A mídia usa Quiroga; governos usam IPEA

É fantástico! A candidata Dilma Rousseff afirma que o Brasil poderá erradicar a miséria absoluta até 2016. Com base em quê? Em estudos do IPEA, o órgão do governo criado por Roberto Campos para estudos e diagnósticos sobre o país.

Aí o IPEA divulga seu estudo e o jornalismo esperto da Folha sequer ousa roçar o conteúdo: descobre, com a esperteza típica dos grandes repórteres farejadores, que o estudo foi divulgado no mesmo dia em que Dilma inaugura comitê. Cada dia de campanha tem um evento. Qualquer dia de divulgação do estudo poderá ser associado a qualquer evento de campanha. E garante-se a manchete e o ridículo.

Governos racionais se baseiam em estudos do IPEA, IBGE, FGV, Unicamp, USP, Embrapa.

A mídia prefere o polvo da Copa ou o astrólogo Quiroga.

Da Folha

Ipea detalha dados que fundamentam promessa de Dilma

Ligado à Presidência, instituto divulga pesquisa sobre pobreza no mesmo dia em que petista inaugura comitê

Órgão nega que estudo ou divulgação tenham relação com campanha; números gerais já foram lançados em janeiro

RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA

Vinculado à Presidência, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulga hoje nova abordagem de estudo cujos números gerais, tornados públicos em janeiro, balizam uma das principais promessas da candidata do PT ao Planalto, Dilma Rousseff: erradicar a miséria extrema do país em dez anos.

Horas depois da divulgação do Ipea, que ocorrerá no Rio de Janeiro, o PT fará em Brasília um evento com todos os seus aliados para inaugurar o principal comitê de campanha de Dilma.

No estudo de janeiro, o Ipea diz que, se projetados para 2016 os melhores desempenhos observados de 2003 a 2008 na diminuição da pobreza, o “Brasil pode praticamente superar o problema de pobreza extrema” e alcançar uma taxa de pobreza absoluta de apenas 4%.
O Ipea usa como critério para pobreza extrema e absoluta as famílias com renda per capita de até R$ 127,5 e R$ 255, respectivamente.

PROMESSA

Desde que deixou a Casa Civil para se dedicar à pré-campanha, em abril, Dilma tem repetido a promessa, baseada nos dados do Ipea.

“Acredito que o prazo de 2016 [para erradicação da miséria extrema] é viável, mantido o padrão do governo Lula. Nossa meta pode ser ainda mais ousada. Só não vou dizer qual porque, se passar dois dias sem cumpri-la, vão dizer: “Não cumpriu a meta'”, disse, em maio.

Dias depois, na Bahia, a ainda pré-candidata cravou uma data: 2014.

O Ipea argumentou ser válida a nova divulgação pois estratificará as projeções por regiões e por Estado, além de traçar um paralelo entre crescimento econômico e diminuição da desigualdade.

A assessoria do órgão negou que o estudo ou a sua divulgação tenham relação com campanha política ou com candidatos.

Os dados serão divulgados pelo presidente do Ipea, o economista Marcio Pochmann, que é ligado ao PT e foi secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da gestão de Marta Suplicy (PT) em São Paulo (2001-2004).

Em maio, a Folha mostrou que Dilma e o Planalto promoveram ação casada na montagem de alguma das principais propostas da pré-campanha, como a do combate ao crack.

A ideia de mobilização nacional contra a droga foi defendida por Dilma e, 40 dias depois, surgiu como programa oficial do governo. 

Luis Nassif

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