A luta política no Brasil e as eleições

Por Assis Ribeiro

As campanhas de Dilma e das oposições com Campos e Aécio já delimitaram os seus espaços com as declarações dos candidatos e seus assessores que mais uma vez deixaram claro a dicotomia que divide os espaços da nossa política.

 Essa divisão é fruto do sucesso acadêmico dos planos neoliberais da escola de Chicago e dos avanços obtidos no quesito social quando grandes nações se utilizaram do keynesianismo como forma de alavancar os seus desenvolvimentos a partir da inclusão e do modelo de Estado como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia, tal como ocorreu no “New Deal” americano e com a política de “Bem Estar Social” dos países europeus.

Os que seguem o neoliberalismo se utilizam dos axiomas propostos como “eficiência dos mercados”, “austeridade”, “Privatização”, “disciplina de mercado”, “redução de despesas públicas”, “menos estado”.

Do outro lado estão os que defendem uma política de Estado forte como agente indutor e regulamentador da saúde social, política e econômica do país, realizando gastos com o social, geração de emprego, e com  bancos públicos e empresas nacionais fortes.

O grande problema dos que abraçam os princípios neoliberais no Brasil é como adequá – los ao enorme sucesso das políticas de cunho keynesiano dos governos Lula/Dilma. Daí surge a tentativa da direita de procurar inventar um discurso social.

Impossível defender uma política que tem levado milhões ao desemprego na Europa atual contra as realizações de aumento de salário mínimo e gastos públicos com o social dos últimos governos que tirou da pobreza  40 milhões de pessoas desde 2003.  Essa é a principal dificuldade que encontram Campos e Aécio; como definir um projeto político mais sedutor que as políticas dos governos do PT?

Os discursos de Campos e Aécio podem ser lógicos para o sistema que eles abraçaram, mas sem relação com a realidade do país e dos votos. Não se pode fazer um discurso vitorioso dentro dos princípios neoliberais que funcionam como se pessoas, pobreza e a miséria, não existissem e as necessidades sociais que demandam gastos públicos não fossem necessárias e imperiosas.

No Brasil não cola o discurso de se subordinar a utilidade social aos interesses financeiros. Os apoios sociais e o aumento real de salário mínimo não podem ser considerados uma “concessão” e sim como um direito humano a ser perseguido por políticas de inclusão só possíveis de serem realizadas como um Estado forte.  O que disseram Campos e Aécio de que “Ajustes fortes e dolorosos serão necessários” pode agradar a banca, mas é ruína para os votos.

A encruzilhada que se metem ao criticarem as políticas de inclusão e melhoria salarial do governo não permite uma alavancagem de votos.  A política de sacrifícios e o discurso da “competitividade” como justificativa para conter o aumento real do salário mínimo ainda bastante baixo se tornam risíveis.

Ao contrário, as políticas de inclusão e de aumento do salário dos governos do PT se mostraram não só necessárias, mas possíveis de serem realizadas.

Por isso os candidatos de oposição, Campos e Aécio, partem para a crítica mas não são capazes de apresentar alternativas. Fazem um discurso social que se torna vazio pela impossibilidade de se unir o que o mercado quer com o que a população precisa.

O candidato Eduardo Campos chegou a fazer crer, exatamente ele que pretende ser o “novo”, que a “terceira via” faria unir os interesses destes dois polos. Um engodo.

Tal política não tem nada de novo e foi o que Tony Blair fez com a tentativa da junção da socialdemocracia com as ideias e políticas neoliberais hegemônicas desde a ascensão de Margaret Thatcher e Ronald Reagan. O seu substituto, Gordon Brown, também ideólogo da terceira via acabou sofrendo uma das derrotas eleitorais mais arrasadoras da história do partido.  A proposta foi engolida pelos princípios do neoliberalismo.

No Brasil essa política foi tentada por Fernando Henrique Cardoso e igualmente engolida pelos princípios neoliberais, o resultado todos nós sabemos.

Sobre a “terceira via” a revista francesa Nouvelle Observateur, assim a definiu: “prolongamento vagamente social da revolução thatcherista”.

Esses são os dois lados da política e Eduardo Campos ficou perdido no meio tentando agradar ao mercado e ao social não percebendo que esse titubear já o fez prisioneiro do mesmo setor que Aécio abraça enquanto pelo outro lado navega Dilma.

