Golpe na Fiesp, por Roberto Giannetti da Fonseca

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Roberto Giannetti da Fonseca
 
 
Da Folha
 
Diante da crise por que passa a indústria, seriam os atuais integrantes da direção da Fiesp os únicos empresários habilitados a defender o setor?

Os sindicatos patronais associados à Fiesp (Federação de Indústrias do Estado de São Paulo) foram convocados às pressas para comparecer no dia 24 de novembro à uma assembleia-geral extraordinária da instituição. O objetivo era discutir a alteração de seus estatutos para prorrogar o período de mandato da atual diretoria, o qual expiraria legalmente em setembro de 2015.

Em nenhum momento até a data da assembleia foi esclarecida qual seria a obscura motivação para essa medida, que fere a tradição histórica da casa da indústria do Estado de São Paulo, a qual prevê a alternância de direção a cada período máximo de dois mandatos consecutivos de quatro anos cada um.

Haveria alguma crise financeira, institucional ou jurídica não revelada que, por ventura, motivasse legitimamente essa prorrogação de mandato da atual diretoria e o consequente cancelamento das eleições ordinárias previstas para ocorrer entre abril e setembro de 2015?

Diante da crise conjuntural e estrutural por que passa a indústria brasileira, seriam os atuais integrantes da diretoria da Fiesp os únicos empresários habilitados e capacitados a defender os interesses do setor industrial diante dos governos federal e estadual?

Ou seria, por acaso, motivada pelo risco de uma eventual violação dos artigos 46 e 48 dos estatutos que impedem a Fiesp de promover candidaturas a cargos eletivos políticos-partidários estranhos aos seus quadros administrativos?

Em defesa da legalidade dos estatutos da Fiesp levantaram-se algumas poucas vozes de importantes sindicatos de abrangência nacional, que nada ou pouco dependem da Fiesp no seu dia a dia, mas que se sentem ameaçados pela crescente perda de credibilidade da classe empresarial diante da “politização obsessiva e desvairada” da Fiesp nos últimos quatro anos.

Eles insistem que sejam preservadas as determinações estatutárias para a realização das eleições em 2015 para a diretoria e para o conselho fiscal, e se opõem ao golpe de alteração de estatuto ocorrido nesta última assembleia-geral.

Dos 131 sindicatos patronais filiados à Fiesp, apurou-se que 34 não compareceram ou se abstiveram de votar, 5 decidiram votar contra a prorrogação, e pouco mais de 2/3 deles, ou seja, 92 apoiaram a alteração do estatuto.

A prorrogação de mandato foi consumada assim como foram eleitos por votação indireta os generais durante o regime militar. Havia um cheiro de AI-5 no ar e muitos dos votantes cochichavam entre si temerosos da absurda situação que estavam endossando naquele momento. A consciência, no fundo, registra e dói.

No momento em que o país atravessa um quadro crítico de equilíbrio macroeconômico, com ênfase na crescente crise do setor industrial, a Fiesp, pela sua tradição de digna e independente representante da indústria paulista, não deveria aceitar atitudes casuísticas e desmotivadas de razão, que venham a ensejar a perda de credibilidade e de reconhecimento junto à sociedade civil e às autoridades governamentais.

Política empresarial e política partidária não se confundem e têm de atuar de forma isolada. Queimaram-se pontes de relacionamentos dessa instituição com os governos federal, estadual e municipal, assim como com o PSB, PSDB, PT e PMDB. Um feito difícil de ser repetido ou igualado por outrem, no qual seus próprios autores insistem em não reconhecer o seu “mérito”, num caso clássico de autoengano.

Manifesto minha solitária opinião de cidadão, empresário e ex-diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp. Esse é o legítimo sentimento que me move, esperando que no futuro próximo as lideranças empresariais do país se unam nesta manifestação pela defesa da imagem e da legalidade de suas instituições, atualmente tão delapidadas de representatividade.

ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA, 64, economista, é presidente da Kaduna Consultoria. Foi diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (2004-2013)

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Quando isso acontece nos

    Quando isso acontece nos sindicatos proletários a mídia cai em cima, chama-os de vagabundos, interesseiros, usurpadores…

    E nos fazem acreditar que no mundo patronal reina o livre mercado, a concorrência justa e aberta, a democracia… Quá, quá, quá

  2. É impressionante a OMISSÃO

    É impressionante a OMISSÃO dos grandes nomes da FIESP (ou será que não existem mais grandes nomes?) com a tomada da insituição, outrora prestigiosa, por aventureiros sem fabrica, usando a entidade exclusivamente para seu projeto pessoal de poder. A FIESP não é só ela e sua arrecadação (parte do imposto sindical patronal), ela é tambem o imenso volume de recursos do SESI e do SENAI, muito maior que o orçamento da propria FIESP. Tudo isso a serviço 

    oportunistas que querem ser alguma coisa na politica, tanto faz Prefeito ou Governador, a partir da alavanca da Federação. Os grandes lideres da FIESP do passado tinham um sentido de missão em defesa da industria, hoje vemos

    um entidade para jogadas politcas, perdeu completamente a representatividade. Um movimento de união entre os grandes sindicatos patroniais resolveria o problema, mas ninguem quer perder tempo com isso, o esquema de eleição é super conhecido, cada sindicato tem um vo, os chamados “”de gaveta””  são 70% dos votos, basta coopta-los

    com tres tapinhas nas costas e uma garrafa de vinho chileno que os votos dos sindicatos “de roupas brancas para senhoras””, tem tambem o de “roupas brancas para cavalheiros” dão o seu votinho para emporio do quibe.

    É uma vergonha , demonstra o fim da industria paulista, aquela que outrora construiu São Paulo.

    È uma prova inequivoca de decadencia da elite paulista.

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