidade com o interesse nacional, exibiu o erro em que se incorria. Um indesejado, mas necessário processo de impeachment se impôs. Nesta outra página histórica, a ilusão de que a cidadania devesse ou pudesse delegar as atribuições indispensáveis à redenção nacional a um agrupamento político determinado é destruída pela lógica imperativa dos fatos. Nenhum grupo ideológico, isoladamente, irá redimir a sociedade brasileira.

    Não, nós não riremos da honra, nem zombaremos da honestidade. O País que merecemos, que nossos filhos esperam de nós herdar, é o que passamos a desenhar com essa virada de página, evidenciando nosso inconformismo com o malbaratamento dos suados recursos de nossa sofrida gente. Ressaltamos, na Introdução deste Relatório Final, e julgamos necessário repetir em seu momento final: Sem moralidade administrativa, os recursos destinados à educação são desviados, e seguiremos um País de iletrados. (Relatório, vol. III, pg. 1715 e ss).

    Coloquei em destaque a pretensão de parafrasear o grande jurista Rui Barbosa, que em discurso no Senado no ano de 1914 disse a célebre frase, tantas vezes repetida, mas nunca com a desfaçatez mencionada:

    De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

    Esta mesma CPMI, que em 2005 teve a covardia de mencionar a Lista de Furnas apenas para tentar desacreditá-la, constando apenas as versões da oposição, que tentavam desqualificar o lobista Nilton Monteiro.

    Mais tarde ficou comprovado que as denúncias de Monteiro sobre o mensalão do PSDB eram verdadeiras, que a Lista era verdadeira, como também que uma verdadeira Máfia armou contra tal personagem, contra o deputado Rogério Correia. Prenderam jornalistas, advogados e calaram a imprensa.

    E para quem leu com cuidado a histórica sentença (de 141 laudas) da ilustre e corajosa Magistrada Melissa Pinheiro Costa Lage Giovanardi, viu que:

    É necessário que seja dada credibilidade às declarações de NILTON MONTEIRO, haja vista que diversas de suas afirmações foram confirmadas pelas testemunhas. (p. 110).

    E também que:

    Enfim, diante de todo o conjunto probatório que fora exposto, não restam dúvidas de que o acusado EDUARDO BRANDÃO DE AZEREDO, para disputar a reeleição ao cargo de Governador do Estado de Minas Gerais, no ano de 1998, criou uma estrutura político-financeira a fim de legitimar, lavar, os vultuosos recursos que seriam utilizados durante a campanha. Criou-se uma organização criminosa complexa, com divisão de tarefas aprofundada, de forma metódica e duradoura. (p.134).

    Por isso, ganha credibilidade a tese de Lindbergh Farias, que falou em traição, ao se referir ao espúrio acordo que entregou o pré-sal no Senado, reflexo direto da ação de destruição da Petrobrás, levado a termo pela Lava-Jato. Aqui, já não remanescem dúvidas sobre a intenção de Dilma de manter Cardozo no governo.

    Não me surpreenderia se nos próximos dias Dilma seguisse Marta e deixasse o PT. Ou se o PT deixasse o governo.

    *É juiz de Direito em Minas Gerais

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