Jaques Wagner defende candidato aliado para 2018

Do Valor

Wagner defende candidato aliado em 2018

Por Murillo Camarotto | Do Recife

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), deu a entender ontem que não trabalha com a hipótese de volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à disputa pelo Palácio do Planalto. Pelo contrário, o baiano afirmou que o PT deveria considerar a possibilidade de abrir mão da cabeça de chapa na eleição presidencial de 2018, a fim de agregar os interesses dos partidos aliados e manter unido o grupo que vem governando o país desde 2003. O contexto da afirmação foi a possível candidatura do colega pernambucano Eduardo Campos (PSB) à Presidência da República.

“Eu posso falar que em 2018 a gente vai inteirar 16 anos de governo, de um projeto político que tem aliados sem os quais a gente não teria andado e que tem o PT na condução; mas que não tem, obrigatoriamente, que ter o PT na condução”, disse o governador da Bahia. “Isso é uma construção que se faz, mas que passa pelo segundo governo da presidente Dilma [Rousseff], e não por este”, enfatizou Wagner.

Ele lembrou, no entanto, que as cobranças para que o PT abra mão da condução do processo devem ser estendidas a todos os partidos. “O PSDB, na oposição, já abriu pra alguém? Não é próprio de quem está no poder ir abrindo só por generosidade. É próprio abrir por composição política, por entender que é mais importante manter um aliado do que construir um adversário”, ponderou o baiano.

Uma das lideranças mais próximas da presidente, Wagner se disse contrário à estratégia – atribuída a Lula – de oferecer ao PMDB a cabeça da disputa pelo governo de São Paulo para acomodar Campos como vice na chapa de Dilma. “Não sou muito favorável em ficar desarrumando casa pra depois arrumar. Acho que a mesma legitimidade que ela [Dilma] carrega, o Michel [Temer] também carrega. Não acho que a vice interesse ao Eduardo [Campos]. A questão é saber como o PSB estará posicionado na próxima gestão da Dilma. Porque vice não quer dizer, necessariamente, que ele será o candidato a presidente na próxima”, avaliou o governador da Bahia.

Wagner confirmou que Dilma irá trabalhar nos próximos meses para reforçar a base governista, por meio da acomodação do PSD na Esplanada dos Ministérios, da “pacificação” do PDT e do “equacionamento” do PR. “Eu digo sempre que a gente tem que construir essa caminhada agregando para não dar chance aos adversários”, disse o baiano, que participou, no Recife, de um seminário promovido pela revista “Carta Capital”.

Antes dele, o governador de Pernambuco também esteve no evento. Campos voltou a criticar o que chamou na semana passada de “velha rinha” entre PT e PSDB. Ao palestrar sobre o desafio de manter a economia nacional crescendo nos próximos anos, o pernambucano se queixou do debate “chato” entre petistas e tucanos.

“Essa discussão não pode ser chata, uma discussão do Brasil contra o Brasil”, afirmou Campos, que se diz preocupado com o desempenho da economia neste ano. “2011 foi pior que 2010 e 2012 foi pior que 2011. 2013 não será melhor se apequenarmos a discussão política no país. Não precisamos discutir o Brasil da próxima eleição, mas o Brasil da próxima década”, alfinetou.

O pernambucano reconheceu os méritos do PSDB na estabilização da economia e do PT, no combate à pobreza. Disse, entretanto, que é preciso pensar agora nos próximos passos: garantir a qualidade dos serviços públicos e reduzir as desigualdades regionais. “É exatamente esse o debate que se tem que fazer em 2013”, completou o governador.

Com ares de candidato, Campos disse que a estabilização da moeda e o controle da inflação, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, foram importantes para a população, mas não foram capazes de reduzir a desigualdade social. Já os programas sociais e os reajustes reais no salário mínimo, durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, reduziram a pobreza, mas não conseguiram mexer na desigualdade entre as regiões do país.

Na sua avaliação, o governo federal não tem uma política de desenvolvimento regional, mas apenas iniciativas isoladas. “Há fundos, políticas setoriais para a região, um esforço feito pelo ex-presidente Lula para definir uma política, mas que não se transformou em um sistema que crie, na institucionalidade brasileira, uma política que não dependa do governo A ou B, mas que seja uma conquista do país.”

Questionado sobre as declarações de que lhe faltam “visão e estrada” para ser candidato a presidente, feitas pelo ex-ministro Ciro Gomes (PSB), o governador de Pernambuco preferiu não polemizar. Disse apenas que discorda do colega de partido e que a opinião de Ciro não reflete a posição do PSB. “Isso é uma opinião que ele vem dando há algum tempo. Não é nenhuma novidade”, afirmou Campos.

Os irmãos Gomes são os principais opositores da candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República no ano que vem. Esta semana, Cid se reunirá com Lula em Fortaleza, onde será realizado o segundo seminário em comemoração aos 10 anos de PT no governo. O encontro é visto com ressalvas no Recife, pois poderia expor uma tentativa de Lula de rachar o PSB e prejudicar a postulação de Campos.

O pernambucano, porém, não especulou sobre eventuais retaliações aos Gomes. “O partido é democrático, as pessoas têm direito de fazer o debate. Esse debate vai ser travado no tempo certo e nas instâncias certas, que é quem decide”, afirmou. Sobre uma eventual saída dos irmãos Gomes do PSB, uma fonte do primeiro escalão do partido alfinetou: “O problema é que não os querem em canto nenhum”.

Luis Nassif

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