Redação

16 Comentários

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  1. Show de bola, Assis

    Publiquei o texto no nosso grupo do Facebook, 3º semestre de Sociologia, da FESPSP. A aula de 26/05, de Política 3, foi justo sobre o neoliberalismo. 

  2. As carencias e limites dessa

    As carencias e limites dessa politica de inclusão social estão claras. Para distribuir riqueza e renda é necessario que exista previamente riqueza e renda, caso contrario não há o que distribuir. As politicas keyneisianas dos governos Lula/Dilma esbarram em dois limites: a ineficiencia gerencial do Estado, clara para todos verem no excesso de burocracia que é em grande parte responsavel pela crise de energia que custará caro ao Brasil nos proximos dois anos, 12 usinas medias hidroeletricas que foram leiloadas há 10 anos não sairam do papel por causa da burocracia, poderiamos ter 3.300 MW já produzindos hoje se as usinas estivessem prontas e hoje alem da energia temos outro grave linitador ao desenvolvimento, o saneamento basico 55% do Brasil não  tem esgotos e quase todas nossas PRAIAS que não sejam

    virgens estão POLUIDAS  não se prestam a banho de mar, inclusive no Estado de São Paulo, onde 82% das praias do Litoral Norte são improprias para abnho. No Maranhão a falta de esgotos residenciais é de 91%.

    Não adiante inclusão social sem saneamento, depois vem escola e saude.

    Há outro grave problema, os jovens de 14 a 24 sem escola e semprego e sem nenhuma perspectiva de emprego somam 20 milhões, não há nenhum programa para eles, as estatisticas de desemprego não captam esses jovens, eles não aparecem mas existem e são um gravissimo problema para o qual o PT não tem resposta.

    O Brasil esgotou o modelo muito limitado de inclusão social, falta muito para ser suficiente, falta minima saude e minima educação, isso não foi atingido porque dá muito mais trabalho do que distribuir dinheiro.

    1. Burocracia.

      Prezado AA,

      A burocracia é necessária. Pode até ser maléfica, todavia, sem ela as chances de mal uso do dinheiro público seriam muito maiores.

      1. A burocracia é uma disfunção,

        A burocracia é uma disfunção, o que é necessario é governança , a burocracia como um fim em si mesmo não traz nenhuma constribuição e passa a custar muito mais dinheiro publico do que seu valor economico.

        1. Talvez.

          Eu não me expressei bem talvez. Vejo burocracia como procedimentos formais para que daí advenha um ato administrativo. Por exemplo. Para modificar meu período de férias, preciso da “burocracia” de enviar um memorando para o setro de gestão de pessoas. Para autorizar o uso de rendimentos de um convênio preciso de documentos que comprovem a correta aplicação de recursos pelo convenente. Não pensei na burocracia como um entrave, e às vezes é, para a execução de algum programa, obra ou semelhante.

      2. Desculpe Klaus,
         
        Burocracia

        Desculpe Klaus,

         

        Burocracia não é necessária, ela nasce do espirito de corpo do funcionarismo para se justificar.

        Burocracia gera gastos e esforços desnecessários!

        O que gera mal uso dos recursos públicos é a falta de transparência!

      3. Há uma relação direta entre Burocracia e Corrupção

        Quanto mais burocrático um país maior a chance de corrupção. O fato de ser um emaranhado de portarias, decretos, leis e licenças, tal como no Brasil, não diminui e muito menos impede a corrupção

        1. Depende muito.
          Em obras, por

          Depende muito.

          Em obras, por exemplo. É fácil aumentar a velocidade de execução, mas os custos e a má qualidade aumentam na mesma proporção.

    2. Concordo integralmente!

      Concordo com o Motta!

      Faria ainda um comentário sobre a falta de clareza da política econômica, que concede desonerações fiscais há vários setores, na esperança de obter resultados melhores na economia.

      Creio que não há mais espaço para isso, pois o que se vê é a continuidade da política de desonerações agora com efeitos muito limitados sobre a economia, pouca capacidade de impulsão do crescimento. .

      Saindo do economês para o português, isso não foi abordado no Blog do Nassif ,a conseqüência da política econômica atual está mostrando sua face no ambiente produtivo com os PDV’s e férias coletivas da FORD, GM e Whirlpool que dispensou 33% de sua força de trabalho. 

