Le Monde mostra que dificuldades no segundo turno são grandes, mas desafios de governabilidade são maiores

Segundo o jornal francês, o desafio de Bolsonaro é conseguir votos na classe trabalhadora, que estava em grande parte com Lula no primeiro turno.

Lula na Band – Ricardo Stuckert

O jornal francês Le Monde também trouxe a eleição brasileira para a manchete de seu site. “Eleição presidencial no Brasil: as apostas de um segundo turno muito mais apertadas do que o esperado” é a manchete da matéria de Juliette Benezit.

O jornal evidencia um país profundamente dividido em que a eleição promete ser de alta tensão e com resultado incerto, visto que no primeiro turno os resultados embaralharam as cartas com um resultado fora do previsto, que era Lula eleito.

No primeiro turno, diz o Le Monde, Lula atacou o adversário ultraconservador sobre a gestão na crise sanitária, do colapso econômico do país e do desmatamento da Amazônia. Isso lhe deu 48,3% dos votos, mas não a vitória no primeiro turno.

O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, frustrou as previsões de 43,2% dos votos e, no final do primeiro turno, estava com uma diferença bem menor de Lula, de apenas cinco pontos percentuais.

Para o segundo turno, avisa o Le Monde, Lula carrega de 52% a 54% das intenções de voto e Bolsonaro tem 48% a 46%.

Os comícios foram importantes para a campanha de Lula, com muitos apoios, mas isso ainda é pouco. Mesmo com Simone Tebet (PMDB) hipotecando apoio no segundo turno, ela que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, não fez com que outros integrantes de seu partido a seguissem.

Bolsonaro, por seu turno, recebeu apoios importantes, como Romeu Zema, reeleito governador de Minas Gerais, estado decisivo ao pleito.

Para conseguir apoio do centro e da direita, Lula tem medidas detalhadas que garantem a estabilidade fiscal. Outro ponto desafiador é conquistar voto dos evangélicos, um terço do eleitorado brasileiro e predominantemente da extrema direita.

Lula na ofensiva, da direita ao centro

“Considerado consensual demais no primeiro turno da campanha e tarde nas redes sociais diante das notícias falsas em massa da extrema direita, Lula contra-atacou com virulência à medida que o segundo turno se aproximava. Vários arquivos constrangedores do campo de Bolsonaro foram divulgados na internet por influenciadores de esquerda. Em especial, uma entrevista filmada, concedida ao New York Times em 2016, na qual Bolsonaro evocou sua visita a uma aldeia na Amazônia e afirmou que teria concordado em se entregar ao canibalismo se necessário. Lula usou a imagem do “presidente canibal” em seus anúncios de campanha, antes de ser banida pela Justiça”, evidencia o Le Monde.

Do lado que atingia ainda a campanha de Bolsonaro, diz o jornal, houve ainda a questão da jovem de 14 anos, que Jair teria encontrado e soltou o famigerado ‘pintou um clima’.

Segundo o jornal francês, o desafio de Bolsonaro é conseguir votos na classe trabalhadora, que estava em grande parte com Lula no primeiro turno.

Incerteza no reconhecimento dos resultados

‘O candidato de esquerda, Lula, disse esperar em 24 de outubro que Jair Bolsonaro aceite o veredicto nas urnas de domingo. Em várias ocasiões durante a campanha, o presidente cessante realmente criticou o sistema de votação eletrônica do Brasil e ameaçou não aceitar o resultado’, evidenciou o jornal.

Na disputa por eleitores indecisos, Bolsonaro, no entanto, amenizou sua retórica nas últimas semanas, dizendo que aceitaria o resultado, mesmo que fosse “anormal”. No entanto, uma atmosfera potencialmente tensa após o anúncio dos resultados não pode ser descartada, especialmente se eles forem apertados. Os decretos que o atual presidente assinou nos últimos meses, principalmente sobre a livre circulação de armas de fogo, agravam as tensões.

O desafio pós-eleitoral

‘Quem vencer enfrentará forte oposição. No primeiro turno, quando havia onze candidatos na disputa, 92% dos eleitores votaram em Lula ou em Bolsonaro, refletindo a clara polarização da vida política brasileira’, diz o Le Monde.

‘Em caso de vitória de Lula, este terá, de qualquer forma, que lidar com um Congresso muito conservador. No dia 2 de outubro, além do primeiro turno da eleição presidencial, os brasileiros renovaram todos os membros da Câmara dos Deputados e um terço das cadeiras dos senadores. Na Câmara dos Deputados, o Partido Liberal de Jair Bolsonaro conquistou a vitória, mantendo o primeiro lugar com 99 cadeiras conquistadas. No Senado, conquistou quatorze cadeiras, contra oito do Partido dos Trabalhadores de Lula. Por fim, os eleitores também votaram, no dia 2 de outubro, a renovação de todos os governadores e assembleias dos vinte e sete estados da federação. Aqui, novamente, a extrema direita fez progressos’, mostra o jornal.

‘Se Bolsonaro vencer, vários temores estão relacionados às questões ambientais. O registro do presidente cessante nesta área é unanimemente considerado catastrófico pelos conservacionistas da natureza . Na Amazônia, por exemplo, até o final do ano, cerca de 40.000 km 2  de floresta tropical terão sido arrasados’, conclui.

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Redação

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