Extrema-direita cria ‘onda’ para direcionar debate político, diz Castro Rocha

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Em entrevista ao GGN, historiador e professor da UERJ afirma que estratégia semelhante foi usada na vitória de Trump e no Brexit

João Cezar De Castro Rocha, professor e pesquisador – Foto: Instituto CPFL – Tatiana Ferro/www.tatianaferrxo.com Fotos: Tatiana Ferro

A estratégia criada pelos bolsonaristas na última semana antes do segundo turno das eleições presidenciais não deu certo, mas tornou a disputa mais acirrada do que o imaginado – e tudo graças às redes sociais, como explica o pesquisador João Cezar de Castro Rocha.

“Entre sexta e segunda, bolsonaristas começaram uma tentativa de criar uma onda artificial – onda artificial que levou à vitória no Brexit, e à eleição do Trump e que foi fundamental para o (presidente Jair) Bolsonaro em 2018 – porque nós, do campo progressista, da esquerda democrática, não entendíamos o que estava em jogo”, explica, em entrevista exclusiva ao Jornal GGN.

O início dessa “onda artificial” pôde ser visto na última sexta-feira, quando apoiadores de Bolsonaro começaram a postar em massa textos ligados à virada das intenções de voto no segundo turno – como “está virando, Bolsonaro começa a virar, eis a virada, vai virar, virou”.

“Aí é que nós temos que nos perguntar: qual é o objetivo de uma tal campanha? Eu proponho: o objetivo dessa campanha é, na reta final da eleição – repito, foi assim no Brexit, foi assim no Trump, foi assim em 2018”, afirma Castro Rocha.

“Na reta final da campanha, (o objetivo era) criar um fato que gera um rumor, que escala em uma bola de neve, que se transforma… o que era uma onda artificial se torna fato político real”, ressalta o pesquisador.

Técnica criada por Steve Bannon para atrair indecisos

Segundo Castro Rocha, os gastos da extrema direita com essa estratégia não teriam como foco aqueles que já foram convertidos ou aqueles que votam na esquerda democrática – e sim com os indecisos.

“Não faz sentido gastar tanta energia para assegurar um voto que já está assegurado, que é o voto dos convertidos. Por que é que a extrema-direita faz isso com técnica, com uma técnica inventada pelo Steve Bannon, pela Cambridge Analytica e usada em vários lugares do mundo”, ressalta o pesquisador.

Esse microdirecionamento tem como foco a atuação nas redes sociais, principalmente pelo fato de as pessoas ficarem conectadas nas redes 24 horas por dia. “Sabe o que acontece então, na reta final: de 3, a 4, a 5% dos indecisos tomam uma decisão. A favor de quem? Da onda”, pontua o professor universitário.

“E é por isso que, geralmente, os institutos de pesquisa não tem como avaliar esta onda e é por isto que essas vitórias apertadas surpreendem, porque eles criam essa onda” ressalta João Cezar de Castro Rocha.

Veja mais a respeito de tal estratégia na entrevista exclusiva de João Cezar de Castro Rocha para o Jornal GGN.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. Alô GGN. – O João Cézar de Castro Rocha acabou de colocar no Twitter um fio precioso de 15 parágrafos, que complementa essa entrevista. Vale a pena publicar.

  2. Lembrando a “onda” da campanha de 2018, o Adélio provocou uma marolinha em Juiz de Fora que, de um dia para o outro, se espraiou como um avassalador tsunami em todo o Brasil. Se Bolsonaro fosse sincero, em sua despedida agradeceria ao Adélio pelos quatro anos de mandato que ele lhe propiciou.

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