       

    3. Só que não

      Sobre o número de jovens, cabe dizer que, só podem trabalhar os que tem 16 anos como aprendizes e os que estão acima dos 18, normalmente.

      As vantagens dos programas de assitência, cobram a contrapartida de matrícula e frequência nas escolas, e é esta a questão. A quem interessa manter jovens e crianças trabalhando enquanto hipotecam seus futuros para ajudar a colocar comida na mesa.

      O que se dividiu por meio dos mesmos programas assistencias que você critica, é parte do bolo, da arrecadação de impostos federais. 

      Vejo que não se busca saber que estes gastos representam apenas 10% do que o país paga em JUROS, que beneficiam quantas pessoas ? Compare R$ 20 Bilhões – 14 milhões de famílias contra R$ 200 Bilhões para quantos ?

      E é esta questão da apropriação do estado por rentistas, este modelo neoliberal que busca diminuir o Estado com velhos discursos de funcionalismo público inchado, que, descaradamente após causarem a crise de 2008, volta agora a querer ser entendido como ciência.

      Funcionários publicos são policiais, professores, médicos, bombeiros, juízes, etc. O próprio aumento de cargos na Polícia Federal poderia ser questionado então?

      O que se esgotou no Brasil é o modelo que liberou parte do crédito que antes era direcionado ao rentismo. Pronto, comprou-se um carro, uma geladeira, ou até uma casa.

      Temos um setor agropecuário eficiente até a porteira da fazenda e muito a melhorar em logística. Temos um sistema industrial preguiçoso e travado por anos de câmbio fora do lugar.

      Mas, o que subiu e ainda pressiona preços para cima e desemprego para baixo é o setor de serviços. E este não será tão facilmente deprimido pela alta dos juros.

      Crescimento e produtividade deverão ser as agendas futiras e não um discurso simplório de baixar a meta de inflação para 3%, no braço. Já se perguntou o que precisaria ser feito na macroeconomia para se alcaçar estes números ?

      O que a não utilização de verbas federais a fundo perdido por parte de Estados e Municípios mostra, é que o país não tem e não sabe inciar obras com projetos completos de engenharia. Qualquer que seja o seu tamanho.

  3. Marineiro de plantão…

    Acabou virando um marineiro de plantão.

    E ainda desfilam com aquela mistura de ‘dândi’ com ‘lumpen das ideias’ que é o Eduardo Gianetti da Fonseca.

     

  4. Assis de Machado

    Ja sabemos da “estorinha” verdadeira do pensamento econômico(frisa-se alienígena)  empregado aqui no “quintal” apelidado de Brasil,   respeitando-se, obviamente, as tentativas ineficazes de boas mentes tais como a de  um Prebisch ou de um furtado da vida. Também pudera,  substituir importação fomentando a má distribuição, desvirtuando a essência do que foi pensado,  não poderia mesmo  passar de um bolo grande no bolo que cresceu.  

    Igualmente, já sentimos na pele  quando do surgimento daquele modelo autárquico, bem democrático, aos moldes de um AI-5, ( ou AR- 15, se preferirem) em busca da “eficiência”, do custo versus benefício, tão sonhados nos sonhos brasileiros. 

    Talvez, seja  fruto da atuação recorrente de um poder executivo federal desde os tempos do golpe de   deodoro e da “democrática” conduta de  seu arrojado seguidor  vieira peixoto  , perenizando aquele sentimento “patriota” de poder  moderador patrimonialista. Nem precisaríamos  descer às profundezas do pré 1889 e suas hereditárias capitanias com sua negociação de vidas humanas para compreender bem de onde vieram nossas invasões mercantilistas.

    De qualquer forma, a partir dessa  época o Assis já usava “cronicamente” o seu Machado.

    Dando aquele salto olímpico  a gente chega em 05/10/1988, dia da mulher cidadã brasileira. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo, raça….

    Mesmo ela , toda poderosa, não conseguiu  segurar aquele patriotismo, ops, patrimonialsmo  de sempre.

    Basta lembrar o  golpe da poupança logo ali, tão perto dela.

