EUA e França anunciam apoio à oposição síria

Do Estadão

França e EUA forçam união de oposição síria

Andrei Netto

Países do Golfo reconhecem grupo de dissidentes do regime de Bashar Assad como único representante diplomático legítimo de Damasco

França, EUA e os países do Gol­fo Pérsico anunciaram ontem o apoio à nova Coalizão Nacio­nal Síria, órgão que agora reú­ne os diferentes grupos em lu­ta contra o regime de Bashar Assad. A reunião de ativistas ocorreu no fim da noite do do­mingo, em Doha, depois de uma forte pressão de nações ocidentais e árabes, que pro­meteram reconhecer um even­tual governo provisório a ser estabelecido em regiões no norte do país.

As manifestações formais de apoio foram divulgadas ontem, horas após a conferência de gru­pos oposicionistas organizada pe­lo Catar – o país mais ativo no apoio aos rebeldes sírios. O objeti­vo da comunidade internacional era pressionar os dissidentes a se unirem em torno de um só repre­sentante, como ocorreu na Líbia, em 2011. Para tanto, os diferentes grupos enviaram representantes a Doha e negociaram desde a quin­ta-feira, sob a mediação da Liga Árabe. O acordo final resultou na nomeação de um colegiado com representantes civis laicos, lide­res religiosos e mulheres.

O comando da Coalizão Nacio­nal Síria de Forças de Oposição e da Revolução ficou a cargo do xe­que Ahmad Moaz al-Khatib e de Georges Sabra, novo presidente do Conselho Nacional Sírio (CNS), o principal componente da coalizão.

No início da manhã, o chance­ler francês, Laurent Fabius, anunciou o apoio de seu país à organização. Em agosto, o presi­dente François Hollande já ha­via exortado as oposições a se unirem em troca do reconheci­mento diplomático mundial. “Esse acordo se constitui numa etapa maior no processo indispensável de unificação da oposi­ção síria”, disse Fabius, pedindo que a comunidade internacional apoie o grupo. “A França aporta seu apoio para que essa coalizão seja uma alternativa confiável ao regime de Bashar Assad.”

Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Mark Toner, adotou um discurso semelhante. “Esta­mos ansiosos para apoiar a Coali­zão Nacional (Síria), que abre o caminho para o fim do regime sangrento de Assad e para a paz, para a justiça e para democracia, algo que todos os sírios mere­cem.”

Reconhecimento. As seis mo­narquias do Golfo Pérsico – Ará­bia Saudita, Catar, Kuwait, Emirados Árabes, Bahrein e Omã – também reconheceram ontem a coalizão como representante le­gítima do povo sírio. Em lingua­gem diplomática, a mensagem significa que os rebeldes passam a ser os interlocutores oficiais da Síria.

As mensagens de apoio, entre­tanto, não serão suficientes, se­gundo o líder da coalizão. “Ago­ra cabe à comunidade internacio­nal honrar seus compromissos”, afirmou Al-Khatib, que embar­cou ontem mesmo para o Cairo, onde seria recebido pelos repre­sentantes da Liga Árabe. Segun­do Georges Sabra, do CNS, o apoio externo precisa se tradu­zir em equipamentos militares. “Não precisamos só de dinheiro e comida, mas também de armas para nos defender.”

“(A nova coalizão) trata-se de um passo importante no cami­nho da queda do regime”, disse Riad Hijab, ex-primeiro-ministro da Síria que deixou seu país em agosto, em direção à Jordânia.

Para o cientista político Antoine Basbous, fundador do Obser­vatório de Países Árabes (OPA), de Paris, a oposição síria ganha em termos de legitimidade, já que o antigo conselho não tinha contato com os rebeldes em luta no interior do país. “Essa coali­zão reúne agora os homens que conhecem as tropas em luta na Síria, assim como o CNS.”

Em Moscou, a interpretação do acordo de Doha foi diferente. Apoiador do regime, o chanceler Sergei Lavrov convidou a Coali­zão Nacional Síria a “privilegiar o diálogo” com Assad – e não a luta armada. A proposta foi rejeitada pelos oposicionistas.

Luis Nassif

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