Globo quer se apropriar da política econômica de Lula, por J. Carlos de Assis

A obsessão contra o déficit público faz parte do principal mantra dos defensores da especulação financeira desenfreada, em tempos de globalização

Globo quer se apropriar da política econômica de Lula

por J. Carlos de Assis

O editorial do Globo desta sexta-feira, dia 4, adverte que “Governo Lula não deve ter uma nova licença para gastar”. E acrescenta, no tom autoritário e arrogante característico dos Marinho: “Eleição não foi uma autorização para criar despesas sem limite, nem para aumentar a carga tributária”.

Peço licença aos donos do Globo para sustentar a opinião oposta. Se há um recado claro das urnas é que as eleições vieram para afirmar a “licença para gastar” em projetos de interesse público, inclusive pela inclusão dos pobres no orçamento. Foi o que prometeu Lula em sua campanha, o que o povo aprovou e o que ele vai fazer.

Quanto à advertência adicional de que a eleição “não foi uma autorização para criar despesas sem limite, nem para aumentar a carga tributária”, trata-se de outra farsa das classes dominantes. Se tivéssemos uma política fiscal menos restritiva e estúpida, poderíamos de fato ampliar gastos sem criar tributos, recorrendo à Teoria Monetária Moderna. Mas isso seria injusto do ponto de vista distributivo, pois deixaria de fora da tributação os US$ 30 bilhões que os Marinho têm em paraísos fiscais enquanto outros milhões de brasileiros estão passando fome.

A ampliação do gasto público por simples criação de moeda é da essência da Teoria Monetária Moderna, quando o país dispõe de suficientes recursos internos como matérias primas ou insumos, ou pode comprá-los no exterior. Mas os neoliberais insistem em rejeitá-la. Não há nenhum risco inflacionário nisso. De fato, se o Estado brasileiro cria a própria moeda, e garante o valor da moeda com a tributação, ele não pode quebrar. Pode, sim, em certas circunstâncias, gerar inflação, mas isso apenas quando o déficit público se destina a financiar projetos ruins e improdutivos. Havendo planejamento adequado de investimentos bons o risco dos projetos cai, a produção/oferta ultrapassa a demanda, e não há desequilíbrio inflacionário. É assim que as economias crescem.

 A obsessão contra o déficit público faz parte do principal mantra dos defensores da especulação financeira desenfreada, em tempos de globalização. O manejo do déficit pelo aumento da taxa de juros é a forma de alimentar o que chamo de “economia da especulação” em face da “economia da produção”. Quando, em nome do equilíbrio orçamentário, do superávit primário ou do teto de gastos o Estado gasta o que arrecada, ou até menos, retira-se dinheiro da economia, a produção cai, a taxa de juros tende a subir e o câmbio, a cair. O resultado é estagnação.

A situação oposta é quando se realiza um “saudável” déficit orçamentário. Ele ocorre quando esse déficit corresponde ao financiamento de bons projetos conduzidos direta ou indiretamente pelo governo. Esses bons projetos geram produção e oferta, e mais oferta atende aos requerimentos da demanda, contrapondo-se à inflação. É o mais antigo princípio da economia: a inflação é um desequilíbrio entre oferta e demanda, não um problema monetário, como sustentam os monetaristas e os neoliberais. Para estes, combater a inflação é reduzir a demanda e a quantidade de moeda em circulação, gerando desindustrialização e desemprego. Já para os desenvolvimentistas, combater a inflação é aumentar a produção e a oferta!

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Redação

3 Comentários

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  1. Só faltou pedirem Joaquim Levy na Fazenda. As políticas econômicas defendidas pelos Marinho, adotadas pelo governo Dilma 2 em uma inútil tentativa de distensão com as classes dominantes, são um dos motivos de termos nos metido no buraco em que estamos. As políticas de austeridade são os arautos do populismo de extrema-direita, mas esses engomadinhos arrogantes, que pensam apenas com o bolso, parecem ainda não ter entendido isso. Xô!

  2. Desculpe-me , não teve “recado claro” , Lula venceu por uma margem pequena , ainda que concorde que a questão do déficit é o mercado (financeiro) querendo vida fácil dos juros.
    “nãosepodegastarmaisquearrecada” , virou quase uma reza.

  3. Essa é a nossa grande batalha nessa guerra de 4 anos e os Marinho já traçou a sua linha vermelha. Não se deixem enganar com os comentários laudatórios da GN, é no JN que a guerra acontece e nós temos que derrotar a familícia midiática.

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