Comandante do Exército se explica sobre ter dito que “infelizmente” Lula ganhou a eleição

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A declaração sobre a vitória "indesejada" de Lula nas eleições, pelo comandante do Exército Tomás Miguel Paiva, repercutiu

Lula e o novo comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Miguel Paiva – Foto: Ricardo Stuckert

O comandante do Exército Tomás Miguel Paiva, em reunião com oficiais militares, disse que “infelizmente” o resultado da eleição, que deu vitória a Lula, foi “indesejado”.

A declaração sobre a vitória “indesejada” de Lula nas eleições, pelo comandante do Exército Tomás Miguel Paiva, repercutiu nesta quinta-feira (01). Paiva teve que ligar para o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, para se explicar.

Três dias antes de assumir o comando do Exército, o general afirmou, em reunião com oficiais militares, que o resultado da eleição, que deu vitória a Lula, foi “indesejado”.

“Não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade [na eleição]. Infelizmente, foi o resultado que, para a maioria de nós, foi indesejado, mas aconteceu.”

A declaração foi feita no dia 18 de janeiro, em encontro do general com oficiais do Comando Militar do Sudeste. A fala foi gravada por um dos presentes na reunião, e divulgado pelo Podcast Roteirices.

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O objetivo, segundo Paiva agora tenta explicar, era ressaltar aos militares que a eleição foi legítima e que não houve “qualquer tipo de irregularidade” na contagem dos votos, como endossonou o ex-mandatário Jair Bolsonaro, incisivamente. Naquele mesmo discurso, o militar defendeu a democracia e disse que era preciso “respeitar o resultado da urna”.

Mas Tomás Miguel Paiva ficou preocupado com a repercussão de sua fala que, ainda segundo ele, foi “tirada de contexto”. Ele ligou para o ministro da Defesa para defender o objetivo da conversa com os militares e dizer que não houve intenção de ofender Lula.

Paiva assumiu o posto 13 dias após os ataques golpistas do dia 8 de janeiro, no lugar de Júlio César de Arruda, que se recusou a cumprir a determinação do presidente Lula de revogar a nomeação do tenente-coronel bolsonarista Mauro César Barbosa Cid.

O novo comandante do Exército foi escolhido por sua boa interlocução com os militares, mas também com o Planalto, sendo próximo do vice-presidente Geraldo Alckmin.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Creio que qualquer conversa “pedagógica” parta da premissa de igualar o seu discurso com o do interlocutor. Ferramentas argumentativas que façam os receptores de nossa conversa nos reconhecerem como pares, funciona muito melhor.

    Não defendo o militar em questão, mas creio que eu mesmo, como progressista que sou, se estivesse tentando convencer/explicar algo aos militares desconfiados sobre a legitimidade das eleições, faria o mesmo. Primeiro lhes daria a impressão que, assim como eles, não estava feliz (por mais que estivesse) com a eleição do Lula, e mesmo assim, não contente, defenderia a democracia e a legitimidade dos resultados.

  2. Nossa Tragédia: a República gastar fortuna para fazer de um soldado raso um general… Aí o generalzinho conspira, agride, desrespeita, enlameia… Falando ou escrevinhando bilhetinhos para o menino do Jornalzinho Nacional declamar…

  3. O contexto desejado pela maioria seria o da manutenção garantida de seus privilégios as custas da maioria dos “paisanos”… Como diz o português: quem não tem competência não se estabelece!

  4. A democracia não apenas deve respeitar, reconhecer e alimentar o livre arbítrio, em todas as suas formas de manifestação, como também não pode permitir, não pode admitir e não pode deixar evoluir qualquer forma de manifestação que extrapole claramente os limites da lei, os limites da ordem e os limites da segurança nacional.
    Seja autoridade militar ou autoridade civil, nenhuma diferença haverá entre ambos e a lei terá o peso igual para qualquer deles.
    Penso que o comandante do exército, general Tomás Miguel Paiva, no encontro com oficiais do Comando Militar do Sudeste, mais uma vez se envolve em polêmicas inadequadas em razão de inadequadas declarações de lamento e insatisfação com a vitória limpa, transparente e incontestável, do presidente Lula.
    Definitivamente, eu não o vejo como o comandante ideal para participar e comandar, com dedicação total esperada, da consolidação da grande maioria dos planos de governo traçados por Lula e sua equipe de campanha.

  5. Isso é indisciplina – um inferior criticar o superior – e ataque à democracia – deixar em aberto a idoneidade do processo eleitoral – e assim deve ser punida. Menos que isso é submissão do poder civil. Simples.
    O tradicional “jeitinho” brasileiro como sempre dará voltas como mosca ao redor da m… e nada faz.

  6. “Não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade [na eleição]. Infelizmente, foi o resultado que, para a maioria de nós, foi indesejado, mas aconteceu”. – Tomás Miguel Paiva, Comandante do Exército. A maioria deles desejava que houvesse algum tipo de irregularidade na eleição? Malabarismo para explicar (e justificar) o que se auto-explica.

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