    Depois, com o devido respeito ao pensador Bresser, presenciamos, mais uma vez, o velho travestido de novo, agora na  versao  agency reguladora em flagrante desrespeito àquela que nasceu em outubro de 1988. 

    E o Assis com o seu Machado continua a agir, agora com mais ênfase.

    Recentemente, o Campos, que não é o Roberto esteve na Roda  que não é a do Chico e se saiu bem perante a turma do picles. Pelo visto, o campos  vai se colocar em prol  do consagrado “analfabeto” mais inteligente que conheço( de longe)  e do sociólogo menos sociólogo que conheço, embora igualmene inteligente.

     

    Já aqueloutro, o “neves” vai na roda morta nesta próxima segunda, mas já sinalizou sua adoração por hayek.

     

    Resta saber quem vai respeitar aquela que nasceu em 1988, cheia de  fundamentais direitos  os quais jamais, repita-se, jamais poderiam ser “negociados” junto ao Senhor dos anéis, ops, senhor mercado.

    E nesse ponto, ainda que com tropeços, somente um  analfabeto soube até agora  ensinar as primeiras lições a vários doutores.

     

     

     

     

     

     

     

     

  5. Por que os neoliberais como

    Por que os neoliberais como Armínio Fraga e Alexandre Sch#$%&@man pregam o aumento do desemprego para fazer voltar o crescimento à taxas de 5% ao ano ?

    É simples. Com um exército de desempregados, os salários e os benefícios dos trabalhadores empregados tendem a cair. Com isto, a expectativa de aumento dos lucros das empresas cresce e, aí, os empresários se sentem mais atraídos para realizar novos investimentos e abocanhar a mais-valia com um menor risco. É assim que eles entendem o significado de aumentar a produtividade e a competitividade. Com o sacrifício das famílias dos trabalhadores.

    O dilema é: crescer mais com mais desemprego ou perseguir uma economia com pleno emprego e menor crescimento.

    Um dia desses ouvi um debate em que um ex-presidente do BC, do Governo FHC, questionava: “por que crescer o PIB à taxas muito elevadas ?”. Ele, surpreendemente, concluia que não era necessário.  Nós não somos a China que tem uma imensa população com enormes carências.

    A maioria da nossa população em idade para trabalhar tem enormes deficiências educacionais, consequência do desmanche do ensino público realizado pela Ditadura Militar, e não há mais tempo para reeducá-la, apesar do enorme esforço feito pelos governos que sucederam os governos militares.

    Não é possível, entretanto, abandoná-la. O custo social seria altíssimo, inclusive empurrando as populações marginalizadas de volta à miséria, com enormes prejuízos, também, para a segurança pública.

    A única alternativa é que sejam habilitadas pelas próprias empresas em que trabalham.

    Medidas e recursos dos Governos (Federal e Estaduais), destinados às empresas, para impulsionar fortemente o treinamento profissional, visando melhorar a habilitação dos trabalhadores e, consequentemente, aumentar a produtividade e a competitividade, deveriam estar nos programas dos próximos governos.

    O lema deveria ser: habilitar os trabalhadores na empresa, no chão das fábricas, dos escritórios, das fazendas e dos hospitais, etc, tendo como contrapartida a permanência desses trabalhadores nas empresas pelo menos o tempo equivalente ao período de treinamento. 

    Esse salto de produtividade e competitividade, oriunda do treinamento intensivo “in loco” e de outras ações nesse sentido, como o investimento em infraestrutura, se daria em 3 a 5 anos, permitindo a reinserção do país nos mercados altamente competitivos.

    Com quase toda a população econômicamente ativa empregada, propiciando o sustento de suas famílias, e sendo treinadas, propiciando a valorização do trabalhador, cresceríamos menos por algum tempo, mas estaríamos criando forças para dar um grande salto para o futuro.

    É preciso, entretanto, acordar um grande pacto social, entre trabalhadores, empresários e governos.

    Tem algum estadista por aí que esteja disposto a propor um grande pacto social que inclua o pleno emprego, o controle da inflação, um salto de produtividade e competitividade e a reforma política ? 

    Eu conheço uma e um. Este último está reservado para 2018.  

    1. Uma (2014) e Um (2018)

      Jorge, 

      Depois do discurso que assisti no 4º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais, no último dia 16/05, tem um Estadista sim, reservadíssimo para 2018. 

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