A terceira via e o dia depois de amanhã, por Marco Piva

A promessa é que em 18 de maio a autodenominada “terceira via” apresente uma candidatura única. Até os minerais sabem que se trata de um blefe

O dia depois de amanhã

por Marco Piva

“Penso no Brasil e não em mim”. Esta frase pode resumir bem o engodo que quatro ou cinco postulantes à Presidência da República querem enfiar goela abaixo da sociedade brasileira. Autointitulados candidatos de uma almejada “terceira via”, são figuras de baixa densidade política e alta vaidade pessoal. Disputam entre si a primazia da derrota líquida e certa com o único interesse de promover interesses obscuros e de curto prazo. Prometem um grande fato no dia 18 de maio, mas esquecem do dia seguinte.

Isto seria apenas anedótico se não houvesse um componente a mais nessa história: o desesperado engajamento de parte da imprensa nessa lorota de boteco. É impressionante como muitos comentaristas políticos, especialmente os do canal Globonews, se esmeram em louvar o potencial dessa opção que já nasceu morta. Chegam a dizer, como eu vi e ouvi, que “a gente precisa resolver isso logo para apresentar uma solução para o país”. Não, não foi a expressão de um dos candidatos. Foi a voz da própria apresentadora de um dos telejornais da emissora.

O que explica, então, esse engajamento brejeiro e totalmente aberto se não a necessidade de evitar a qualquer custo que Lula volte a presidir o país? Sim, é disso que se trata porque na hora “H” restarão poucas dúvidas da opção política nas urnas de boa parte desses senhores e senhoras que pensam deter as mais brilhantes análises da conjuntura política. Entre auto elogios e permanente troca de afagos entre eles mesmos, esquecem do mais importante: a polarização não é um mal em si e nem é nova. Flamengo e Fluminense, o famoso Fla x Flu, existe há décadas e nem por isso houve uma guerra civil.

O Brasil está numa encrenca muito maior do que o desespero das elites em evitar a vitória de Lula. Esquecem elas e seus súditos da mídia que, ao contrário do que pensam, o país necessita urgentemente de uma pacificação social que somente virá pela figura de um líder que promova o diálogo e o consenso. E vá mais além com a adoção de políticas públicas que induzam a retomada da economia com base num projeto de desenvolvimento socialmente inclusivo. Somente assim, entendendo a complexidade das relações sociais e o desespero – este sim verdadeiro, cruel e real – das camadas mais pobres da população será possível reerguer as bases éticas da nação e garantir a existência da democracia.

Marco Piva é jornalista, apresentador do programa Brasil Latino na Rádio USP e diretor de comunicação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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Redação

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