As eleições polarizadas pela renda

Da Folha

O realinhamento continua

Por André Singer

Prevalece a tendência de os pobres votarem no lulismo e os ricos optarem pela oposição

Até 28 de outubro o balanço é provisório, pois tudo pode mudar na última hora, mas, mantidos os indicadores atuais, o realinhamento de 2006 se mostrará influente no próximo domingo.

Não se trata apenas das conquistas que o lulismo deverá colher em prefeituras com perceptível peso político, mas da continuidade, para além das siglas partidárias, do tipo de divisão social que as eleições têm expressado.

Prevalece, desde então, a tendência de os pobres votarem nos candidatos lulistas e de os ricos optarem pela oposição.

O caso de São Paulo é emblemático. Até sexta passada, na periferia do extremo leste, para cada morador disposto a escolher Serra encontravam-se quase quatro inclinados a sufragar o nome de Haddad, mostrando para onde migrou o voto conservador de Russomanno. Já nas regiões oeste e sul 1, as mais ricas, o tucano tinha maioria.

Mas não apenas em São Paulo -que com 8,6 milhões de eleitores desequilibra o quadro nacional- o sufrágio está polarizado pela renda.

Tal como ocorreu com Dilma em 2010, as camadas de baixo ingresso impulsionaram em Campinas outro candidato sem passagem anterior pelas urnas. Independentemente do placar final, que se prevê apertado, a competitividade do professor Marcio Pochmann (PT) deu-se pela força do lulismo na periferia campineira.

Do mesmo modo, em Curitiba, o ex-oposicionista Gustavo Fruet (PDT) tenta uma arriscada associação com o lulismo para ser ajudado pelos votos dos bairros populares, os quais, no primeiro turno, ficaram com Ratinho Junior.

Há muitos exemplos, mas nada disso significa que a oposição esteja ameaçada de extinção nem muito menos, como vai se falar caso esse cenário se confirme. O êxito de Aécio Neves (PSDB) em Belo Horizonte aponta para uma candidatura presidencial sustentável em 2014.

No entanto, salvo inesperada deterioração das condições econômicas, ele terá que falar a linguagem imposta pelo realinhamento se quiser ser, além de viável, competitivo.

ANDRÉ SINGER, 54, é professor do Departamento de ciência política da USP e autor de “Os sentidos do lulismo” (Companhia das Letras).

Luis Nassif

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